segunda-feira, 18 de julho de 2011

(UnB), Nelson Rodrigues e Eu: compromissos essenciais (literário) duma Longa Jornada Noite Adentro

Por Lúcio José de Azevêdo Lucena (Lúcio Leonn)

1) o papel do arte-educador para a sociedade
2) a importância da arte na escola
3) processo criativo, montagem de espetáculo e trabalho em equipe



"O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Nossa tragédia é que não temos o mínimo de auto-estima./Qualquer indivíduo é mais importante do que a Via Láctea." Nelson Rodrigues, (23.08.1912 - 21\12\1980).



Imagem (acervo pessoal): arquétipo "O Mito de Narciso",

ensaio "A Caminho da Tarde". Cia. do Ator Livre

Teatro Universitário Sala anexa - agosto/2009

O excerto escolhido acima, no dizer de Nelson Rodrigues reflete bem (mal) a vida e a arte (teatral), de brasileiros\artistas. Muitas vezes, o ego exacerbado vai de encontro à própria obra e contra a vida pessoal de alguns e de outros. A criação encontra-se no vazio. E, o que se cria ou o que se almeja na vida, positivamente, é resultado de muito esforço, humildade, trabalho, conquistas, dedicação, disciplina, vocação, lutas com ou, sem batalhas. Experiências edificantes.

No entanto, pode-se também conseguir em vida o que se deseja em pleno exercício do egoísmo. Logo, aventurar-se e completamente desnudo ao desconhecido fragiliza o ser humano e pode condicionar (aos brasileiros\artistas), o mito de Narciso. Querer ser e ter em si mesmo cegamente o Todo. Outra ocultar-se em Vida, ora a desaparecer na Arte para aparecer diante da sociedade, (que sinaliza querer ser justa e igualitária), ora, da crítica pessoal, é dilema inevitável: sucumbir aos problemas do ego; traço convergente da própria persona. Ou, do desejo de ser artista reconhecido, plenamente. É situação de dualidade. E, para não ser trágico perante si mesmo e nem cair em imagem depreciativa, o ser humano deve controlar sua personalidade. Lutar contra o próprio ego, sempre a favor da vida (relação\coletiva) e da criação (o devir). De torna-se especial porque se deu ao esforço da alma; ser simples e não, vítima de percursos individuais malsucedidos.

Surge então, o papel do arte-educador para a sociedade, de ser aquele corresponsável pela alfabetização\estética, de mediar junto a seus alunos o processo permanente de ensino-aprendizagem e das experiências individuais de cada ser; organizar a vida escolar via corpo discente por meio do campo da didática; conhecer para agir junto aos pressupostos teóricos em arte-educação\Teatro;adequação de currículo em Arte\teatro à realidade da comunidade; planejamentos e planos de aula, sempre aliando o seu saber-fazer às linguagem artísticas; da disciplina em estudos (Escola) e da sua formação pessoal (empírica) e profissional (acadêmica\continua e em serviço.); levar à frente o seu “saber-ser-fazer”, conforme a conjuntura vigente(formação).


Imagem (acervo pessoal): Teatro Aplicado-ano III. Alunos\as da Emeif Herbert de Souza, em jogos teatrais. Conceito: ação, 2010.

Outro ponto importante no que diz respeito à arte-educador corresponde a sua postura em ser crítico diante, da: vida – educação - cultura (popular\erudita\de massas\midiáticas) – sociedade - das obras de artes - de artistas ou fazedores de artes locais\nacionais ou estrangeiros. E, pede-se que seu gosto artístico e pessoal deva estar afinado com o Todo. Um arte\educador é sempre formador de opinião, (não somente em Arte). Para isso, sua avaliação seja ela pessoal, apreciar produtos estéticos ou, da disciplina\linguagem docente, é sempre criteriosa em esboçar sensibilidade; mobilizar os alunos (as) a aferirem elementos constitutivos numa arte pelos seus sensos críticos e poéticos - processos artísticos de descobertas, erros e acertos por experiências mútuas -, é a busca da autonomia e educar sujeitos proativos para existência.

Sobre a importância da arte na escola é porque procura encorajar seus alunos(as) a ver um mundo e o Outro por uma porta, sala, quarto, muro, janela menos indiscreta e excludente; não apresenta sentidos óbvios, nem tampouco de irresponsabilidade por partes de seus segmentos escolares (arte-educadores\alunos). Há conteúdo curricular para ensinar e apreender. Conhecer para expressar fazendo! Quadrados não são quadrados, podem ser pontos, linhas (cheias e finas). Um homem da esquina com suas esquisitices e neuroses pode ser o personagem psicológico das peças de Nelson, em conflito dramático. A vizinha caminha em movimentos saltitantes como se dançasse. O bater da janela é desagradável aos ouvidos. O enquadramento da tela está descentralizado.

Imagem (idem): Teatro Aplicado-Ano I. Alunos\as da Emeif Herbert de Souza, 2008.

A arte na escola tem a intenção obrigatória e interdisciplinar com demais conhecimentos da vida social e de disciplinas (extra)curriculares, em diversos níveis e modalidades de ensino da Educação Básica. Para isso o arte-educador torna-se mais uma vez corresponsável por esse Encontro Estético. De trabalhar e oferecer diversas linguagens artísticas, polivalentemente? Porém, antenado com sua formação em arte. Então, a sensibilidade desperta o prazer condicionado a uma beleza individual que se encontra; consubstancia e transgride em outras possibilidades de visões experimentais.

Levando em conta o processo criativo, é sempre algo inesperado, a tomar corpo e “forma”; inquietações, desejos, mistérios, ocultações e frustrações, sentidos efêmeros, que ao ser concebido, consequentemente tudo se esvai e permanece a perfeição pelo árduo trabalho de encontro\desencontro de seres em comunhão ou solidão de outrora. A obra de arte se presentifica em conjunto de elementos a impressão dos olhos do público.

A Criação de Davi, Capela Sistina, reprodução.


A Ação Criativa nunca é a mesma, não se sabe como chegar ao produto final; mas exige-se todo o preparo empírico ou do desdobramento em conhecimento científico, de recursos instrumentais, para começar o devir.
Tanto que numa montagem de espetáculo devem ser respeitadas e criadas junto ao trabalho de equipe todas as etapas de componentes essenciais para o fenômeno da cena (concepção de espetáculo) acontecer em estado de recepção. Uma atividade teórica e planejada por todos em espaço\tempo e funções distintas e (re)definidas, que posterior se fundirá a criação (diretor atores\atrizes, maquiadores etc.) e outros elementos da representação ditos técnicos, a saber: iluminação, figurino, cenário, maquiagem, sonoplastia etc.

Imagem, (acervo pessoal): Espetáculo “Os Olhos de Bette Davis”, texto do cearense Ricardo André Bessa. Teatro Arena Aldeota. No elenco, encabeçado por Ivanilde Rodrigues no papel principal, os atores Marta Vasconcelos, Hiroldo Serra, Lúcio Leonn e Geraldo Pontes. Grupo Comédia Cearense. Direção e figurino: Ricardo André Bessa- agosto 2008


Por fim, reaparece outra vez o trabalho de equipe em ritmo de respeito e solidariedade uns com a arte dos outros. A desenvolver suas atribuições em momento único e efêmero. O que é o Espetáculo? Uma Via Láctea! Um corpo uníssono, ao mesmo tempo plural de pessoas-estrelas, que desaparecem da cena - no escuro - no apagar junto ao refletores.

Universidade de Brasília(UnB)\Instituto de Arte(IdA)
Disciplina: Processos de Encenação
Profª Formadora: Gisele Carmézz

p.s.: "Longa Jornada Noite Adentro", leva o título da peça de Eugene O’Neill - unanimemente considerada obra-prima da dramaturgia do Século 20.