terça-feira, 12 de julho de 2016

((Memória)) - Iréne Landau (1950): A Morte de Nijinsky, (Jornal O Grilo ––Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves_RJ)

“Eu estava acostumada a pensar em Nijinsky como se fora uma figura da eternidade, e uma figura de eternidade não pode morrer! Eu conheço várias meninas que choraram ao sabe-lo e sem nunca tê-lo visto e eu não estava longe. [...] Li muita coisa sobre Nijinsky mas quase tudo falava dele durante a sua loucura. Pois eu vou parar justamente neste ponto, porque afinal é como se ele tivesse morrido. [..] Nijinsky foi o melhor bailarino do mundo. Era como um pássaro, mais leve do que o próprio ‘espectro da rosa’. A sua mímica era fantástica e ele tinha um grande desprezo por tudo que era artifício” (Apud Iréne Landau (In: A Morte de Nijinsky, 1950): segundo Lúcio Leonn, 2016).

 
(Imagem para ilustração do texto de Iréne Landau -Vatslav Fomitch Nijinski, em “L’après midi d’un faune” / reprodução): Disponível em: http://artsalive.ca/en/dan/meet/bios/artistDetail.asp?artistID=52) 
A Morte de Nijinsky
por Iréne Landau

Transcrição elaborada a partir do Jornal O Grilo –– Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, por Lúcio Leonn (2016)

Numa segunda feira à noite quando eu estava na minha aula de ballet recebi a notícia:
“Nijinsky morreu”.
Não era possível! Nijinsky, o maior bailarino do mundo, não podia morrer! Não! Aquilo era mentira!
Eu estava acostumada a pensar em Nijinsky como se fora uma figura da eternidade, e uma figura de eternidade não pode morrer! Eu conheço várias meninas que choraram ao sabê-lo e sem nunca tê-lo visto e eu não estava longe.
O mais triste porém foi a vida dêle:
Quando o pequeno Vaslaw completou 10 anos sua mãe, antiga bailarina, colocou-o na grande escola de bailado do teatro Marynski.
Vaslaw era polonês.
 Ele era uma criança como as outras e muito levado. Tendo sido abandonada pelo marido, a mãe dele estava na miséria... 
Depois de cursar 7 anos no teatro Marynski. Ele entrou na companhia de Diaguilef  onde se tornou o primeiro bailarino e viajou muito.
Diaguilef  brigou com Nijinsky quando êste casou com Romola.
Sim! Diaguilef, o seu melhor amigo!
Depois veio a guerra que muito os afetou.
Eles tiveram uma filha Kyra que hoje é uma bailarina pouco famosa na América do Norte.
Com a guerra, o rompimento com Diaguilef e várias outras razões, Nijinsky perdeu a razão.
Li muita coisa sôbre Nijinsky mas quase tudo falava dêle durante a sua loucura. Pois eu vou parar justamente nêste ponto, porque afinal é como se êle tivesse morrido.
Nijinsky foi o melhor bailarino do mundo.
Era como um pássaro, mais leve do que o próprio “espectro da rosa”. A sua mímica era fantástica e êle tinha um grande desprêzo por tudo que era artifício. Até a sua mão guardava a pose natural, sem levantar ou abaixar um dedo. Tinha uma técnica que ninguém conseguiu igualar. Tinha pernas horríveis, o que não o impediu sua carreira.
Nijinsky também criou vários bailados, bailados êstes que revolucionaram o publico snob na apresentação de “L’après midi d’un faune”. Uns atiravam-lhes tomates e ovos podres e outros flores. Porque “L’après midi d’un faune” e “Jeux” eram de uma técnica completamente diferente. Os bailarinos não deveriam fazer caso das cinco posições e até foi dificílimo acostumá-los a dançarem sem aqueles padrões de movimentos.
Estabeleceu-se uma grande luta contra “L’après midi d’un faune”. Nijinsky tinha entre seus defensores Rodin e muitos outros artistas.
Enfim, triunfou.
Toda a vida de Nijinsky foi um triunfo. As pessoas que o viam batiam-se para arrancar-lhe um pedaço de roupa.
Pena eu não ter nascido há alguns anos atrás para ter visto com meus próprios olhos a dança de Nijinsky.
(Apud Iréne Landau)

[Faço questão de manter o vocabulário e a gramática característica da escrita original jornal O Grilo––Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves| Década de publicação: 1950] Lúcio Leonn.

Fonte consultada:
RODRIGUES, AUGUSTO. Iréne Landau: A Morte de Nijinsky – Jornal O Grilo, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, Ano I, n.3, p.2, abr.-mai. 1950. Acervo pessoal (periódico) Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn.

Notas de contextualização (à parte) minhas:
1.     Nijinski nasceu em Kiev, no dia 12 de Março de 1890;

2.  O Teatro Mariinski foi inaugurado em 1860 - está localizado na cidade russa de São Petersburgo;

3.  Sergei Diaghilev (nasceu em 1872 e faleceu em 1929): foi agente e diretor artístico, idealizador dos Ballets Russes (1909-1929) - Uma companhia de grandes bailarinos famosos;

4.  Nijinski e Diaghilev nutriram ambos, igualmente, os comportamentos de seu tempo: vidas entrelaçadas entre a Arte (dança), o amor e os tormentos a dois;

5.  Pois, Nijinski se apaixonou pela também bailarina da mesma companhia, Romola de Pulszkie quando se casaram em Buenos Aires, durante a turnê (ano de 1913). E, Sergei Diaghilev o despediu da companhia. Atos de ciúmes, entre um e outro. Embora, Nijinski retorna à companhia por Diaghilev, depois;

6. “O Espectro da Rosa” (Balé de um Ato - E o personagem do balé homônimo), interpretado por Nijinski no Teatro de Montecarlo (França), onde fez dupla com Tamara Karsavina, no papel da jovem moça, (ano de 1911); 

7.     Pelo contexto refere-se à [Primeira] Guerra Mundial (1914-1918);

8.  “L’Après Midi d’un Faune”, (À Tarde de um Fauno-1912) e “Jeux” (jogos – em ano seguinte,1913) foram coreografadas\dançadas por Nijinsky – Vindo a revolucionar à dança moderna como também, o apreciar de uma pernóstica plateia àquela época, acerca da Dança Clássica;

9.  Iréne Landau, também foi aluna de Augusto Rodrigues, época da Primeira Turma da Escolinha de Arte do Brasil- (EAB).   Leia abaixo, seu depoimento;   

10.  Iréne Landau diz: “ ‘Tive a infância mais feliz que uma criança poderia ter e sempre que penso nela é a Escolinha que me aparece... No meu tempo todos tomávamos conta da Escolinha, tínhamos a impressão de que ela só existia porque cuidávamos dela e que os professores só estavam ali porque, afinal de contas, tinha que ter gente para ajudar a gente, para dizer que isso ou aquilo era formidável ou muito bom e também porque eles gostavam da gente. Ainda me lembro muito bem como tinha medo que a Escolinha fechasse por falta de dinheiro’. (Carta a Augusto de uma aluna — Irene Landau — da primeira turma da Escolinha, com data de 20 de agosto de 1961)”. Trecho do livro Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: MEC/INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).  In As crianças falam, (1980, p.47);

11. O Texto acima, transcrito do Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves e publicado por Iréne Landau ––faz referência ao ano em que morre (em Londres, no dia 08 de abril de 1950): Vatslav Fomitch Nijinski - “Nosso maior bailarino do mundo”;

12. Já Diaghilev e o seu balé russo –– ponto de igualdade de composição de cenário (arte figurativa); justapõem-se aos movimentos acústicos e coreográficos da época.

13. Sobre o Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves; pesquisei: “O primeiro jornal da Escolinha (ainda chamada Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves), intitulado ‘O Grilo’, não traz data, mas circulou com as normas diretoras definidas pelos alunos em conjunto com o professor Augusto Rodrigues, destacando-se: ‘o jornal é dirigido por uma comissão de cinco membros. Só podiam ser votadas para a comissão, crianças com mais de dez anos’. Sendo de espírito livre, os artigos deveriam ser corrigidos o menos possível. Pedia-se sempre ao redator de um artigo que o revisasse ele próprio. O número um do jornal, mimeografado e colorido a lápis, exemplar por exemplar, foi lançado sem data e ano, mais provavelmente em janeiro de 1950”. (Texto do livro 60 anos de Arte-Educação, através da Escolinha de Arte do Brasil. Org: Jader de Medeiros Britto. In: Capítulo ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL: CRONOLOGIA DOS 60 ANOS – 1949. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008, p. 19);


14.  Ainda, o supracitado livro, nos indica mais uma vez, sobre Jornal O Grilo: “Em março, foi publicado o número dois do jornal ‘O Grilo’, e o número três circulou em maio, encerrando a breve e significativa história do jornalzinho. Os dois últimos números foram impressos, [...]”, (Idem. In: Capítulo ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL: CRONOLOGIA DOS 60 ANOS – 1950. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008 p.22);


15.  No período do jornal O Grilo, a Escolinha, ainda, estava instalada numa pequena sala de passagem (corredor) para a Biblioteca Castro Alves (sua primeira sede), prédio do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (Ipase), centro do Rio de Janeiro;

16.  Foi a partir de setembro do ano de 1970 somente, é publicada a primeira edição (o número zero) do jornal oficial “Arte & Educação”. Partindo da ideia primordial da professora Zoé Chagas Freitas, a cargo seu também, coube à editoração geral do jornal e, edição-executiva teve à frente Jader de Medeiros Britto. Contando, ainda com apoio inicial da educadora, Iara Rodrigues e do cartunista Ziraldo, idealizador do logotipo do jornal. Além de artigos de Anísio Teixeira. Lúcia Valentim, Nise da Silveira, Augusto Rodrigues, Ilo Krugli, Maria Helena Novaes, demais colaboradores; o jornal “Arte & Educação” era formatado e impresso na gráfica do jornal o Dia;

17.  As cinco posições básicas dos pés no balé; além de coordenar os movimentos de braços; o equilíbrio (o eixo gravitacional); seguiam o padrão; a codificação - a técnica criada pelo coreógrafo francês, bailarino e mestre de dança, Charles-Louis-Pierre de Beauchamps, (que nasceu em Versalhes, 30 de outubro de 1631 e faleceu em Paris, fevereiro de 1705) –“Porque “L’après midi d’un faune” e “Jeux” eram de uma técnica completamente diferente [...]. Foi dificílimo acostumá-los a dançarem sem [esses] padrões de movimentos.”[...]. (Iréne Landau, segundo Leonn, 2016). Grifos meus

18.  René-François-Auguste Rodin. Importante artista e escultor francês, influenciado pela corrente do impressionismo e simbolismo (Nasceu em Paris, em 12 de novembro de 1840 e morreu em Meudon, no dia 17 de novembro de 1917). Rodin teve como assistente de atelier, a também escultora Camille Claudel (1864-1943), com quem viveu um tórrido romance.

19.Sobre Diaghilev Ballets Russes. Vide: http://www.russianballethistory.com/ballethistories.htm

20. Destaco especialmente (às crianças), na época, aos escritos no Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves: Iréne Landau e Newton Augusto Goldman.  Igualmente,  "Na reunião em que se consideram fundada a Biblioteca [de Arte, (1950)] fez-se a eleição por voto secreto para os cargos de bibliotecários. Foram eleitos Iréne Landau e Newton Augusto Goldman" (In: Biblioteca de Arte – Jornal O Grilo, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, ano I, n.3, p.5, abr./mai. 1950, (segundo AUGUSTO RODRIGUES (1950): segundo LUCENA, 2016.).

21. (Vídeo) Les Ballets Russes de Nijinsky


Notas de contextualização (à parte) por [Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn].