(Transcrição elaborada por Lúcio Leonn, 2016)
Em
busca de uma consciência original
DURMEVAL
TRIGUEIRO MENDES
A arte é a expressão mais forte de
originalidade de cada cultura. Seu apoio e inspiração na arte, a técnica, que é
a força dominante em nossa época, poderá apagar as diferenças culturais,
promovendo um nivelamento que em vez de ajudar, pode prejudicá-la, sobrepondo
aos valores específicos do homem os interesses da Máquina do Lucro, do Poder e
da Dominação, lançando grupos, classes e nações, uns contra os outros. O
segredo da Arte, como fonte de cultura, é que ela diversifica unindo; cada uma
de suas manifestações corresponde a uma faceta do homem, e todas elas reunidas
formam a imagem do homem todo. Daí porque as artes se chamam entre si, o porque
cada cultura se interessa pelas outras culturas. Dai porque o mundo da Arte é o
mundo da Simpatia humana no sentido mais forte da Fraternidade.
As muitas Escolinhas de Arte espalhadas
pelo Brasil formam as muitas imagens do mesmo País, assim como outras escolas
semelhantes, distribuídas pelo mundo, representando a imagem multiplicada do
homem, em todas as partes da terra.
O corpo e a alma da cultura estão
ligados, antes de mais nada, às sensibilidades mais primeiras, aquelas com que
a criança recebe em seu pequeno universo as primeiras impressões e
experiências. E são essas sensibilidades que dão, ao mesmo tempo, o impulso e o
molde a todos as suas elaborações posteriores, inclusive no plano científico. A
ciência é o reino da Objetividade. Mas o Objetivo é o menos objetivo do que
parece. É a realidade, mas também o modo de olhar a realidade, que a gente
aprende quando abre os olhos ao mundo e começa a exercer sobre ele a aventura
de nossa criatividade. Felizes os que, nesse momento, podem objetivar as suas
visões, através da arte. Dos que, nesse instante, estão munidos de lápis ou
pincel para passear, livremente sobre o papel, as suas “divagações”. Nesse
sentido a arte é o fazer que se confunde com o ser. O fazer da criança que
desenha é o seu ser: Ele se faz fazendo. Dai a importância fundamental do fazer
na educação mas o fazer que conta não é o mecânico, o repetitivo, o “ensinado”
e, sim o fazer da arte, isto é: o fazer que é criação e, antes de tudo, criação
do nosso próprio ser.
Daí, também, porque a arte nesse sentido
não é o fazer à parte de todos os nossos fazeres, como alguma coisa de
artificial, de reservado a iniciados e predestinados; mas é o fazer de todos os nossos fazeres,
desde que obedeçam ao sopro livre da criação. O importante é recriar o objeto
por uma consciência que se assume inteiramente, e se torna capaz de descobrir,
dentro de si próprio, a visão inaugural de cada ser, de cada coisa, ou pessoa.
Uma consciência que se liberta do nivelamento e da opacidade dos adultos.
Trata-se de opor a criação à convenção, a liberdade que renova o mundo ao freio
que lhe impõe antigas mordaças, o “eu profundo” ao “eu de superfície” de que
falava Bergson. Só nessas condições o ser humano adquire a verdadeira
inteligência, que é sempre criadora, e o caráter autêntico, que é sempre a
coragem de assumir-se.
Por isso, a arte na educação não
significa “educação artística” no sentido convencional, mas significa a
educação em si mesma. Fazer-se fazendo. Se é verdade que com a experiência não
há nenhuma educação ou aprendizagem, também é verdade que sem essa experiência
radical não é possível a educação que prepara cada homem para introduzir na
sociedade uma consciência original, fonte de fertilização e de mudança.
Fonte
consultada:
AUGUSTO
RODRIGUES (editor); DURMEVAL TRIGUEIRO
MENDES: Em busca de uma consciência original – Jornal ARTE & EDUCAÇÃO,
Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 9, p.10, jan. 1972.
Acervo pessoal (periódico) Lúcio José de Azevêdo Lucena – Lúcio Leonn.
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1. Durmeval
Bartolomeu Trigueiro Mendes - filósofo e educador - nasceu no dia
9 de fevereiro de 1927, em Cuiabá, Mato Grosso. Faleceu no Rio de Janeiro, dia
9 de dezembro de 1987. Cursou Filosofia no Seminário Arquidiocesano de João
Pessoa. Ainda, cursou Letras Clássicas na Universidade Católica de Pernambuco (1950).
E, foi Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (1951). Ocupou
na UFPB cargos, como: Professor Titular de Sociologia da Educação, na Faculdade
de Filosofia da Paraíba, a partir de 1952. E, foi o Primeiro Reitor – (12/1955
a 12/1956). Em 1958, transfere-se para o Rio de Janeiro, atendendo a chamado de
Anísio Teixeira (1900-1971), Diretor do INEP, para exercer o cargo de
Supervisor da Campanha de Educação Complementar, do Ministério de Educação e
Cultura (MEC), governo federal.
2. ... O “eu
profundo” ao “eu de superfície” de que falava Bergson...
Henri-Louis
Bergson (1859-1941). É um dos precursores das ideias sobre o ser humano e da
psicologia. O pensamento de Bergson se constrói sobre quatro bases fundamentais
às noções, a saber: duração, memória, impulso (élan) vital e intuição. Brevemente, aqui;
o “eu profundo” (subjetividade / “... liberdade
que renova o mundo...”) tem o poder criador, quanto o “eu de superfície” (passividade
/ “... impõe antigas mordaças...”) se
constrói a partir da educação e da vida social.
3. Enfim, o que vale defender: “pensamentos bergsonianos” –, é ressaltar, que: “O importante é recriar o objeto por uma consciência que se assume
inteiramente, e se torna capaz de descobrir, dentro de si próprio, a visão
inaugural de cada ser, de cada coisa, ou pessoa. [...] Só nessas condições o
ser humano adquire a verdadeira inteligência, que é sempre criadora, e o caráter
autêntico, que é sempre a coragem de assumir-se”; “em busca de uma consciência
original” – “fonte de fertilização e de mudança”; seguindo os pensamentos de Durmeval Trigueiro Mendes, (1972 –, texto acima).
4. ... “educação
artística” no sentido convencional ...
A
partir da obrigatoriedade da Lei (LDB, anterior) nº 5.692/1971 coube à inclusão de “Educação Artística” nos currículos plenos
dos estabelecimentos de lº e 2º graus - tal ensino era agregado à disciplina\professor(a)
de Comunicação e Expressão. Pautava uma aprendizagem\ensino voltado a “Pedagogia
de Espera”. Além de contar com defasagem de cursos de formação de professores (licenciaturas);
não se percebia um Ensino de Arte autêntico e autônomo, junto aos educandos. Isto
é, o seu poder criador interligando a transformação da realidade quanto à articulação
de conhecimento ou valor cientifico. Ou quanto uma, mas desejável mudança educacional, a partir
de experiência radical. No olhar de Durmeval Trigueiro Mendes, (1972): “É a realidade, mas também o modo de olhar a
realidade, que a gente aprende quando abre os olhos ao mundo e começa a exercer
sobre ele a aventura de nossa criatividade. [...] Nesse sentido a arte é o
fazer que se confunde com o ser. O fazer da
criança que desenha é o seu ser: Ele se faz fazendo. Dai a importância
fundamental do fazer na educação mas o fazer que conta não é o mecânico, o
repetitivo, o 'ensinado' e, sim o fazer da arte, isto é: o fazer que é criação
e, antes de tudo, criação do nosso próprio ser”. (Destaco tal passagem – texto supracitado).
5. Ainda, sobre o texto em fundamentação, (“Em busca de uma consciência original”) ou, sob o efeito na legislação escolar brasileira (Lei 5.692/1971), pesquiso para destacar o seguinte dizer: “E quando DURMEVAL TRIGUEIRO fala ‘na educação que prepara cada homem para introduzir na sociedade uma consciência original, fonte de fertilização e de mudança’, temos que voltar o nosso pensamento à reforma do ensino dos 1ª e 2ª graus, promovida pelo Governo, desde agosto de 1971, onde, de certa maneira, se dá destaque especial às atividades criadoras. Devemos, sobre ela sua importância, tecer algumas considerações. [...]. Em síntese: a reforma somente se tornará efetiva pela reforma do próprio professor.
Simultaneamente com essa reforma, há que ser alterado, também, o conceito que se tem da escola. [...]. ”.(Segundo nos situa o depoimento de Augusto Rodrigues, em: O movimento das Escolinhas de Arte e suas perspectivas, jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 12, p.3, jul. 1972).
5. Ainda, sobre o texto em fundamentação, (“Em busca de uma consciência original”) ou, sob o efeito na legislação escolar brasileira (Lei 5.692/1971), pesquiso para destacar o seguinte dizer: “E quando DURMEVAL TRIGUEIRO fala ‘na educação que prepara cada homem para introduzir na sociedade uma consciência original, fonte de fertilização e de mudança’, temos que voltar o nosso pensamento à reforma do ensino dos 1ª e 2ª graus, promovida pelo Governo, desde agosto de 1971, onde, de certa maneira, se dá destaque especial às atividades criadoras. Devemos, sobre ela sua importância, tecer algumas considerações. [...]. Em síntese: a reforma somente se tornará efetiva pela reforma do próprio professor.
Simultaneamente com essa reforma, há que ser alterado, também, o conceito que se tem da escola. [...]. ”.(Segundo nos situa o depoimento de Augusto Rodrigues, em: O movimento das Escolinhas de Arte e suas perspectivas, jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 12, p.3, jul. 1972).
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6. No mais, sobre DURMEVAL TRIGUEIRO MENDES: IDÉIAS, PROPOSTAS E ATUAÇÃO - Fávero, Maria de Lourdes de Albuquerque.(2008) Disponível: http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/400/381
7. Sinalizo para pesquisa “BERGSON E O EU DIVIDIDO” (2014)- Disponível em http://www.dfmc.ufscar.br/uploads/publications/565c8caa1ac1c.pdf
Contextualização
[Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn]