Por Lúcio José de Azevêdo Lucena (Lúcio Leonn)
"Aos trinta dias do mês de junho, do ano de mil novecentos e quarenta e um, na Sede do Centro Estudantal Cearense, à rua Floriano Peixoto, n° 133, às 19,30 h, com a presença de quase a totalidade dos pintores residentes em Fortaleza, realizou-se a Sessão de Fundação de um Centro de Cultura de Belas Artes no Ceará. (...)." . IN: A Ata da fundação, segundo Estrigas (1983, p.14).
Já em 1944 o CCBA desapareceria num "velho prédio" da Intendência
(próximo à Praça do Ferreira). E, a 27 de agosto de 1944 é oficializada a fundação da
SCAP - A Sociedade Cearense de Artes Plásticas do Ceará.
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Nota
da foto (transcrição):“O velho prédio da
Intendência, onde nasceu a SCAP, num desenho de João Maria Siqueira.” Reprodução minha 2017, (Estrigas 1983, "Registro Iconográfico")
Informamos, que:
João Maria Siqueira foi pintor, também professor da SCAP, numa das turmas do Curso Livre de Desenho e Pintura (curso início: 1949 - término: 1953). Lá, Nice Firmeza [In memoriam]-(1921-2013), tornou-se sua primeira aluna inscrita (1950). No entanto, em maio de 1953 a SCAP funda noutro espaço, a sua Escola de Belas-Artes.
“Praça do Ferreira
(atual), vendo-se à direita o belo prédio da Rotisserie (hoje Caixa Econômica),
onde também esteve o CCBA (vide depoimento de Barboza Leite) e à esquerda,
fazendo diagonal com o primeiro, temos o velho prédio da Intendência (ver
depoimento de Barrica), onde esteve a última sede do CCBA e a primeira da
SCAP.”. (Nota da foto 2 (acima) -reprodução de livro - Estrigas, 1983; "Registro Iconográfico")
Sinalizamos, então, às palavras do depoimento, o registro seguinte:
“(...). Mantínhamos, na ocasião um atelier no 3º andar do Rotisserie. Havia uma divisão de salas separadas por tabiques que um grupo de estudantes transformara em ‘república’. Era um andar bem agitado pelos rapazes permutando-se coisas e problemas, num arrastar de tamancos pelo assoalho, naquela romaria clássica a um só banheiro no fim do corredor. Um modelo posava para [Antonio] Bandeira e [Mário Carneiro] Baratta. Este, como sempre, ruminando ideias que motivassem o interesse do povo pela pintura. Conversa vai e vem, ele propunha que os artistas fizessem alguma coisa que provocasse impacto, coisas assim como expor os quadros de cabeça para baixo numa sacada do edifício; atravessar a praça do Ferreira com um comboio de jegues carregando cavaletes em vez de cangalhas, e telas em branco, e latas de tinta com as cores derramando-se por cima dos animais, etc. Enfim, um acontecimento insólito que acordasse a consciência de todos para o nosso trabalho, um happening, como se diz hoje. Vai nisso, entre um traço, uma reflexão e um descanso para o modelo. Baratta concluía a exposição do seu plano mais ou menos assim: ... ‘dessa forma nós vamos tomar a cidade de assalto’. Aquele negócio de ‘a mata tem olhos e as paredes têm ouvidos’ funcionou direitinho. O cara que fez a denúncia, evidentemente, era um mau caráter. Ouviu o galo, mas não sabia onde. Bandeira, Baratta e o modelo sofreram o constrangimento de algumas horas de detenção e advertência de que não se brinca com palavras. O atelier foi lacrado pela policia, o denunciante deve ter metido o rabo onde convinha, enquanto ação dos artistas era, mais uma vez, interrompida até a evidência de outras teimosias que se seguem.”. Segundo o Pintor Barboza Leite, em subtópico “O Assalto que não Houve”. (Segundo Estrigas 1983 p.91-92; (2a Parte: Artistas Plásticos, (depoimentos)).). Transcrição minha, (grifos nossos; quanto à grafia nome do pintor original do livro).
Revelamos o (inusitado) depoimento do Pintor Barrica, conjuntamente. Vejamos!
“Sabemos o que foi o abrigo central em Fortaleza, construído na gestão de Acrísio Moreira da Rocha, ali encostado na velha e legendária rua Pará. Pois bem, foi nesse pitoresco recanto, na prolongação da rua Guilherme Rocha, Praça do Ferreira, esquina com a rua Major Facundo, ponto central de Fortaleza – o Café Emídio e suas vizinhanças: Crisântemo, Café Iracema. A Paraense, Casa Mundlos e o célebre prédio, o último deste quarteirão, esquina com a rua Floriano Peixoto, a que me refiro neste trabalho – a Intendência. Velho edifício, acima da cúpula o velho relógio que marcava a hora certa daquela gente romântica. Uma fachada com relevos registrava a marca da velha arquitetura, porta larga de carvalho com dobradiças enormes, escadaria e corrimão de jacarandá polido, onde centenas de pessoas subiam diariamente a negócios de interesse público. dos salões mobiliados, com janelas aos quatro lados, se descortina o panorama lindo da Praça do Ferreira jardinada de verdura e flores, ao lado norte a intensidade de telhados daqueles prédios mais baixos vendo-se o panorama de nossa bela cidade.
Os últimos
acontecimentos deste prédio foi a instalação completa do CCBA com móveis,
biblioteca, mesas, cadeiras e alguns utensílios de pintura e desenho. Dirigido por
alguns pintores comandados por alguns poetas e jornalistas que finalmente não
foi avante. Ameaçado pela demolição e o pouco interesse dos associados, o CCBA
caiu e finalmente não havia mais nenhuma condição de existir; infelizmente
todos os pertences eram da prefeitura; o prédio tornou-se desabitado. Ao lado
da porta a cadeira de engraxate do Joca, o mudo, aquele mudo muito típico bodejando
para a sua clientela, conversando com os dedos, fazendo gestos e contando histórias.
O trânsito era interrompido na calçada; ninguém penetrava para subir as escadas
porque as portas eram cerradas e tinha um vigia que morava em cima. Este vigia
era corcunda baixo e gordo, responsável por todos os móveis existentes no prédio.
Certamente estes móveis seriam divididos para outras repartições do Estado. Acontece
que, certa manhã, surpreendido por dois ladrões, um deles disfarçados em
presidente do CCBA, atacaram o vigia e fizeram descer tudo que existia no prédio,
móveis, cortinas, mesas, estantes, utensílios de desenho, máquina de escrever, relógio
de parede, biblioteca, enfim vasculharam tudo, deixando apenas o vigia sozinho
sem compreender e pálido de espanto. Lá em baixo três carroceiros com três carroças puxadas
a burro transportaram a bagagem toda para um ignorado local esquina da Praça José
de Alencar, altos do Bar Americano. Neste local o CCBA se transformou em SCAP e
os dois ladrões até hoje não foram procurados. (...).”. Estrigas, (Artistas
Plásticos, p.73-74). Transcrição minha, 2017.
Por fim, “A sede da SCAP, então, era nos altos do prédio de esquina das ruas Guilherme Rocha e General Sampaio. (...).". (Segundo depõe o Pintor Afonso Bruno (1974); segundo, ainda, registra Estrigas, p.81).
Nota da Imagem:
"Sede, nos altos (foto atual), da SCAP, para onde Barrica e Barboza Leite levaram o acervo da sociedade quando da demolição do prédio da Intendência" [que era nas proximidades de Praça do Ferreira].
Fonte consultada: Estrigas (Nilo de Brito Firmeza). "A Fase Renovadora na Arte Cearense". Fortaleza, Edições Universidade Federal do Ceará, 1983 (136p.). *** Fotorreprodução minha, (2017)
Foto
3 - Crédito (Arquivo Nirez): publicada em 9 de dezembro de 2016, por J Pinheiro Júnior (Fortaleza Antiga) - Sob o enfoque:"Praça do Ferreira, vendo-se o belo Palacete
Ceará em 1925" -Facebook (grupo Fortaleza Antiga. Acesso como membro, em: jan.:2017): montagem aqui, nosso contexto.
(Foto3 -tamanho original) J Pinheiro Júnior -Facebook (grupo Fortaleza Antiga). Arquivo Nirez Vide vários registros Imagem do prédio em:
Biografias
Breves
(Copyright\fotoMINIMUSEU
FIRMEZA)
Barbosa Leite
Francisco Barbosa Leite (Uruoca/CE, 1920 – Duque de
Caxias/RJ, 1996)
Gravador,
pintor, professor e ensaísta. Participou dos Salões Cearenses de Pintura,
organizados pelo Centro Cultural de Belas Artes (CCBA), sendo premiado diversas
vezes. Estudou gravura com Henrique Oswald e Oswaldo Goeldi. Foi um dos
fundadores da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), em Fortaleza (CE).
Em 1949, publicou “Esquema da Pintura no Ceará”. Em 1952, foi residir em Duque
de Caxias (RJ), onde se tornou professor na Escola Normal Santo Antônio e
coordenador da Escolinha de Arte da Fundação Álvaro Alberto. Em 1952, ajudou a
organizar a mais importante exposição de artes plásticas até então realizada na
cidade, que contou com a participação de trabalhos de artistas como Antônio
Bandeira, Goeldi, Bruno Giordi, Inimá, Ana Letícia e Iberê Camargo. No ano de
1967 colaborou com Laís Costa Velho na criação do Teatro Municipal Armando
Melo, o primeiro teatro da cidade de Duque de Caxias (RJ). Fonte: http://minimuseufirmeza.org/artista/francisco-barbosa-leite
(acesso janeiro de 2017).
(Copyright\fotoMINIMUSEU FIRMEZA)
Guilherme Clidenor de Moura Capibaribe
(Juazeiro do Norte/CE, 1908 - Fortaleza/CE, 1993)
Desenhista,
pintor e ceramista, iniciou-se nas artes plásticas em 1923, recebendo
posteriormente aulas de pintura de Gérson Faria. Expôs individualmente mais de
uma centena de vezes, destacando-se as mostras realizadas no Instituto
Brasil-EUA (CE), em 1948; no Museu de Arte da UFC – MAUC (CE), em 1963 e 1982;
na Galeria Copacabana Arte (RJ), em 1958, 1959 e 1960; na Galeria Coleccio
(SP), em 1971; na Galeria Renot (SP), em 1981; e no Estado de Michigan (EUA),
em 1984. Em 1941, Barrica esteve entre os fundadores do Centro Cultural de
Belas Artes (CCBA) e, em 1944, entre os fundadores da Sociedade Cearense de
Artes Plásticas (SCAP). Participou ainda do Salão de Abril, em Fortaleza (CE),
nos anos de 1946, 1947, 1948, 1950, 1951, 1953 e 1958, fazendo jus à Menção
Honrosa que recebeu nos anos de 1951 e 1953. Fonte: http://minimuseufirmeza.org/artista/barrica
(acesso:
janeiro de 2017).
(Copyright\fotoMINIMUSEU FIRMEZA)
Mário Baratta
Mário Carneiro Baratta (Rio de Janeiro/RJ, 1915 -
1983)
Nasceu
no Rio de Janeiro (RJ) e transferiu-se para Fortaleza (CE), em 1932, onde
estabeleceu amizade com a classe artística e com a intelectualidade local.
Participou da fundação do Centro Cultural de Belas Artes (CCBA), em 1941, a
primeira instituição dedicada às artes plásticas do Estado do Ceará, na qual
foi o maior agente catalisador e ideólogo, sendo também o primeiro diretor da
instituição. Participou também da fundação da Sociedade Cearense de Artes
Plásticas (SCAP), em 1944, na qual chegou a presidir. Participou do I, II e III
Salões Cearenses de Pintura, realizados pelo CCBA, em 1941, 1942 e 1944. Também
participou da Exposição “Pinturas de Guerra”, primeiro evento criado pela SCAP.
Participou ainda dos I, II, X, XIV, XX, XXIII, XXV e XXVIII Salões de Abril
realizados em Fortaleza (CE), entre os anos de 1943 e 1978. Fonte: http://minimuseufirmeza.org/artista/mario-baratta (acesso: janeiro de 2017).
Estrigas
Nilo de Brito
Firmeza (Fortaleza/CE, 1919 – 2014)
Artista
plástico, crítico de arte e historiador. Iniciou-se nas artes plásticas como
aluno do Curso Livre de Desenho e Pintura, em 1950, na Sociedade Cearense de
Artes Plásticas (SCAP), da qual foi presidente em 1953. Participou do VIII
Salão de Abril, em 1952, e do I e II Salão dos Novos, em 1952 e 1953, sendo
premiado neste último ano. Em 1954, concorre ao X Salão de Abril, no qual lhe
foi conferida a Medalha de Prata. Participa, desde então, de quase todos os
Salões de Abril até 1975, quando expõe em Sala Especial; e ainda do III Salão
dos Independentes (CE), em 1954; Arte Concreta (CE), em 1957; Arte de Vanguarda
(Fortaleza-CE, 1960); Mostra Inaugural do Museu de Arte da UFC (CE), em 1961; A
Paisagem Cearense (CE), em 1963; I Salão de Artes Plásticas do Ceará (CE), em
1967; e outros mais. Expõe, ainda, no I Salão dos Jornalistas (RJ), em 1960; no
XXIV e XXV Salões Paulistas de Belas Artes (SP), 1959/1961 – fazendo jus à
Medalha de Bronze, em 1959; e no Panorama da Arte Atual Brasileira (SP), em
1976. Escreve sobre arte em jornais, revistas e catálogos. Teve participação em
inúmeros juris de seleção e premiação de salões de arte em Fortaleza (CE). É
autor de vários livros sobre arte e ilustrou vários outros de autores
cearenses. Fundou e manteve, com a pintora Nice Firmeza, o MiniMuseu Firmeza,
um espaço cultural, artístico e ecológico e centro de pesquisa de arte do
Ceará, na casa e no sítio onde residiam. Doou vinte e duas obras de Aldemir
Martins, dentre gravuras e desenhos, ao Museu de Arte da UFC (MAUC). É verbete,
dentre outros, no “Dicionário das Artes Plásticas no Brasil”, de Roberto
Pontual, e no “Dicionário Crítico de Pintura no Brasil”, de José Roberto
Teixeira Leite. Fez sua última exposição no SESC Fortaleza, em 2014, aos 95
anos. Fonte: http://minimuseufirmeza.org/artista/estrigas
(acesso:
janeiro de 2017).
Antonio Bandeira
(Fortaleza CE 1922 - Paris, França 1967), em:
Afonso
Lopes Gonçalves (Fortaleza/CE, 1918 – 2000) em: http://minimuseufirmeza.org/artista/afonso-lopes
João Maria
Siqueira (Pacatuba/CE, 1917 - Fortaleza/CE, 1997) em: http://minimuseufirmeza.org/artista/joao-maria-siqueira
***
Mais sobre a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Fortaleza, CE) http://enciclopedia.itaucultural.org.br/instituicao16892/sociedade-cearense-de-artes-plasticas-fortaleza-ce
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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Memória: Centro de Cultura de Belas Artes no Ceará(CCBA),1941 | SCAP - A Sociedade Cearense de Artes Plásticas(1944)
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