quinta-feira, 28 de julho de 2016

Memória – AUGUSTO RODRIGUES (editor): Ingrid Dormien (entrevista) – Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo, (1971)

Transcrição do Jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 3, p.12, mar. 1971, elaborada por Lúcio Leonn, 2016
LEONN, LÚCIO. Augusto Rodrigues; Valéria. (Recorte da fotografia: Desenho de Valéria, (6 anos) para texto): Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo). 1971. Periódico: Arte & Educação - Escolinha de Arte do Brasil. Ano I, n. 3, p.12, mar. 1971.  1 fot., p&b, reprodução/coloração minha. 

Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo
Ingrid  Dormien (Entrevista)
Ingrid Dormien é Professôra formada em teatro pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, mas agora sua maior preocupação é no sentido de inovar as “aulas de teatro” das escolas primárias: “o teatro das crianças, em oposição ao teatro para crianças, é a linha básica do nosso trabalho”.
– É o teatro realizado pelas próprias crianças em sala de aula, em escolas de educação pela Arte. A partir da improvisação ou jôgo dramático, a criança coloca toda a sua compreensão do mundo.
Em princípio segundo a Professôra, não se pode pretender que as crianças ajam como atôres – recebem um texto e iniciam um processo de anulação do gesto próprio para poderem assimilar a idéia do autor. Ela não pode cumprir uma “encomenda”, pois não tem o domínio da técnica de representação, e vai aprender mais na experiência livre de dramatização do que cumprindo aquilo que o adulto pretende que ela aprenda.
– O que eu procuro conseguir das crianças é uma forma livre de expressão, ou seja, a verdadeira vida. E o trabalho em grupo é importante porque ensina o aluno a perceber e ouvir a proposta do outro, respeitar o trabalho do colega e fazer valer o seu ponto de vista. Isso vai solidificar a segurança de cada um, construindo-se na criança, o adulto apto a se integrar e conviver com um grupo.
O papel do professor nessa orientação é sobretudo o de fazer com que a criança use todos os seus meios de expressão. Ele se limita a fornecer subsídios para o jôgo dramático, e sem critério de avaliação como na área dos conhecimentos: enquanto  o professor de matemática deve exigir uma resposta exata, certo/errado, o de teatro não deve interferir na lógica do aluno.
O poeta Javier Villafañe, famoso titeriteiro argentino, afirma que o teatro para crianças não deve ser pedagógico: “Se um personagem diz que dois mais dois são quatro, deve aparecer um outro para dizer que são cinco.”. Numa experiência brasileira, as crianças faziam uma peça em que a borboleta era professora de música e ensinava erradas as notas musicais. Alertada sobre o erro, a criança saiu-se com essa: “Bom, pode ser que o professor de música ensine de outro jeito. O que eu estou fazendo é teatro e Borboleta não é obrigada a ensinar música certo”.
Ingrid Dormien afirma ainda que o teatro–educação não deve ser uma técnica auxiliar de outras disciplinas.
– Teatro, como tudo que é arte, se constituiu num fim em si mesmo.  A auto-expressão não pode servir como veículo de aprendizagem preestabelecida – uma mistura dêsses dois campos leva à frustração em todos os sentidos, podendo ser extremamente perigosa para a formação do indivíduo.
E acrescenta: “O campo da arte na educação – em vez de uma técnica auxiliar – é a imaginação, como fator de desenvolvimento da inteligência. À medida em que o aluno transforma um pedaço de madeira sujo ou um velho saco de farinha, dando-lhe mil funções  imaginativas, êle esta desenvolvendo a sua  capacidade de encontrar soluções”.
Isto porque a criança pode criar uma situação absurda e inclusive ter razões  profundas  que justifiquem  a própria criança. O professor que compreende como o crítico que procura interpretar o absurdo numa peça de Ionesco.

[Faço questão de manter o vocabulário e a gramática característica da escrita original Jornal Arte&Educação––Escolinha de Arte do Brasil | ano de publicação: 1971],  Lúcio Leonn.

Fonte consultada:
AUGUSTO RODRIGUES (editor). Ingrid  Dormien (entrevista). Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo – Jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 3, p.12, mar. 1971. Acervo pessoal (periódico) Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn.
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Reconhecemos a importância, sinalizar hoje: 
Imagem: reprodução\captação e adaptada por mim (jul.- 2016), a partir do vídeo Percurso da arte e educação: Ingrid Dormien Koudela (vol. 15- realização Ação Educativa\ produção Olhar Periférico, 2013)
1. INGRID DORMIEN KOUDELA (São Paulo/SP, 1948) é diretora, escritora e pesquisadora. FORMA-SE Bacharel em Teatro pela ECA/USP, em 1972, onde fez Mestrado e Doutorado. Livre Docente pela ECA/USP; orienta atualmente teses de Mestrado e Doutorado no Departamento de Artes Cênicas.

Com bolsas de estudo da Fapesp e CNPq, desenvolveu projetos artístico-educativos com profissionais de teatro; alunos de pós-graduação; professores do ensino fundamental e médio com crianças, jovens e leigos em teatro.

Durante 27 anos, como docente do Curso de Licenciatura em Educação Artística com Habilitação em Artes Cênicas, lecionou a Didática e Prática de Ensino em Artes Cênicas no Departamento de Teatro, introduzindo a disciplina Jogos Teatrais no currículo desse departamento e realizando um trabalho de construção científico e institucional pioneiro de Teatro.

Foi consultora do MEC na elaboração dos PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais na área de Teatro para o Ensino Fundamental e membro da CEEARTES - Comissão de Especialistas de Arte, órgão do MEC/SESU Secretaria de Ensino Superior, onde coordenou a elaboração do documento Diretrizes Nacionais para o Ensino do Teatro (1996-1997).

Tem vários livros publicados no Brasil e no exterior, sendo introdutora do método de Viola Spolin entre nós. É tradutora e estudiosa de Bertold Brecht, com ênfase no seu projeto com a Peça Didática.

Atualmente vem expandindo seu trabalho de ensino e pesquisa através de projetos ligados à Secretaria Municipal de Educação (SP) e da FEUSP Faculdade de Educação, dando continuidade à formação de professores de Arte, realizando consultoria e pesquisa na área de Teatro.

É coordenadora do Grupo de Trabalho em Pedagogia do Teatro e Teatro na Educação da ABRACE (Associação Brasileira de Artes Cênicas), através do qual vem promovendo o encontro e a troca de experiências de especialistas na área. (Vide mais, em: http://teatropedia.com/wiki/Ingrid_Dormien_Koudela);

MESTRADO em Curso de Pós-Graduação em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (1982) e doutorado em Curso de Pós-Graduação em Artes pela Universidade de São Paulo (1988). Professora Associada, aposentada, pela USP. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Teatro, atuando principalmente com os seguintes temas: pedagogia do teatro, metodologia de ensino/aprendizagem, artes cênicas, teatro e arte-educação. (Fragmento de texto informado pela autora: Lattes, 2016); 

NO ano de 2005, recebeu o 47º - Prêmio Jabuti, pela Câmera Brasileira do Livro; 

AINDA, Koudela foi aluna da Primeira turma do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 1968. E, depois, professora de Arte-Dramática, na mesma Instituição formadora;

IGUALMENTE, foi professora de arte-dramática (Educação Artística, enquadrando-se como profissional do magisterio, a partir da Lei (LDB anterior), - nº 5.692/71) em Escola Pública;
Imagem: reprodução\captação minha, via vídeo (jul.- 2016).
ESTUDOU com Fanny Abramovich (Escritora de literatura infantil e juvenil, pedagoga e atriz.), Joana Lopes\Unicamp,(precursora do teatro-educação: “Pega Teatro” (1982) \ “O Teatro Antropomágico”), Olga Reverbel - Atividades Globais de Expressão” do educando em jogos dramáticos e teatrais -(1917-2008) e Ilo Krugli (artista\fundador do Teatro Ventoforte). Parte transcrição minha (2016); extraída a partir do vídeo: Percurso da arte e educação: Ingrid Dormien Koudela (Vol. 15- Realização Ação Educativa\Uma produção Olhar Periférico, 2013).

2. O teatro–educação, em compreensão minha, (vídeo, 2016): “é denominado, Pedagogia do Teatro, que ainda, revolucionam os conceitos sobre o teatro tradicional (escola básica/espetáculos/espaços (cena/debates/abordagens)/pesquisas acadêmicas /etc.). A Pedagogia do Teatro é um termo abrangente – interface entre o teatro\educação (teatro aplicado\teatro-educação\teatro na escola\ensino de teatro...)”. Pois, permaneço com olhar meu ampliado e alterado sobre a Pedagogia do Teatro, a partir do vídeo apreciado: Percurso da arte e educação–Ingrid Dormien Koudela (Vol. 15- realização Ação Educativa\produção Olhar Periférico, 2013): divulgação, 2014.

3.  Assista o Vídeo (disponivel, abaixo) Percursos da Arte na Educação - Ingrid Dormien Koudela
Acesso jul. (2016).

4. Sobre a fundamentação\importãncia de o Texto mencionar:  Javier Villafañe.  
Ele foi poeta e titeriteiro – nasceu no dia 24 de junho de 1909, em Buenos Aires. E, faleceu em sua cidade natal, dia 01 de abril de 1996. 
5. Nota interessante, minha: 
Augusto Rodrigues considera Villafañe, Um daqueles artistas de grande influência às suas ideias precursoras, enquanto educador\artista. Ações em arte e educação de Javier Villafañe foram de suma importância,  às atividades desenvolvidas na Escolinha de Arte do Brasil (RJ), conjuntamente. Na companhia dele, antes, da fundação da Escolinha (1948); Augusto Rodrigues, também, realizou atividades de Teatro de Bonecos, em Recife. Lá, “Augusto ouviu uma diretora de escola perguntar a [Javier] Villafañe se o teatro que ele fazia era pedagógico. Villafañe respondeu que não. ‘Quando um personagem meu diz que dois e dois são quatro, eu ponho logo um outro para dizer que são cinco’.”. (Trecho dessa passagem homônima de texto supracitado, no livro Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: MEC/INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), 1980, p.17);

6. No mais, confirma-se, que: Javier Villafañe traz influência direta de seu teatro ao Brasil, por meio de “novas ideias sobre a comunicação entre o adulto e a criança”, (segundo afirma o depoimento de Augusto Rodrigues, em: O movimento das Escolinhas de Arte e suas perspectivas, jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 12, p.3, jul. 1972.).

7. Vide o vídeo:
Poetas latinoamericanos: Javier Villafañe. Canción de los tres hermanos - Canal Encuentro. Disponível em:   
Acesso jul. (2016).

8. Blog dedicado a “Javier Villafañe  y su vida” Disponível em: http://javiervillafa.blogspot.com.br/
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9. ... interpretar o absurdo numa peça de Ionesco. Vejamos!  
Eugène Ionesco – foi dramaturgo e escritor romeno– nasceu em 26 de novembro de 1909 [ou, 1912]. E faleceu em Paris, no dia 28 de Março de 1994. Considerado como o pai do teatro do absurdo, (junto com o irlandês Samuel Beckett (1906-1989).).  “A Cantora Careca”; “A lição”; “As Cadeiras”, dentre outras peças; Ionesco procura contextualizar para potencializar o absurdo da condição e/ou condução da vida humana.

10. Por fim, (anterior, à data do texto  1972) logo pesquisei para informar aqui, que: “com a colaboração da EAB [Escolinha de Arte do Brasil-RJ] duas peças de Eugène Ionesco foram apresentadas: 'A Cantora Careca' (La Cantatrice Chauve) em 1957, com Luís de Lima e Glauce Rocha à frente do elenco, no Teatro de Bolso e, posteriormente, Teatro Mesbla. Em 1960, foi a vez de 'As Cadeiras' (Les Chaises) no Teatro de Copacabana, contando com a participação de Augusto Rodrigues no papel de orador, com elenco encabeçado por Lima e Camila Amado. Luís de Lima, diretor e ator de teatro foi professor de mimica da Escolinha e muito amigo de Augusto”. (Texto do livro 60 anos de Arte-Educação, através da Escolinha de Arte do Brasil. Org: Jader de Medeiros Britto. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008, p.214).

[Contextualização por [Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn]