domingo, 28 de dezembro de 2008

Análise via D v D: Performance "SU" – Ohad Fishof [ISRAEL] (2006)-Dança e Mídia. P-HOUSE (Tókio). Criadores: Ohad Fishof, Yuzo Ishiyama, Saori, So Sa

por Lúcio José de Azevêdo Lucena

“A tecnologia aproximou essas áreas [arte/ciência/indústria] da ação humana numa nova integração, e arte técnica, em especial a informática, aproximou de forma dominante os campos artísticos. A multimídia, integrando imagem, som e texto, promete pôr abaixo quatro séculos de isolamento e autonomia das linguagens artísticas”.- (Cristina Costa, 1999), grifo meu.

O que dizer da inter-relação (visual/sinestésica/robótica) entre o Homem e a Máquina? Tal indagação não se trata de apontar respostas do passado, num déjà-vu, mas do momento da visão de mundo contemporâneo – possibilidades de interfaces e, do ponto de vista em campo virtual de hoje.
Especificamente, em análise via DVD (Performance “SU” -Dance and Media 2006/ LIVE from Israel. OHAD FISHOF [ISRAEL]), é perceber o Mundo da Dança e o contato da era tecnológica, da Arte/multimídia. “E, com o surgimento de novas tecnologias, a dança ganha mais espaço alternativo: o espaço virtual, ou seja, a tela do aparelho de TV, dos computadores, das máscaras virtuais. Assistir a uma dança em um programa de TV ou em vídeo é bem diferente de vê-la no espaço real, pois a falta de contato altera nossas sensações. Isso não quer dizer que não sentimos nada, mas as sensações e os sentimentos são provavelmente bem diferentes” (As danças virtuais, Coll e Teberosky (2004), p.168.).


(Imagens, de “SU” – reprodução.)

"Su", é uma colaboração com Ohad Fishof, (artista israelita e interdisciplinar). Sua estréia aconteceu em Tókio, (abril de 2006). A platéia permanece durante a cena sentada ou em pé, numa sala bem intimista, lá é o centro da apresentação. Em momentos da performance, os intérpretes adotaram a improvisação como dança e usufruem diversas formas de movimentos abstratos –físico e virtual – procedentes até então, da interação entre eles dançarinos e das máquinas (robôs, enquanto partners).

“Demorou muito tempo para a improvisação ser considerada uma forma de dança na história da dança ocidental. Antes da década de 1960, pensava-se que a dança enquanto artes representava somente movimentos e passos prontos, já criados por alguém para serem imitados copiados e reproduzidos, e que improvisação significava simplesmente 'fazer qualquer coisa'”. (A improvisação em dança, idem, p.163).

Por outro lado, de início de cena, câmeras de vídeo processam imagens e de som para a criação e captação dum espaço que torna o Todo Virtual; campo de sentido sensorial (a luz - o som/off - o olhar – ouvir-sentir) e, de levar pensamentos à platéia pela criação e execução/repetição de texto imagético (em off-machine):
How many... People... Write now... At this moment or... Listenig (or...) to the radio. Why doing the moon walking... And thinking... Of their own intellect?”
Os robôs também estão submetidos à personificação do público porque são visto ao lado de humanos que estão a dançar com um estilo mecânico de movimento. “A essência de toda música é a criação de um tempo virtual e, sua completa determinação de movimento de formas audíveis”. Segundo Dorfles, 1992, (sucapítulo imagem musical e imagem mnêmica - a música, p. 133) apud a hipótese de Susanne Langer, (“Virtual realm of Power”, p. 178, em: A Dança - O corpo e o gesto como instrumentos estéticos.).

(Imagem acima/reprodução):
“(...) this was their only form of interaction other than perhaps an emocional one as two toy-sized robotic boxes glided around the space pausing in front of the spectators occasionally as if to address them”. (Centre des Arts Enghien – Les –Bains/October, 2007.)
Percebe-se também na obra, por trás da cena, mesmo os intérpretes em dança-solo, há todo um aparato tecnológico como suporte de captação, mixagem, transmissão, realização/repodução e recepção. Não é só uma criação, mas várias que se desdobram e se complementam por elementos constituintes de cada linguagem - a partir duma ação técnica/inovadora ou, na fisicalização de cenas (antes, em forma de pensamentos) do agente criador/idealizador. É um trabalho em/de equipe.

Então, esse é um diferencial a mais na dança hoje aliada às novas tecnologias; é um processo de criação coletiva; de apresentação inaugural e de recepção em espaço virtual, mas que sucede sempre, acontece hic et nunc (aqui e agora). E, não mais ao cargo de uma só pessoa criadora/Intérprete. “Desde sempre, o artista desempenha a função de convocar o olhar para o que antes não era visto. (...) A tentativa é encontrar tecnologias capazes de introduzir a arte em domínios não antes explorados para corporificar novos modos de expressão artística capazes de criar impactos.” (Convocações multissensoriais da arte do século XX. Segundo Oliveira (1999), subcapitulo: o Artista, ainda um demiurgo, pp.91-92.)

(Imagem, idem)
No entanto, faz-se importante entender o código (seja da linguagem artística ou de meios tecnológicos da informação e comunicação/multimídia). “Assumindo essa tarefa, o artista quer absolutamente re-humanizar os homens: re-colocar as tecnologias a serviço da humanização. As tecnologias, elas mesmas re-humanizadas pelos modos e fins como a arte delas se serve. Uma vez mais, o artista usa o existente para inserir nele fórmulas com poder de surpreender. O ensaio é global. Servindo-se da superfície terrestre como matéria, o criador proclama, com seu gesto, se arte o que antes não era. No seu traço fugidio e ínfimo, ele dá visibilidade a um aspecto da até então invisível paisagem”.(Idem)

Para finalizar, penso que a comunicação do objeto em cena suscita a instauração e domínio de situação. É dose a surtir efeito; de mobilizar conhecimento científico; uma vez encaminhada toda à idéia se manipula e se (re)organiza com precisão. E, com criatividade; apresenta uma solução viável, urgente e cabível.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLL, César e Ana Teberosky. Aprendendo Arte - Conteúdos essenciais para o Ensino Fundamental. 1ª edição, editora Ática. São Paulo: 2004.

COSTA, Cristina. Questões de Arte: a natureza do belo, a percepção e do prazer estético. 5ª impressão, Editora Moderna (Coleção Polêmica). São Paulo: 1999.

DORFLES, Gillo. O Devir das artes / Gillos Dorfles; tradução Píer Luigi Cabra; revisão da tradução Eduardo Brandão.- (Coleção A).- São Paulo: Martins Fontes, 1992.

PILLAR, Analice Dutra (org.). A Educação do Olhar no Ensino das Artes. In: Convocações multissensoriais da arte do século XX. (Subcapitulo: Artista, ainda um demiurgo. pp.91-92), de Ana Cláudia de Oliveira. Porto Alegre: Editora Mediação(Cadernos de Autoria), 1999.

MEIO ELETRÔNICO
DVD / Dance and Media 2006/ LIVE from Israel. OHAD FISHOF [ISRAEL]. Acesso em: maio. 2008.

DOCUMENTOS DE ACESSO DIGITAL
Dance and Media Japan - Creative Collaborations between contemporary dance, theater and media art(SITE). Disponível em: http://www.dance-media.com/english/dance_and_media.htm -Acesso em: maio de 2008.

YUZO ISHIYAMA / Centre des Arts Enghien – Les –Bains. Disponível em: http://www.cda95.fr/integral.php?docId=203099 - Acesso em: maio de 2008.

Avaliação de conclusão-módulo “Dança e Novas Tecnologias”, Curso de Extensão Dança e Pensamento. - realizado de 07 a 12 de abril de 2008 -, ministrado pelo pesquisador, Armando Menicacci.
Aluno: Professor Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn.

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