Glauce que eu conheci
Oscar Araripe
A
sensibilidade de Glauce chegou-me acidentalmente – foi numa segunda, à
tardinha, na praia vermelha. Ao lado daquela escultura pensativa de Chopin,
voltada para o mar, como se estivesse representando uma longa pausa. Tempos
depois, numa campanha em favor da Casa dos Artistas lembramos do encontro e
Glauce contou-me que, vez por outra, ia àquele local, em busca de paz, quando
se sentia só representando.
Entretanto na sua solidão inexistia atitude de
individualidade. Seu esforço era pela dignificação de sua profissão. Nada mais.
Quando liderou a campanha de auxílio à Casa dos
Artistas, uma das inúmeras crises de subsistência dessa entidade, Glauce
dividia-se entre o gesto para a ação imediata e a certeza de que o desamparo do
artista somente desapareceria com o reconhecimento oficial.
Um dia surpreendeu-me ao vêla eleita Rainha das Atrizes. Minha surpresa fôra
tola. Glauce sem que eu pedisse, explicou-me que como Rainha melhor poderia defender seus pontos de vista e dar através do
título, maior prestigio ao baile e consequentemente ajudar materialmente
àqueles colegas em dificuldade.
Acreditava, ainda, que o título poderia melhorar a
“imagem” da atriz, da profissão que era a sua e pela qual tinha um misto de mêdo
e amor.
Conversávamos uma dezena de vezes sôbre o teatro em
geral e o nosso brasileiro. Glauce via na “crise” uma saída para a criatividade,
embora não acreditasse que toda a crise do teatro dependesse da criatividade
dos que o faziam.
Raciocinava como um culturalista lúcido, do século
XX – a cultura seria responsável por um maior interesse pelo teatro, mas não
era algo que se acumulava com o tempo, “como os desejos das espaçonaves na
lua”, mas sim alguma coisa que implicava numa decisão global, numa opção madura
de um Estado, na coexistência geral de sua importância. Dela ouvi muita vêzes,
a expressão “democratização cultural”. Tenho certeza de que Glauce teria muito
mais a dizer sobre isto.
Lembro-me de uma vez em que conversávamos sobre Um Uísque para o Rei Saul, um monólogo
que Glauce levou pelo interior do Brasil e que lhe valeu um Prêmio Molière como melhor atriz.
Glauce não tinha empresário naquela época e, sozinha, só podia empresar a si
própria. Saíra-se de uma experiência muito importante porque acreditava que
tinha encontrado um público muito vivo pelo interior do país. Queria um teatro
que fôsse épico, popular, legível, inteligente e vivo e disse-me que o Rei Saul talvez lhe tivesse indicado,
definitivamente, êste caminho.
Uma outra vez, numa entrevista, perguntei-lhe:
– E Electra, Glauce?
– Electra é passado, um pouco de
presente de todo nós.
Esta foi a Glauce que conheci, o pensamento e as
frases que ficaram. Reflexiva e poética, profissional e líder, sensível a tudo
e inquieta. Uma grande atriz. Mais do que isto – completa aos trinta e oito
anos.
Apud Oscar Araripe
Escultora\criação de Augusto
Zamoiskl (1944) Esboço de imagem\reprodução minha |
“Faço questão de manter o vocabulário e a gramática característica da escrita original no Jornal | Década de publicação (1970)” Lúcio Leonn.
Fonte consultada:
AUGUSTO RODRIGUES. Oscar Araripe: Glauce que eu conheci - ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, Ano I, n. 8, p.3, dez. 1971. Acervo pessoal (periódico)Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn. Transcrição literal
Vide também
SÉRIE 3MULHERES: MEMÓRIAS
Fonte consultada:
AUGUSTO RODRIGUES. Oscar Araripe: Glauce que eu conheci - ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, Ano I, n. 8, p.3, dez. 1971. Acervo pessoal (periódico)Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn. Transcrição literal
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Oscar Araripe editou conjuntamente, com Augusto Rodrigues, o
jornal Arte & Educação.
Imagem (Copyright © - 1999-2017 - Oscar Araripe)
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Oscar
Araripe é escritor e pintor brasileiro. Trabalhou como jornalista, escritor, ator e crítico teatral.
Visite site Oscar Araripe_ disponível em: http://www.oscarararipe.com.br/
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Sinalizo, que: “Duas peças de Eugène
Ionesco foram apresentadas com a colaboração da EAB: “A Cantora Careca” (La Cantatrice Chauve) em 1957,
com Luís de Lima e Glauce Rocha à frente do elenco, no Teatro de Bolso e,
posteriormente, Teatro Mesbla. Em 1960, foi a vez de “As Cadeiras” (Les
Chaises) no Teatro de Copacabana, contando com a participação de Augusto
Rodrigues no papel de orador, com elenco encabeçado por Lima e Camila Amado.
Luís de Lima, diretor e ator de teatro foi professor de mimica da Escolinha e
muito amigo de Augusto”. (Texto do livro 60 anos de Arte-Educação, através da Escolinha de Arte do Brasil. Org: Jader de Medeiros Britto. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008, p.214), Visite site Oscar Araripe_ disponível em: http://www.oscarararipe.com.br/
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[Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn].
Vide também
SÉRIE 3MULHERES: MEMÓRIAS
*Memória 1 - ATRIZ Brasileira Glauce Rocha: uma militante acima de tudo, humana. Disponível em: http://notasdator.blogspot.com.br/2016/05/glauce-rocha-uma-militante-humana.html
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