Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo
Ingrid Dormien (Entrevista)
Ingrid Dormien é
Professôra formada em teatro pela Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, mas agora sua maior preocupação é no sentido de inovar
as “aulas de teatro” das escolas primárias: “o teatro das crianças, em oposição
ao teatro para crianças, é a linha básica do nosso trabalho”.
– É o teatro realizado
pelas próprias crianças em sala de aula, em escolas de educação pela Arte. A partir
da improvisação ou jôgo dramático, a criança coloca toda a sua compreensão do
mundo.
Em princípio segundo
a Professôra, não se pode pretender que as crianças ajam como atôres – recebem
um texto e iniciam um processo de anulação do gesto próprio para poderem
assimilar a idéia do autor. Ela não pode cumprir uma “encomenda”, pois não tem
o domínio da técnica de representação, e vai aprender mais na experiência livre
de dramatização do que cumprindo aquilo que o adulto pretende que ela aprenda.
– O que eu
procuro conseguir das crianças é uma forma livre de expressão, ou seja, a
verdadeira vida. E o trabalho em grupo é importante porque ensina o aluno a
perceber e ouvir a proposta do outro, respeitar o trabalho do colega e fazer
valer o seu ponto de vista. Isso vai solidificar a segurança de cada um,
construindo-se na criança, o adulto apto a se integrar e conviver com um grupo.
O papel do
professor nessa orientação é sobretudo o de fazer com que a criança use todos
os seus meios de expressão. Ele se limita a fornecer subsídios para o jôgo dramático,
e sem critério de avaliação como na área dos conhecimentos: enquanto o professor de matemática deve exigir uma
resposta exata, certo/errado, o de teatro não deve interferir na lógica do
aluno.
O poeta Javier
Villafañe, famoso titeriteiro argentino, afirma que o teatro para crianças não
deve ser pedagógico: “Se um personagem diz que dois mais dois são quatro, deve
aparecer um outro para dizer que são cinco.”. Numa experiência brasileira, as
crianças faziam uma peça em que a borboleta era professora de música e ensinava
erradas as notas musicais. Alertada sobre o erro, a criança saiu-se com essa: “Bom,
pode ser que o professor de música ensine de outro jeito. O que eu estou fazendo
é teatro e Borboleta não é obrigada a ensinar música certo”.
Ingrid Dormien
afirma ainda que o teatro–educação não deve ser uma técnica auxiliar de outras
disciplinas.
– Teatro, como tudo
que é arte, se constituiu num fim em si mesmo.
A auto-expressão não pode servir como veículo de aprendizagem
preestabelecida – uma mistura dêsses dois campos leva à frustração em todos os
sentidos, podendo ser extremamente perigosa para a formação do indivíduo.
E acrescenta: “O
campo da arte na educação – em vez de uma técnica auxiliar – é a imaginação, como
fator de desenvolvimento da inteligência. À medida em que o aluno transforma um
pedaço de madeira sujo ou um velho saco de farinha, dando-lhe mil funções imaginativas, êle esta desenvolvendo a sua capacidade de encontrar soluções”.
Isto porque a
criança pode criar uma situação absurda e inclusive ter razões profundas que justifiquem a própria criança. O professor que compreende
como o crítico que procura interpretar o absurdo numa peça de Ionesco.
[Faço questão de manter o vocabulário e a gramática característica da escrita original Jornal Arte&Educação––Escolinha de Arte do Brasil | ano de publicação: 1971], Lúcio Leonn.
Fonte consultada:
AUGUSTO
RODRIGUES (editor). Ingrid Dormien (entrevista). Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo – Jornal ARTE &
EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 3, p.12, mar.
1971. Acervo pessoal (periódico) Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn.
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Reconhecemos a importância,
sinalizar hoje:
1. INGRID
DORMIEN KOUDELA
(São Paulo/SP, 1948) é diretora, escritora e pesquisadora. FORMA-SE Bacharel em
Teatro pela ECA/USP, em 1972, onde fez Mestrado e Doutorado. Livre Docente pela
ECA/USP; orienta atualmente teses de Mestrado e Doutorado no Departamento de
Artes Cênicas.
Com bolsas de
estudo da Fapesp e CNPq, desenvolveu projetos artístico-educativos com
profissionais de teatro; alunos de pós-graduação; professores do ensino
fundamental e médio com crianças, jovens e leigos em teatro.
Durante 27 anos,
como docente do Curso de Licenciatura em Educação Artística com Habilitação em
Artes Cênicas, lecionou a Didática e Prática de Ensino em Artes Cênicas no
Departamento de Teatro, introduzindo a disciplina Jogos Teatrais no currículo
desse departamento e realizando um trabalho de construção científico e
institucional pioneiro de Teatro.
Foi consultora
do MEC na elaboração dos PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais na área de
Teatro para o Ensino Fundamental e membro da CEEARTES - Comissão de
Especialistas de Arte, órgão do MEC/SESU Secretaria de Ensino Superior, onde
coordenou a elaboração do documento Diretrizes Nacionais para o Ensino do
Teatro (1996-1997).
Tem vários
livros publicados no Brasil e no exterior, sendo introdutora do método de Viola
Spolin entre nós. É tradutora e estudiosa de Bertold Brecht, com ênfase no seu
projeto com a Peça Didática.
Atualmente vem
expandindo seu trabalho de ensino e pesquisa através de projetos ligados à
Secretaria Municipal de Educação (SP) e da FEUSP Faculdade de Educação, dando
continuidade à formação de professores de Arte, realizando consultoria e
pesquisa na área de Teatro.
É coordenadora
do Grupo de Trabalho em Pedagogia do Teatro e Teatro na Educação da ABRACE
(Associação Brasileira de Artes Cênicas), através do qual vem promovendo o
encontro e a troca de experiências de especialistas na área. (Vide mais, em: http://teatropedia.com/wiki/Ingrid_Dormien_Koudela);
MESTRADO em Curso de Pós-Graduação em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (1982) e doutorado em Curso de Pós-Graduação em Artes pela Universidade de São Paulo (1988). Professora Associada, aposentada, pela USP. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Teatro, atuando principalmente com os seguintes temas: pedagogia do teatro, metodologia de ensino/aprendizagem, artes cênicas, teatro e arte-educação. (Fragmento de texto informado pela autora: Lattes, 2016);
NO ano de 2005, recebeu o 47º - Prêmio Jabuti, pela Câmera Brasileira do Livro;
AINDA, Koudela foi aluna da Primeira turma do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 1968. E, depois, professora de Arte-Dramática, na mesma Instituição formadora;
IGUALMENTE, foi professora de arte-dramática (Educação Artística, enquadrando-se como profissional do magisterio, a partir da Lei (LDB anterior), - nº 5.692/71) em Escola Pública;
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Imagem: reprodução\captação minha, via vídeo (jul.- 2016). |
3. Assista o Vídeo (disponivel, abaixo) “Percursos da Arte na Educação - Ingrid Dormien Koudela”
Acesso jul. (2016).
4. Sobre a fundamentação\importãncia de o Texto mencionar: Javier Villafañe.
Ele foi poeta e
titeriteiro – nasceu no dia 24 de junho de 1909, em Buenos Aires. E, faleceu em
sua cidade natal, dia 01 de abril de 1996.
5. Nota interessante, minha:
Augusto
Rodrigues considera Villafañe, Um daqueles artistas de grande influência às suas
ideias precursoras, enquanto educador\artista. Ações em arte e educação de
Javier Villafañe foram de suma importância, às atividades
desenvolvidas na Escolinha de Arte do Brasil (RJ), conjuntamente. Na companhia dele, antes, da
fundação da Escolinha (1948); Augusto Rodrigues, também, realizou atividades de
Teatro de Bonecos, em Recife. Lá, “Augusto ouviu uma diretora de escola
perguntar a [Javier] Villafañe se o teatro que ele fazia era pedagógico.
Villafañe respondeu que não. ‘Quando um
personagem meu diz que dois e dois são quatro, eu ponho logo um outro para
dizer que são cinco’.”. (Trecho dessa passagem homônima de texto supracitado, no livro Escolinha de Arte do Brasil. Brasília:
MEC/INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), 1980, p.17);
6. No mais, confirma-se, que: Javier Villafañe traz influência direta de seu teatro ao Brasil, por meio de “novas ideias sobre a comunicação entre o adulto e a criança”, (segundo afirma o depoimento de Augusto Rodrigues, em: O movimento das Escolinhas de Arte e suas perspectivas, jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 12, p.3, jul. 1972.).
6. No mais, confirma-se, que: Javier Villafañe traz influência direta de seu teatro ao Brasil, por meio de “novas ideias sobre a comunicação entre o adulto e a criança”, (segundo afirma o depoimento de Augusto Rodrigues, em: O movimento das Escolinhas de Arte e suas perspectivas, jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 12, p.3, jul. 1972.).
7. Vide
o vídeo:
Poetas
latinoamericanos: Javier Villafañe. Canción de los tres hermanos - Canal
Encuentro. Disponível em:
Acesso jul. (2016).
8. Blog dedicado a “Javier Villafañe y su vida” Disponível em: http://javiervillafa.blogspot.com.br/
9. “... interpretar o absurdo numa peça de Ionesco”. Vejamos!
Eugène Ionesco – foi dramaturgo e escritor romeno– nasceu em 26 de novembro de 1909 [ou, 1912]. E faleceu em Paris, no dia 28 de Março de 1994. Considerado como o pai do teatro do absurdo, (junto com o irlandês Samuel Beckett (1906-1989).). “A Cantora Careca”; “A lição”; “As Cadeiras”, dentre outras peças; Ionesco procura contextualizar para potencializar o absurdo da condição e/ou condução da vida humana.
10. Por fim, (anterior, à data do texto – 1972) logo pesquisei para informar aqui, que: “com a colaboração da EAB [Escolinha de Arte do Brasil-RJ] duas peças de Eugène Ionesco foram apresentadas: 'A Cantora Careca' (La Cantatrice Chauve) em 1957, com Luís de Lima e Glauce Rocha à frente do elenco, no Teatro de Bolso e, posteriormente, Teatro Mesbla. Em 1960, foi a vez de 'As Cadeiras' (Les Chaises) no Teatro de Copacabana, contando com a participação de Augusto Rodrigues no papel de orador, com elenco encabeçado por Lima e Camila Amado. Luís de Lima, diretor e ator de teatro foi professor de mimica da Escolinha e muito amigo de Augusto”. (Texto do livro 60 anos de Arte-Educação, através da Escolinha de Arte do Brasil. Org: Jader de Medeiros Britto. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008, p.214).
Eugène Ionesco – foi dramaturgo e escritor romeno– nasceu em 26 de novembro de 1909 [ou, 1912]. E faleceu em Paris, no dia 28 de Março de 1994. Considerado como o pai do teatro do absurdo, (junto com o irlandês Samuel Beckett (1906-1989).). “A Cantora Careca”; “A lição”; “As Cadeiras”, dentre outras peças; Ionesco procura contextualizar para potencializar o absurdo da condição e/ou condução da vida humana.
10. Por fim, (anterior, à data do texto – 1972) logo pesquisei para informar aqui, que: “com a colaboração da EAB [Escolinha de Arte do Brasil-RJ] duas peças de Eugène Ionesco foram apresentadas: 'A Cantora Careca' (La Cantatrice Chauve) em 1957, com Luís de Lima e Glauce Rocha à frente do elenco, no Teatro de Bolso e, posteriormente, Teatro Mesbla. Em 1960, foi a vez de 'As Cadeiras' (Les Chaises) no Teatro de Copacabana, contando com a participação de Augusto Rodrigues no papel de orador, com elenco encabeçado por Lima e Camila Amado. Luís de Lima, diretor e ator de teatro foi professor de mimica da Escolinha e muito amigo de Augusto”. (Texto do livro 60 anos de Arte-Educação, através da Escolinha de Arte do Brasil. Org: Jader de Medeiros Britto. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008, p.214).
[Contextualização por [Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn]