domingo, 5 de julho de 2009

“AMELIA”, via DvD, de Edouard Lock: a Multimídia personifica obra da Cia. La La La Human Steps, (fundada em 1980).

por Lúcio José de Azevêdo Lucena

"No cinema a imagem que vemos na tela também passou por um texto escrito, foi primeiramente ‘vista’ mentalmente pelo diretor, em seguida, reconstruída em sua corporeidade num set, para ser finalmente fixada em fotogramas de um filme. (...) Esse ‘ cinema mental’ funciona continuamente em nós – e sempre funcionou, mesmo antes da invenção do cinema – e não cessa nunca de projetar imagens de nossa ‘tela interior’ ”. (Maria Isabel Leite, (2004) apud Italo Calvino, p.104.).


Imagem acima, (reprodução), Amélia, de Edouard Lock, (Canadá), 2002.
Ao assistir o vídeodança AMELIA, de Edouard Lock [Cia. La La La Human Steps], via DVD, a gente se pergunta: a câmera está a serviço dos intérpretes na representação de cenas; de coreografia bastante expressiva ou, os intérpretes estão em maestria (destreza, habilidade e competência), a serviço de planos, de localização da câmera em espaço ambiente (cenário/set), ora, em captação e recepção de imagens, por suportes fixos, outrora, manual?
Mas, não é nada disso que, gostaria de aqui apontar! Há uma sincronia perfeita. A câmera, enquanto linguagem em vídeo comunica seus elementos constitutivos e de interfaces na Dança, (vídeo, como elemento de criação/vídeodança).
Outro olhar é de estratégias, adaptação de cenas e de execução entre ambas as linguagens. Revela uma criação de dança para câmera. – Transposição. Assim, como o recurso tecnológico e da informática na Arte: a multimídia personifica a obra.
Ao revisitar alguns pensamentos, reencontro o seguinte dizer:
“(...) a manipulação computacional da imagem ou processamento da imagem implica o poder do computador para produzir mudanças até mesmo em imagens que não foram originalmente criadas dentro dele. Assim, imagens previamente existentes, como fotos, reproduções fotográficas, filmes e vídeos, são digitalmente armazenados no computador para serem trabalhadas em uma multiplicidade de modos possíveis, desde a edição e intensificação da cor até a indetectável adição, rearranjo, substituição ou remoção de certos traços ou partes da figura”. (Por que as comunicações e as artes estão convergindo? Segundo Santaella, (2005). Capitulo: as afinidades & atritos entre fotografia e arte, p.28.). Da concepção visual do filme está a alicerçar entre o cenário fechado (in) e não há o campo externo (out). De antemão, uma perspectiva em diagonal e ao fundo. Um ângulo, como um contra-plongée, do teto, suspende o espaço físico e nosso olhar sob a dança.
Já o desenho coreográfico criado para câmera, logo de inicio – resulta num jogo de sombra, dum corpo em ato parado - para iniciação de créditos. Em seguida, o recurso slow motion. Anuncia-se, assim, a presença de gênero em dança, a dois, (feminino/masculino). Também, se percebe sempre adiante, um jogo de dança dual entre os gêneros e de tempo em dança, num espaço solo e coletivo.
O espectador exerce uma posição de observador visual, a partir da ilustração: corporal e iconográfica - imagens de perspectiva/vista do alto. O corpo em sombra e de posicionamento da câmera em solo (pés da intérprete).
Mais, uma vez:
O vídeo também produz uma sensação de intimidade e de extensão do gesto do artista, uma gestualidade até então associada à pintura, especialmente ao expressionismo abstrato na sua ênfase do ato físico de pintar. Com o vídeo, o gesto do artista podia ser registrado e seu corpo observado no próprio ato de criar. Esse foi um outro fator responsável pela entronização relativamente rápida do vídeo nos ambientes artísticos. Um fator adicional para isso encontrava-se ainda no uso do monitor como uma escultura”, (idem. Capitulo: o vídeo & as artes, p.54.).

Continuando, surge um travelling de cima para baixo em 3-D: enquadramento do corpo inteiro. Movimento de câmera em posição linha horizontal/dimensão ao fundo de cima (corpos) para o nível baixo e de acompanhar o salto, de reconstruir imagens em justaposição e de congelamento (imagem: i/móvel), em terceira dimensão, para anunciar um corte por meio da tela escura.
Percebe-se a visualização da mesma imagem de salto congelado, em composição, de diversas possibilidades de ângulos e de “ajustes”, de câmera/edição – imagens (re)construídas em corpos e em movimentos sustentados.
As cores utilizadas, bem como, a direção de arte, fazem uso (figurino) de cores neutras (branca, preto e cinza), até frias e quentes (no cenário). O claro e o escuro, o âmbar, pelo jogo de luz de cena.
(Imagem, idem).
O ritmo da edição/câmera segue em enquadramento, a partir do corpo da intérprete em paragem (reconstrução de imagens) e por vezes, cortes de imagens de forma brusca, até criar em outros planos, possibilidades de visão e, de movimentação coreográfica.
Logo, “O tratamento eletrônico de imagens em mesas de edição de vídeo, técnicas de computação gráfica, criações com imagens sintéticas não é mais resultado do olhar de uma câmera, como no caso da fotografia, cinema ou vídeo. As imagens são geradas por diversas técnicas e procedimentos através de botões e comandos de recursos eletrônicos. As imagens vivem uma poética da metamorfose em montagens sucessivas. Montagem é um deslocamento constante de idéias construídas por espaços e tempos arbitrários a partir das tecnologias e seus bancos de dados”. (In Tecnologias, produção artística e sensibilização dos sentidos. Subtopico: Arte e tecnologias eletrônicas: vídeo e computador nas criações, (Domingues, 1999), p. 49.).
Por fim, em momentos, a câmera localiza e comunica para nós, os intérpretes em primeiro plano da tela. Há justaposição de imagens (fundo e, o 1º plano). E, anuncia a entrada e percurso do bailarino ao seguir em movimentos no grupo/área grupal. Ela protagoniza e recria, como disse antes, um duelo de jogo videográfico (entre os intérpretes/nos movimentos coreográficos/no telespectador), percorre por meio de corte e retorno de edição, da computação gráfica ou planos bi e tridimensionais.
Outrora, a câmera pontua um silêncio de imagens e de luz cênica. Logo, se perpetua entre nossos olhos de telespectador a magia de imagens em efeitos especiais. Aguça e reinventa os sentidos perceptivos do corpo, na Dança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PILLAR, Analice Dutra (org.). A Educação do Olhar no Ensino das Artes. In Tecnologias, produção artística e sensibilização dos sentidos. (Subtopico: Arte e tecnologias eletrônicas: vídeo e computador nas criações. Apud Diana Domingues, p.49.) - Porto Alegre: Editora Mediação (Cadernos de Autoria), 1999.

SANTAELLA, LÚCIA. Por que as comunicações e as artes estão convergindo? – (Coleção questões fundamentais da Comunicação; 5/coordenação Valdir José de Castro). São Paulo: Paulus, 2005.

FONTES CONSULTADAS
COSTA, Cristina. Questões de Arte: a natureza do belo, a percepção e do prazer estético. 5ª impressão, Editora Moderna (Coleção Polêmica). São Paulo: 1999.

DORFLES, Gillo. O Devir das artes / Gillos Dorfles; tradução Píer Luigi Cabra; revisão da tradução Eduardo Brandão. - (Coleção A). - São Paulo: Martins Fontes, 1992.

MEIO ELETRÔNICO
DVD / AMELIA, de Edouard Lock, (2002). Acesso em: janeiro 2009.
Atividade de Conclusão do Módulo: Dança e Vídeo - Eixo Temático: Interfaces, ministrado pelo professor Marcus Moraes, de 03 a 08 de novembro de 2008. Curso de Extensão Dança e Pensamento. Aluno Lúcio José de Azevêdo Lucena-Lúcio Leonn. Escola de Dança da Vila das Artes/Secultfor, parceria Universidade Federal do Ceará (UFC).

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