terça-feira, 24 de novembro de 2009

Stanislavski versus Meyerhold: encontros e desencontros dum teatro em movimento possível

Por Lúcio José de Azevêdo Lucena

De como a proposta de Meyerhold revisa as pesquisas de Stanislávski. A demanda pela teatralidade passa pelo enfrentamento dos limites do realismo cênico presente na primeira fase do Teatro de Arte de Moscou. Veja como em seus textos Meyerhold estabelece um debate com as idéias e práticas de Stanislávski. Esse debate determinou a busca de uma nova maneira de se fazer teatro. (Imagens de reprodução)

Stanislavski versus Meyerhold: encontros e desencontros dum teatro em movimento possível

A cena teatral nunca se faz ou fizeram-na por completa no sentido teatral. Porque surgem novas descobertas e relatos de protagonista da verdadeira história. Assim, abaixo, procuraremos perceber as muitas contribuições do mestre das ações físicas em decorrência de estudos da biomecânica, do segundo mestre, Meyerhold.

Começo, com transcrição via fórum:

Em comparação com o Mestre e de diferenças possíveis; Meyerhold buscou encontrar pela biomecânica (estudos da neurociência e ciências cognitivas) um corpo de intérprete pensante e que articula ações físicas de movimentos, “fora de um eixo vertical subjetivo” - centrado não mais: no "eu-stanislavskiniano" (mundo interior); mas um corpo em trabalho com a mente, de percepção à ação/ “de conhecer a linguagem corporal” ; “um corpo na vertical terrestre”, em “linha reta”. Divergindo dum “teatro naturalista”. Assim, Meyerhold, reorganizou um corpo de ator para ser “compositor de si mesmo” (que, Silvia nos re-sinaliza) de desestabilizar a platéia pela plasticidade de movimentos em ritmo,melodia e harmonia (música).
Portanto, a partir do segundo Mestre, o ator passa a sistematizar um estudo de corpo em âmbitos (“treinamento” indicado por Vanderli), pelo conhecer (-mente-em espaço de trabalho (ofício-intenção-ideias em elementos constitutivos do corpo em ação) e de criação (emoções-ideias-articulação com a vida psicológica da peça), de percepção e de racionalidade cognitiva corporal cênica. É como percebo. 

No entanto, foi como escrevi em fórum quando tratei do “ator cego” em cena.

Vejam:

(...) No entanto à respeito de cognição do ponto de vista, do Mestre, seria usado somente, no decorrer da elaboração, ensaios, testes em situação dramática de personagens etc. Em cena diante da platéia ele não queria um ator com cognição racional, pois tal cognição "mataria toda a verdade do personagem... seria uma briga dual entre ator e persona " diante da público.Hoje, século 21 exige-se de um ator cada vez mais consciente de suas ações em cena para não se deixar levar pela inconsciência (emoção/ estar "cego em cena") de seus atos corporais e vocais estando no personagem; como instrumentalizador e a serviço de sua arte (o chamado não se deixar abater pela emoção do personagem(ter técnica), porque na busca da verdade, em cena podemos cair na inverdade).

Seria bom, pesquisar sobre: 50% técnica ou 50% emoção, ou nada disso, em Método Stanislavski!? (...)” Re: TCHECOV POR STANISLAVSKY e o Corpo... por
Lúcio José de Azevêdo Lucena - quinta, 12 novembro 2009, 09:32 (http://arteduca.unb.br/ava/mod/forum/discuss.php?d=5493)

Por fim, podemos dizer que o corpo de ator em Meyerhold, é tridimensional. Emanador e catalisador de sentidos físicos e orgânicos, como, um: SOL.

Já, em Stanislavski o ator é um eixo convergente, como, uma: CONCHA – pérola rara - centrado em si pela ação de viver e querer ser o personagem. Mas, em ambos, não há ofuscação de sentidos, por tratarem da vida na arte, em limites da teatralidade, de reter corpo e mente em ação referencial dos fenômenos da percepção / propriocepção / interocepção / exterocepção. (In: Fórum Re: DISCUTINDO MEYERHOLD. Por Lúcio José de Azevêdo Lucena - terça, 17 novembro 2009, 09:22).

Os estudos indicativos acima, via fórum (discutindo meyerhod) se revelam do texto de Yedda Chaves: Meyerhold na contemporaneidade: algumas reflexões e estudos de caso), também ao encontro de meus pensamentos pessoais em discussão de outro fórum: discutindo stanislavski, a partir de estímulos em resposta à pergunta da cursista supracitada.

Já indo à leitura do texto: “MEYERHOLD: A MATERIALIDADE DO TEATRO”; deparamo-nos na “queda” dum stanislavskiano teatro fechado em si (sistema ilusionista) e na abertura de um cena meyerholdiana em diálogos cênicos com as artes plásticas(sensações), música (segue a cena), cenário(rompe com o natural), traz a sistematização do ator (consciência de si e de sua performance\corpo preparado) - partindo do seu eixo corporal para o campo da criação em biomecânica e de materialização a partir de sua ação, diante da platéia e juntos: o auto, diretor, ator – formam uma tríade.

Segue Meyerhold, não “muda nada” de outrora, mas ele consubstancia todos os elementos do sistema teatral - a se desprover de grandes cenários, caracterizações nos atores e de suportes em acessórios dos personagens (perucas, objetos de cena etc.); por ouro lado, o espectador vislumbra em cena o real e organicidade acrescida dos fatos\cenas de quadro-vivos. Da platéia de Meyerhold, sabe-se que estamos no teatro (espaço físico) vendo teatro (ritmo, como música em cadeia) que se mostra em cada cena e ato, antes incógnita, pelo artifício do naturalismo em si.

O teatro do natural em Stanislavski-sinaliza-se em “relatos artificiais” pela leitura de, “O TEATRO NATURALISTA E O TEATRO DE ESTADOS DE ALMA. V. MEYERHOLD. Nele, há bons exemplos. É ao mesmo tempo deflagrador quando se diz: cópia de um estilo histórico e aponta: ser longe da plasticidade cênica e de movimento contemporâneo de hoje. De metamorfose de atores quando são distantes de seus estados de alma e de corpos não-dilatantes, por estarem em sentidos de execução de ações “fora de si"; como num novelo a se desprender de seu último fio condutor. E, da platéia tal naturalismo é impossível fazer uso da imaginação, por que estar tudo ali.

Por fim, de análise de estudo e de conclusão, trago o texto mais completo e que resume em síntese, todo o aparato cênico e proposição do Mestre Meyerhold, para a cena contemporânea;ENUNCIADOS SOBRE A BIOMECÂNICA. V. MEYEHOLD.”


(imagem (reprodução)- Meyerhold executando exercício do treinamento da Biomecânica)

Tal enunciado em texto aponta um corpo de composição em:
corpo de circunferência em percepção; da seqüência de movimentos, via interprete; do movimento em intenção, equilíbrio e execução; do juízo das faculdades mentais em espaço de si e arquitetura cênica; organização técnica e não dúvida; hesitação de ação tensa não combina; calma e equilíbrio; moderação de mudança de movimento ao outro sem desequilíbrio; controle temperamental; reserva de equilíbrio convincente em poses; consciência de movimentos e de mudanças; gesto resultado duma intenção exibível e de reserva de todo o corporal; excitação proveniente de trabalho e treino corporal do intérprete; ator compositor de si; um corpo saudável; inquietude na platéia; ator não-solista; meia- mola em cada movimento preciso do executante;efemeridade artística; “retenção” de movimentos em nome da economia; gestos nunca inacabados; fugir do infortuito; cuidado no temperamento inicial do trabalho;não- superficial demanda excitabilidade; meticulosidade na vos e atuação quando não busca-se de novo;primeiro lugar controle corporal em sintonia com sua reserva d composição;por fim, a música em precisão com cenas e movimentos e atenção, tenacidade, acordo são sinônimos de concentração física; além é claro de, corpo de intérprete em função da máquina impulsionada pelo corpo maquinário.

É preciso fazer sentido tudo isso e, cada vez mais, os desdobramentos teatrais na técnica do ator se confrontam em cena, outrora se repetem. Mas não se marca no tempo como foram os dois mestre, tanto que hoje, é preciso atribuir re-significados.

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