sexta-feira, 10 de junho de 2016

“EU SEI QUE o MAR É AZUL, MAS o MEU é VERMELHO”. Augusto Rodrigues (Jornal Arte & Educação nº 02, fevereiro de 1971, p. 05)

Transcrição elaborada por Lúcio Leonn, 2016
LEONN, LÚCIO. Augusto Rodrigues. Recorte da fotografia: Divulgação da Exposição de Augusto Rodrigues (Dia 05 de abril/Inauguração: GUIGNARD – Galeria – Av. Alfredo Balena, 586. Belo Horizonte-Minas). 1971. Periódico Arte & Educação - Escolinha de Arte do Brasil. Ano I, n. 3, p.8, mar. 1971.  1 fot., p&b, reprodução/coloração.


Matisse dizia que é preciso ver sempre com olhos de crianças. Eu prefiro dizer que melhor seria ver sempre com os próprios olhos. E concordo com Matisse, que é muito difícil, e exige muito esforço, sobretudo no mundo atual, ver as coisas na sua verdade.

Mas a criança com a visão pura, simples e direta, vê e descobre o que é essencial nas coisas. E perde essa qualidade porque a escola substituiu essa forma simples de agir.

Ao trocar a experiência viva por todo um sistema complexo de imagens e conceitos pré-fabricados. Quase que poderíamos dizer que as escolas tentam explicar o mundo à criança num quadro-negro.

O mundo cheio de interesse para a criança, vai sendo reduzido a um circulo de giz. Frio e vazio. E a criança se perde no emaranhado de preconceitos e imagens pré-fabricadas, onde mal se podem vislumbrar os seus primeiros impulsos–impulsos puros e generosos de conhecer o mundo para melhor amá-lo. Ensina-se à criança a desenhar um cavalo como se ela não o soubesse. Impõe-se que cada uma se pareça com a outra, ou seja, que se desfigure, perdendo a imagem a ser preservada, a do ser criador.

Um professor certa vez visitou uma exposição de desenhos. Havia dezenas deles, representando um pato. Todos parecidos uns com os outros. Quando ele perguntou a uma das crianças qual era o seu, ela, aturdida e angustiada, tentou encontrá-lo. E quando apontou para um deles, o correu ao professor, dadas a dúvidas da criança durante a busca, perguntar como sabia que aquele era o seu desenho. A criança respondeu: 

“eu tinha as mãos sujas e lá o meu desenho está sujo”.

A escola tradicional e rotineira promove esse fatal e terrível desencontro do homem consigo mesmo.  

Fonte consultada:
AUGUSTO RODRIGUES; CARVALHO, ORLANDO MIRANDA DE (supervisão editorial). Eu sei que o mar é azul, mas o meu é vermelho - ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro (Brasil): EDIÇÃO ESPECIAL EM COMEMORAÇÃO AOS 50 ANOS DA ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL, p.6, fev. 1999. Acervo pessoal (periódico) Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn.

(*** In memoriam ***)

[Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn].