sábado, 11 de junho de 2011

Análise do Figurino de Flávio Phebo: espetáculo, “A Valsa Proibida” (Ano 2010/2011)

Por Lúcio José de Azevedo Lucena- Lúcio Leonn

“O ator escolhe o figurino em função da máscara e em função da personagem (...). Busquem dar um bom acabamento aos seus figurinos. Eles podem ser seus amigos. Tornam-se seus inimigos se forem malfeitos, se não se sustentarem. As cabeças, por exemplo, devem ser bem acabadas, cobertas, sem cabelos aparentes. Com a pele nua é difícil utilizar as máscaras. As mãos, os pés são realistas.” (Josette Féral (2010): segundo Ariane Mnouchkine. [In: Encontros com Ariane Mnouchkine: erguendo um monumento ao efêmero. Subtópicos: Para a Máscara e a Personagem. Para o Figurino, (1988, p.61-62): Um Estágio no (Théâtre du) Soleil - Uma Extraordinária Lição de Teatro - segundo Lucena (2010).

Fonte Comédia Cearense \Adaptacão minha
Nome do espetáculo
“A Valsa Proibida”, opereta de Paurillo Barroso – diálogos cênicos de Silvano Serra. Produção grupo Comédia Cearense (Fortaleza-Ce). Direção geral Haroldo Serra. Música, teatro, balé e, sobretudo beleza plástica são elementos que compõem a opereta A Valsa Proibida, tradicional espetáculo cearense. Quase vinte anos após sua última exibição (1990) e após quase 70 anos da estréia, a Valsa Proibida é um grande resgate da arte do Estado em 2010. A execução musical ficou a cargo da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho.

Nome do figurinista
Cenários e figurinos de Flávio Phebo (1929-1986). Natural de Fortaleza (Ceará). Figura das mais importantes do teatro brasileiro. Começou como ator no conjunto do cearense Waldemar Garcia, em 1949. Antes, Ele, ainda, fez parte do grupo Sociedade Cearense de Artes Plasticas (SCAP), onde marcou sua presença como membro e artista plástico em Salão de Pintura (III Salão de Abril,1947). Segundo Estrigas (1983): Flávio Phebo radicou-se em S. Paulo onde se situou muito bem como cenarista e decorador”, (Os artistas da SCAP, p.32). E, passou a figurinista em 1950. Consagrou-se como cenógrafo, figurinista e decorador, tendo recebido importantes prêmios Molière e Coruja, entre outros. Seguindo o diretor teatral e historiador cearense Marcelo Costa (1994), não se sabe se como cenógrafo ou figurinista Flávio era melhor. Tanto que se atribui a retomada de tradição de grandes cenógrafos na história do teatro cearense a Phebo, autor de cenários e figurinos das superproduções do grupo como “A Valsa Proibida” (1965\1984\1990\2010/2011), - “Um dos pontos altos da montagem foram os cenários e figurinos aplaudidos a cena aberta em todas as apresentações.” (Serra (2002): apud Lucena (2010)
Fonte de Imagens da Comédia Cearense
figurinos de Flávio Phebo
A que tipo de público se dirige
Especificamente, ao teatro de gênero adulto

Em que local foi apresentado
Palco principal do Theatro José de Alencar (TJA), durante o mês de agosto e setembro de 2010. Fortaleza-Ce.

Qual a relação do figurino com o texto dramático
Em vestir uma classe social elevada (príncipe\princesa, rei, conde, damas, general, oficiais, etc.) e classe emergente: plebeus, bailarinas, garçonetes, criadas, convidados, escravas rajas, califas orientais, etc. Contribuir com a sinopse que traz a história ambientada em boa parte no Reino da Morgôvia, onde o príncipe Frederico Augusto se apaixona por Mitz, uma jovem muito bonita e talentosa. Mitz compõe uma valsa que fala do seu amor por Fred. Porém o rei, sabendo desse romance, resolve proibir a execução, tornando-a “VALSA PROIBIDA”.

Qual a relação do figurino com a proposta de encenação escolhida
Figurinos de época volumosos, de cores quentes e frias. Segue do mais simples figurino como o da garçonete ao bem trabalhado da princesa Radiá – relaciona-se com uma opereta narrativa em três atos. Sendo o terceiro ato dividido em dois quadros. Seguindo a classificação adotada por Marcel Martin e Gérard (texto de Francisco Araujo Costa- “O figurino como elemento essencial da narrativa”, 2002) pode ser classificado na categoria de figurino: para-realista. Percebe-se ainda, (acordo com o texto de Costa) em se tratando de espaço-tempo, o figurino ao mesmo tempo é de modo sincrônico e diacrônico.
(Personagens: príncipe Federico e Mitz - Primeiro Ato)
Qual a importância do figurino como elemento da encenação
Em atender a música orquestrada e cantada ao vivo pelos intérpretes; o teatro (diálogos cênicos entre as cenas) e a dança (ballet- momento festivo); os cenários: as situações ambientadas no texto. No primeiro ato – jardim. Fachada da casa e um café-concerto de Mitz - ambiente alegre e festivo (reino da Morgôvia). No segundo ato se passa em Radjuba (no oriente, “terrace” do palácio da Princesa Radiá) e no terceiro ato - desenrola-se no Reino de Morgôvia (Vestíbulo do Palácio do Rei Morgôvia e salão de honra; escadaria do palácio).

Qual a relação do figurino com os demais elementos da encenação
Possibilidade e mudança de ambientes (espaço e tempo) pelo elemento de iluminação (dia-noite-dia-noite\foco de canhão) e de cenários (café-concerto\Radjuba\palacete do rei); atribuir caracteres e status social entre os personagens. Figurino com a maquiagem e penteados femininos\da noite\dia acentuados. Acessórios e uso como suporte de vestidos de damas (chapéus, sobrinhas); lenços na cabeça das garçonetes etc. Em texto (2010): “Linguagem do Vestuário Teatral” denomina-se como objeto de caráter vestual, a fazer parte de um simbolismo.

Existe uma palheta de cores definida? Algum figurino se destaca desta palheta
Existe, sim. Pela perspectiva via simbologia das cores (seguindo - texto Estudo das Cores); “ressaltam algum traço simbólico ou estilístico do figurino” do espetáculo em análise percebe-se: 1º Ato, predominam os figurinos de cor Rosa e o Branco (cores quentes e neutras). Do 2º Ato é a cor azul do figurino (cores frias) que se destaca e no 3º Ato: figurinos de cor marrom, o prateado, o salmão e o dourado. Os figurinos de cor Rosa se destacam desta palheta.
As Damas- 1º Ato
Qual o tipo de manufatura do figurino? Existe uma forma clara com relação às texturas e formas
Confeccionados e utilizados pelo uso de máquina e costura manual e, além do acabamento (forro e enchimento, roupa de baixo, lapela de camisas etc.) em costura manual (laços de fitas, rendas, bordados em predarias); receberam pintura em ornamentos (spray de cor dourado) os figurinos masculinos de oficiais, em suas estampas ornamentos. Figurinos de manufatura leves (tecidos de seda pura, tafetá, rendas, organza, (brim), algodão, nylon, cetim, tergal, poliéster, etc.; comprados já tingidos, industrialmente.) e, quanto ao resultado final, alguns figurinos femininos em composição volumosos - manufaturados em cortes, a partir de croquis desenhos originais de Flávio Phebo. Há cortes em formas curvas, retas, diagonais; em linhas abstratas e padronizadas (coronéis, oficiais, rei, príncipe e princesa, ministros etc. Houve divisão de serviços: os figurinos de confecção masculina a cargo de um alfaiate e das femininas duas costureiras; além de uma supervisora e de contar com quatro aderecistas (chapéus, luvas, plumagens etc.), segundo escrito em folder do espetáculo.

Aderecistas – Renata Alves, Harolmisa Serra e Fátima Aragão
Supervisão de figurinos – Hiramisa Serra

Confecção de figurinos femininos – Sulamita e Vera Mônica.
Confecção de figurinos masculinos – Bento

Camareira – Maria Cleide
personagens Coronel Flofô e  e Sachia de karetantã

O figurino desempenha uma função simbólica
Não. O figurino d’A Valsa Proibida não desempenha uma função simbólica junto aos personagens\dramaturgia\ encenação.

O figurino resolve problemas práticos da encenação
Sim. Atrizes\bailarinas junto com os figurinos que usam como personagens de Damas durante o primeiro ato podem trocar e vestir seus figurinos para dançarem como escravas baiadeiras no segundo ato e as mesmas, no desenrolar do terceiro ato (1º quadro), trocam a dançarem o bailado (ballet) e assim, no final do terceiro ato (2º quadro); um casal entra para dançar uma dança típica. Outro, a farda dos personagens: PRINCIPE (cor azul-claro) e do Coronel de 3ª linha (todo azul marinho); SAE à roupa de cima, mas permanece a calça (cor branca do príncipe) sobre a mesma da cena anterior, diferenciando-se da cor e não padrão de corte e estilo. Encontro tal resposta ao pensamento meu, ao texto Linguagem do Vestuário Teatral, por Janice Ghisleri (2010), que diz o seguinte: “(...) O vestuário militar não possui variante, pode somente identificar qual o segmento militar é pertencente e as patentes, mas os trajes civis possuem inúmeras variações desde a cor dos tecidos, escolha da camisa, forma dos sapatos (...). Assim os personagens trajes civis oficiais de 1ª linha (cor: o roxo), permanecem com o mesmo figurino, durante o espetáculo.
(personagens: as Garçonetes, Mitz (C) -1º Ato) 
Existem trocas de figurino. Qual sua função
Sim. Divisão de espaço ambiente (lugar) e de tempo (narrativa): mudança de cenários. Danças \músicas. Tornar o ambiente alegre e festivo. Modificar e mostrar a transição de status de personagens (a personagem Mitz torna-se princesa e casa-se com Fred\o personagem Cel. Floflô de 3ª linha passa a oficial de 1ª); de tempo e lugar.

Existem relações entre os figurinos? Elas ajudam a relações entre as personagens
Sim. Distinção de grupo e classe social (determinados tipos de grupos). Ajudam a relações entre as personagens: príncipe\princesa (plebéia), rei, conde, damas, general, classe de oficiais de 1ª linha, plebeus, bailarinas, garçonetes, criadas, convidados, escravas orientais, rajas califas e ministros.

Qual a relação dos figurinos com o corpo dos atores e das personagens
Acentuar cinturas, busto, estética corporal etc. Ainda, seguindo a Linguagem do Vestuário Teatral (Janice Ghisleri), os figurinos da peça sob análise minha são figurinos característicos (glamour), “salientam o corpo, descrevem a personalidade e estilo (...). A roupa faz transparecer sentimentos (...), posição social, épocas e lugares” na opereta; além de atribuir: leveza e abertura de movimentos ao dançar; condiciona um comportamento gestual e físico de personagens em determinada época do texto\ambientes. Ainda sob a ótica de seu texto, “corresponde a função real”, no que diz respeito também, ao figurino da “dança da baiadeiras” (terceiro ato do 1º quadro) e pas de deux (terceiro ato do 2º quadro). Por fim, Janice Ghisleri (2010), sinaliza: “(...) um traje para dançar, serve efetivamente para dançar e expõe a dança de um modo estável e é legível para todos que estão analisando a cena proposta e captam o significado daquela roupa.”


“A Valsa Proibida” *2010, opereta de Paurillo Barroso – I Ato  – Cenários e figurinos – Flávio Phebo
Vide vídeo: 
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Fonte consultada:
COSTA, Francisco Araújo da. O figurino como elemento essencial da narrativa.
Disponível em www.pucrs.br/uni/poa/famecos/imagina/edicao-8/araujosed8.pdf. Acesso em 10 set. 2010.

COSTA, Marcelo Farias. Panorama do Teatro Cearense. Fortaleza: Multigraf Editora, 1994.

ESTRIGAS (Nilo de Brito Firmeza). A Fase Renovadora na Arte Cearense. Fortaleza, Edições Universidade Federal do Ceará, 1983.

FÉRAL, Josette. Encontros com Ariane Mnouchkine - Erguendo um monumento ao efêmero. São Paulo: Editora SENAC, 2010.

GHISLERI, Janice. Linguagem do vestuário teatral. Disponível em www.artes.com. Acesso em 10 set. 2010

LUCENA, Lúcio José de Azevêdo (Lúcio Leonn). Outro Palco Brasileiro: A Comédia Cearense (Redação e org.). Artigo (inédito) escrito para fins de conclusão da disciplina\Módulo História do Teatro no Brasil. Curso Licenciatura em Teatro - Programa Pró-Licenciatura da Universidade de Brasília (UnB) \ Instituto de Artes (IdA). Tendo como docente formadora Profa. Ms Rosimeire Gonçalves dos Santos. Brasilia, DF\Fortaleza, CE: 2010. 22p.
                                                          
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Imagens (BASTIDORES)
Acervo do grupo Comédia Cearense (2010)



(Figurino e adereços de Flávio Phebo, sob a supervisão artística da atriz\figurinista Hiramisa Serra. Prova de figurinoTeatro Arena Aldeota, 2010)

Universidade de Brasilia (UnB)
Licenciatura em Teatro do Programa Pró-licenciatura (UnB/UNIR/MEC)
Módulo Suporte Cênico
Aluno\professor Lúcio José de Azevêdo Lucena
Atividade da Semana 1- Análise e Pesquisa Figurino\Espetáculo
Professora Cecilia Borges.


Ele, ainda, fez parte do grupo Sociedade Cearense de Artes Plasticas (SCAP), onde marcou sua presença como membro e artista plástico em Salão de Pintura (III Salão de Abril,1947). Segundo Estrigas (1983)Flávio Phebo radicou-se em S. Paulo onde se situou muito bem como cenarista e decorador” (Os artistas da SCAP, p.32).  IMAGEM:  Estrigas (Nilo de Brito Firmeza). "A Fase Renovadora na Arte Cearense". Fortaleza, Edições Universidade Federal do Ceará, 1983. [Registro Iconográfico ]: reprodução minha, 2017.
Veja também:

Projeto de figurino parte teórica - Texto, “O Judas em Sábado de Aleluia”, de Martins Pena\Projeto de figurino parte teórica DISPONÍVEL http://notasdator.blogspot.com.br/2013/10/projeto-de-figurino-parte-teorica-texto.html

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