“Fazer uma boa sociedade e depois, talvez façamos um bom teatro”,
Jean Vilar (1912-1971).
Por Lúcio José de Azevêdo Lucena Texto ano de 2002
Foto 01 (acervo pessoal da pesquisa de Lúcio Leonn) - O diretor Aderbal Freire Filho (à direita) ensaia os atores do espetáculo de reabertura do José de Alencar-Foto Divulgação/Jornal Diário do Nordeste, 17 de janeiro de 1991; Elenco (à esquerda, indicação minha): Suzy Élida, Dodô Mourão, Otávio Pires Neto, Carri Costa, Marcus Maciel, Silvana Salles e Ana Mangueth.
"Tudo era rigorosamente acertado com a direção de Aderbal Freire-Filho, nos trabalhos de mesa, como também, durante os ensaios e levantamentos de cenas" (Lúcio Leonn. Depoimento pessoal: mémórias de ator, 2002).
A Secretaria de Cultura, Turismo e Desporto do Ceará,
encaminhou uma correspondência-convite para todos os artistas e demais
interessados, em participar do “I Simpósio Cearense de Artes Cênicas”(1989). Logo, na
gestão da secretária de cultura Violeta Arraes, o TJA encontrava-se fechado
para reforma e ampliação de anexos. E um plano de ação estava sendo pensado,
fazer jus a um programa inaugural de funcionamento do Theatro. Porém, das
atividades realizadas (palestras) no referido seminário, percebemos que foi somente
para atender ou preparar as expectativas de uma festa de reinauguração, ou
seja, agregar artistas, discutir e planejar um suntuoso espetáculo que em breve
seria realizado na cidade.
O Simpósio realizou-se no auditório do Conservatório de
Música Alberto Nepomuceno entre os dias 27 e 28 de dezembro de 1989, em dois
tempos integrados, das l7 às 19h e de l9h 30min às 22h. As inscrições foram
realizadas no Curso de Artes-Dramáticas da UFC-C.A.D, e na própria Secretaria
de Cultura do Estado-Secult, começando com 08 (oito) dias de antecedência.
A maioria dos artistas envolvidos procedência do Curso de Arte-Dramática da UFC, e principalmente da “Oficina Théâtre du Soleil”, realizada em l988¹.
Contudo, somente 13 (treze) entre os atores e atrizes que
participaram da também chamada oficina dos franceses (o número entra aqui como
uma coincidência) e não aqueles (13), selecionados para repasse de técnicas na
oficina realizada em Crato-Ce. Somente alguns deles continuaram com atividades
cênicas no espetáculo do palco principal, ou seja, no Projeto Teatro em Obras:
Theatro José de Alencar.
Além da promoção da Secult, contava o projeto com incentivo
da extinta Fundacen-Fundação Nacional de Artes Cênicas, seguido de apoio da
Federação Estadual de Teatro Amador/Festa, dos Grupos Permanentes de Dança,
como também do próprio C.A.D.
Dos debatedores neste seminário foram indicados, Amir Haddad
e Aderbal Freire-Filho, ambos diretores de teatro. O último, por sinal,
ex-aluno da 1ª turma de concluintes do CAD, hoje um diretor brasileiro de
renome.
Portanto, havia coordenadores também no trabalho reinaugural.
Tanto que fora apresentado no Auditório o tal projeto, isto é, conjuntamente
com os atores convidados, foi discutida e analisada a proposta, digo o objetivo
principal. Ele se transformou na festa em prol do Theatro José de Alencar, do
seu povo, da cidade e para com os seus artistas.
No entanto, conforme proposta estampada no folder do programa
estava escrito assim:
“Quando da reforma do
Theatro José de Alencar, teatro que guarda nossa história e nossos sonhos,
aproveitamos o momento para refletir sobre a nossa produção artística. O I
Simpósio Cearense de Artes Cênicas surge da necessidade de discutir o Projeto
Teatro em Obras, que objetiva reunir artistas locais para compor um plano de
reciclagem do movimento teatral cearense, ao mesmo tempo propiciar o
intercâmbio de informações, na área de Artes Cênicas, com outras regiões do
Brasil”(o grifo é meu. Documento pessoal).
Todos aqueles considerados artistas locais ou não passariam
por reciclagem(como escrito no Folder). Pergunto: Esta reciclagem seria antes dos preparativos para a
festa de reinauguração do Theatro José de Alencar? Aconteceu durante o processo
de montagem do espetáculo reinaugural ou, posterior a tudo? Indago tanto para o espetáculo realizado nas ruas do centro
da cidade como na Praça José de Alencar dirigido por Amir Haddad, e para
encenação de Aderbal Freire-Filho no palco principal. Não se teve tempo para
tal "capacitação". O tempo de montagem do espetáculo inaugural não permitia tal
sistematização. Portanto, contava-se com o "fazer-fazer" junto às cenas. Já os atores mais
experientes, estes sim, conseguiram perceber tal metodologia de trabalho. Como
apontarei logo abaixo, quando me refiro ao trabalho realizado no galpão da
RFFSA.
“A capacitação do
Artista e sua Função Social”
“As Artes Cênicas no
Mundo Contemporâneo”
“O Significado Social
do Espetáculo”
“A Conjuntura Política
do Momento Brasileiro”.
Imagem documento original, 1989\ Acervo pessoal, Lúcio Leonn. |
Sonho aquele da secretária de cultura Violeta Arraes em querer transformar os galpões antigos em espaços culturais/interativos em nome da cultura e de seus artistas locais, mas Violeta fez o que pôde.
Portanto, projetando o futuro nos arredores do Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar e seus anexos bem à la Française. Sem querer ser mais uma vez, pejorativo. Embora, existam muitos galpões desativados que poderiam funcionar caso houvesse apoio. Como foi o caso do Teatro Radical mantido pelo teatrólogo, ator, diretor e professor Ricardo Guilherme e Associação de Radicais Livres naquelas mediações, pois já não se freqüenta mais. Temos o Teatro da Praia e o Espaço Cultural “Calango do Açude”, de Carri Costa; além do Teatro da Boca Rica, da Cia. Boca Rica de Teatro. Mas, só quero aqui sinalizá-los.
No entanto, no “Dragão”, ainda não se tem espaço para seus atores ensaiar, ou até mesmo espaço de pesquisa para linguagem cênica. Além do custo da pauta de apresentação ser uma das mais caras da cidade em nível nacional-espaço este que se dizia ser democrático e solidário com a cultura e artista local, bem pouco antes de sua criação e oficialização em 1999.
Pôde-se comprovar quando cursava o Curso Colégio de Direção Teatral como aluno-intérprete no Instituto Dragão do Mar, pois era só o que se ouvia falar. A 1ª Turma praticamente inaugurou o Teatro Dragão do Mar com temporadas das peças: “Dragões no Horizonte I e II” (1998), em seguida mais seis meses de casa lotada, com a peça “Os Iks” (1999), de Peter Brook, sob direção de Celso Nunes.
Retomando ao ano de 1989... Lá no galpão (praticamente extinto nas atividades culturais da cidade), vindo a funcionar em 2002, como uma parte da exposição: “I Bienal Ceará América- de Arte Contemporânea”, o grupo de atores do mencionado Projeto, estudava e planejava a literatura cearense. Contava-se com 38 atores. Textos de Juvenal Galeno, Thomás Pompeu, Rodolfo Teófilo, Antônio Sales, Moreira Campos e outros.
Tais textos literários passaram à ação dramática, através de uma “découpage textual”. Isto mesmo, por parte dos atores, buscava-se a narrativa do teatro épico: a terceira pessoa, as rubricas de ações, etc; Outrora, preservava-se a interpretação na primeira pessoa, onde consistia viver o personagem na sua situação dramática, quando não, falava-se dele (personagem) expressando um certo distanciamento brechtiano, referindo-se ao uso do pronome ele.
Tudo era rigorosamente acertado com a direção de Aderbal Freire-Filho, nos trabalhos de mesa, como também, durante os ensaios e levantamentos de cenas.
Essas análises, estudos experenciados em dias e horas, conforme disposições do elenco resultaram no espetáculo noturno reinaugural intitulado: “Narração da Viagem Pela Província do Ceará”, ou “Observações de costumes, de usos, e até de palavras especialíssimas e de significação da população do Ceará”- tendo estréia em 26 de janeiro de l991, ocupando todo o palco principal do Theatro José de Alencar (ver Anexo 2- Elenco do espetáculo de reinauguração do Theatro José de Alencar/TJA: palco principal (1991), (p. 90)².
Com a reinauguração do T.J.A, a Casa proporcionou, posteriormente, uma abertura em séries de oficinas e cursos para aqueles que não podiam contar na época em atender às próprias exigências do C.A.D, (diploma do ensino médio, exame de seleção, etc), ou em outros cursos de instituições particulares.
Imagem documento original, 1989\ Acervo pessoal, Lúcio Leonn. |
Em minha opinião, tais gestores deveriam procurar atender e compreender o que é básico, de mais urgente na arte teatral cearense. Pensar assim diz respeito à legitimação, e “asseguramento” para atores, agentes de teatro nos cursos de capacitação, ou formação profissional. Isto é, sem deixá-los inseguros, por meio do mercado de trabalho formal. Ora pode habilitá-los, atribuindo-lhes a função de professores de Arte ou Arte-educadores conforme a nova legislação? (Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional- LDB nº 9.394\96) É o que podemos ver adiante nesta pesquisa. Logo tal artista de teatro, deve e pode também exercer sua profissão dignamente e com respeito, como outras profissões estabilizadas no mercado.
Portanto, chamo atenção para aquilo que não está funcionando corretamente. E traçar caminhos. Além de contribuir para possíveis resoluções. Acho que pode ser viável.
Continuando... Após a reforma do TJA, passamos a ensaiar nesse novo palco, enquanto que os espetáculos de Rua de Amir Haddad tornaram-se mais atuante.
Podemos constatar isto em entrevista concedida ao Jornal Diário do Nordeste, no dia 04.01.91, quando Haddad dizia: “... juntar ao ar livre, o que a tradição oral imprimiu na cultura - de Maracatu a Reisado”. Portanto, seu local de trabalho e pesquisa estava sendo a “rua”, (isto é, por meio do chamado: “Treinamento de atores participantes das festividades de Reinauguração do Theatro José de Alencar”, orientado também pelo “Grupo Tá na Rua/RJ”, realizado no período de 18 a 26 de janeiro, com carga horária total de 36h/aula).
Finalmente, pode-se dizer que todos os atores e demais profissionais engajados no Projeto Teatro em Obras receberam “cachê simbólico” pelos serviços prestados.
A década de 1990 foi o cerne e principal objeto de estudo dessa pesquisa. Dado o destaque para o ator em seu processo de formação teatral, utilizando cursos, projetos, palestras e oficinas pós-reinaugural no TJA (1991), que algumas vezes o autor deixou por aqui, entremear pelo discurso (IN Capítulo 2 - O teatro aprendiz no final da década de 1980, (pp. 41-44).).
Fonte: Fragmento da pesquisa: pós-graduação intitulada: Os
Processos de Formação Teatral em Fortaleza na Década de 1990 – Memórias de um
Ator, (2002).
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¹Da seleção dos
candidatos para Oficina Théâtre du Soleil no Brasil (CE), 1988 Da inclusão de
candidatos na “oficina théâtre du soleil > Disponivel em: http://notasdator.blogspot.com.br/2008/09/oficina-thtre-du-soleil-no-brasilce.html
¹Memória do “Théâtre du
Soleil”, oficina ministrada em Fortaleza/Ce-1988 > Disponível em: http://notasdator.blogspot.com.br/2008/11/memria-do-thtre-du-soleil-oficina.html
²Anexo 2- Elenco do
espetáculo de reinauguração do Theatro José de Alencar/TJA: palco principal
(1991). Disponível em: http://notasdator.blogspot.com.br/2012/04/o-i-simposio-cearense-de-artes.html
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