sábado, 20 de dezembro de 2008

Marilena Chauí convida. Vamos?

(RESENHA)

[Imagem fragmentada/reprodução (obra renascentista): "La Gioconda- Mona Lisa", (1502)- Leonardo da Vinci.]

O que dizer da eterna novidade do mundo? Chama-se arte? E, Alberto Caeiro/Fernando Pessoa, nos responde. Sua questão, é a mesma que procura os pintores: Monet, Cézanne? Sob argumentos artísticos e escritos filosóficos de Merleau-Ponty, Gaston Bachelard, Sartre e Walter Benjamin, encontramos diversos caminhos e de respostas possíveis de pensar à Arte; articular o sensível e o humano. Ainda temos o poema de Jorge de Lima: o Nadador; à idéia hegeliana do Espírito. A revisitar acerca dos pensamentos de Platão e Aristóteles. Dos filósofos Martin Heidegger; de Nietzsche a Kant.

Arte é advento – um devir. Que procura o artista? O artista é aquele que fixa e torna acessível aos demais humanos o espetáculo de que participam sem perceber.
De Marilena Chauí, o texto, seguindo alguns períodos históricos e estilos artísticos de arte (do pensar-expressar e do fazer da época e de hoje), de tão genial que é, encontra-se em diversas edições (13ª).
“Convite à Filosofia” reverbera sobre o universo das artes. Compreende e rediscute entre nós sob à luz da Arte: a visão de mundo. Vamos, lê-lo?

– Trechos seguintes abaixo, capítulo 3 - O universo das artes:

“(...) A literatura. O que é ler? A leitura ‘é um afrontamento entre os corpos gloriosos e impalpáveis de minha palavra e a do autor”, a descoberta do poder da linguagem instituinte, ‘que aparece quando a linguagem instituída é privada de seu equilíbrio costumeiro, ordenando-se novamente para ensinar ao leitor o que este não sabia pensar ou dizer’.

Que é escrever? Responde, Sartre: é distanciar-se da linguagem-instrumento e entrar na atitude poética em estado selvagem. (...) A música reinventa o som e a audição como se estes jamais houvessem existido, tornando o mundo eternamente novo. (Unidade do eterno e do novo)

A palavra arte (...). Seu campo semântico se define por oposição ao acaso, ao espontâneo e ao natural. (...) Outra distinção é feita no campo do próprio possível, pela diferença entre ação e fabricação, isto é, entre praxis e poiesis. (...) A técnica pertence, assim, ao campo dos instrumentos engenhosos e astutos para auxiliar o corpo a realizar uma atividade penosa, dura, difícil.

A partir da Renascença, porém, trava-se uma luta pela valorização das artes mecânicas, pois o humanismo renascentista dignifica o corpo humano e essa dignidade se traduz na batalha pela dignidade das artes mecânicas para convertê-las à condição de artes liberais.

(...) A distinção entre artes da utilidade e artes da beleza acarretou uma separação entre técnica (o útil) e arte (o belo), levando à imagem da arte como ação individual espontânea, vinda da sensibilidade e da fantasia do artista como gênio criador.

(...) Surge, assim, o conceito de juízo de gosto, que será amplamente estudado por Kant (...) disciplina filosófica: a estética.

(...) Por outro lado, as artes passaram a ser concebidas (...) como expressão criadora, isto é, como transfiguração do visível, do sonoro, do movimento, da linguagem, dos gestos em obras artísticas. As artes tornam-se trabalho da expressão. (Arte e técnica).

(...) Assim, todas as atividades humanas assumiram a forma de rituais: a guerra, a semeadura e a colheita, a culinária, as trocas, o nascimento e a morte, a doença e a cura, a mudança das estações, a passagem do dia à noite, ventos e chuvas, o movimento dos astros, tudo se realiza ritualisticamente, tudo assume a forma de um culto religioso. (...) O artista era mago – como o médico e o astrólogo -, artesão – como o arquiteto, o pintor e o escultor -, iniciado num ofício sagrado – como o músico e o dançarino.

(...) A dimensão religiosa das artes deu aos objetos artísticos ou às obras de arte uma qualidade que foi estudada pelo filósofo alemão Walter Benjamin: a aura. Que é a aura? (...)

(...) Passando do divino ao belo, as artes não perderam o que a religião lhes dera: a aura. Não por acaso, o artista foi visto como gênio criador inspirado, indivíduo excepcional que cria uma obra excepcional, isto é, manteve em sua figura o mistério do mágico antigo. (Arte e religião)

(...) Do ponto de vista da Filosofia, podemos falar em dois grandes momentos de teorização da arte. No primeiro, inaugurado por Platão e Aristóteles, a Filosofia trata as artes sob a forma da poética; no segundo, a partir do século XVIII, sob a forma da estética. (...)

(...) A estética ou filosofia da arte possui três núcleos principais de investigação: a relação entre arte e Natureza, arte e humano, e finalidades-funções da arte (Arte e Filosofia)".

Nesse ínterim, o texto, (em suptópico) de Chauí, segue e nos apresenta a discussão investigativa acerca das três relações da estética ou filosofia da arte supracitada, logo acima.


Continuando:

"De um lado, mudanças quanto ao fazer artístico, diferenciando-se em escolas de arte ou estilos artísticos – clássico, gótico, renascentista, barroco, rococó, romântico, impressionista, realista, expressionista, abstrato, construtivista, surrealista, etc. Essas mudanças concernem à concepção do objeto artístico, às relações entre matéria e forma, às técnicas de elaboração dos materiais, à relação com o público, ao lugar ocupado por uma arte no interior das demais e servindo de padrão a elas, às descobertas de procedimentos e materiais novos, etc.

(...) A destruição da aura está prefigurada na própria essência da obra de arte como algo possível porque ela possui dois valores: o de culto e o de exposição, e este último suscita a reprodutibilidade quando as condições sócio-históricos a exigirem e a possibilitarem. (...). (Segundo Chauí apud Benjamin, suptópico - Arte e sociedade.)

(...) A modernidade terminou um processo que a Filosofia começara desde a Grécia: o desencantamento do mundo, isto é, a passagem do mito à razão, da magia à ciência e à lógica. Esse processo liberou as artes da função e finalidade religiosas, dando-lhes autonomia. (...).
Perdida a aura, a arte não se democratizou, massificou-se para consumo rápido no mercado da moda e nos meios de comunicação de massa, transformando-se em propaganda e publicidade, sinal de status social, prestígio político e controle cultural.

Sob os efeitos da massificação da indústria e consumo culturais, as artes correm o risco de perder três de suas principais características:

1. de expressivas, tornarem-se reprodutivas e repetitivas; 2. de trabalho da criação, tornarem-se eventos para consumo; 3. de experimentação do novo, tornarem-se consagração do consagrado pela moda e pelo consumo. (...). (Indústria cultural e cultura de massa)
(...) Dos meios de comunicação, sem dúvida, o rádio e a televisão manifestam mais do que todos os outros esses traços da indústria cultural.

Começam introduzindo duas divisões: a dos públicos (as chamadas “classes” A, B, C e D) e a dos horários (a programação se organiza em horários específicos que combinam a “classe”, a ocupação – donas-de-casa, trabalhadores manuais, profissionais liberais, executivos -, a idade – crianças, adolescentes, adultos – e o sexo). (...)

(...) Paradoxalmente, rádio e televisão podem oferecer-nos o mundo inteiro num instante, mas o fazem de tal maneira que o mundo real desaparece, restando apenas retalhos fragmentados de uma realidade desprovida de raiz no espaço e no tempo. Nada sabemos, depois de termos tido a ilusão de que fomos informados sobre tudo.

(...) Vale a pena, também, mencionar dois outros efeitos que a mídia produz em nossas mentes: a dispersão da atenção e a infantilização.

(...) Pouco a pouco, isso se torna um hábito. Artistas de teatro afirmam que, durante um espetáculo, sentem o público ficar desatento a cada sete minutos. Professores observam que seus alunos perdem a atenção a cada dez minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa que dão a si mesmos, como se dividissem a aula em “programa” e “comercial”. (...)

(...) Um último traço da indústria cultural que merece nossa atenção é seu autoritarismo, sob a aparência de democracia. (...) encontra-se nos programas de aconselhamento. Um especialista – é sempre um especialista – nos ensina a viver, um outro nos ensina a criar os filhos, outro nos ensina a fazer sexo, e assim vão se sucedendo especialistas que nos ensinam a ter um corpo juvenil e saudável, boas maneiras, jardinagem, meditação espiritual, enfim, não há um único aspecto de nossa existência que deixe de ser ensinado por um especialista competente. (...). (Os meios de comunicação)
E, por fim:

Como a televisão, o cinema é uma indústria. Como ela, depende de investimentos, mercados, propaganda. Como ela, preocupa-se com o lucro, a moda, o consumo. (...)

A televisão é um meio técnico de comunicação à distância, que empresta do jornalismo a idéia de reportagem e notícia, da literatura, a idéia do folhetim novelesco, do teatro, a idéia de relação com um público presente, e do cinema, os procedimentos com imagens. Do ponto de vista do receptor, o aparelho televisor é um eletrodoméstico, como o liquidificador ou a geladeira.

(...) Como o livro, o cinema tem o poder extraordinário, próprio da obra de arte, de tornar presente o ausente, próximo o distante, distante o próximo, entrecruzando realidade e irrealidade, verdade e fantasia, reflexão e devaneio. (...)

(...) Apesar dos pesares, Benjamin tinha razão ao considerar o cinema a arte democrática do nosso tempo. (Cinema e televisão)”.

PALAVRAS-CHAVE:
Arte / Arte & Eternidade / Técnica / Religião / Filosofia / Natureza / Humano / Finalidades & Função da Arte / Arte & Sociedade / Indústria Cultural / Cultura de Massa / Os meios de comunicação / Cinema /Televisão / Educação.

Sobre a autora:
Filósofa e educadora brasileira. Marilena Chauí (1941). Aborda as questões filosóficas dentro de uma perspectiva social e política. Professora de Filosofia da Universidade de São Paulo. Principais Obras: O que é ideologia (1981), Da realidade sem mistérios ao mistério do mundo (1981), Repressão sexual (1984).

E, mais: outros textos de Marilena Chauí no link: http://br.geocities.com/mcrost02/index.htm

Documentos de acesso digital
Convite à Filosofia. Texto de Marilena Chauí. Unidade 8 - O mundo da prática. Capítulo 3: O universo das artes, (pp.?). Ed. Ática, São Paulo: 2000. Link abaixo. Acesso em: 23 nov. 2008.

Mais Informações:
Onde encontrar o texto: Convite à Filosofia. De Marilena Chauí, disponível em: http://br.geocities.com/mcrost02/convite_a_filosofia_38.htm


- Universidade Nacional de Brasília-UnB/Instituto de Artes-IdA.Licenciatura em Teatro do programa Pró-Licenciatura –(Tarefa Avaliativa) Profª. Ana Agra/Prof.ª Formadora/ALUNO Lúcio José de Azevêdo Lucena-Lúcio Leonn (Professor Esp. em Arte e Educação)

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