sábado, 30 de julho de 2016

“Em busca de uma consciência original”, por Durmeval Trigueiro Mendes, (1972): Memória – AUGUSTO RODRIGUES (editor)

(Transcrição elaborada por Lúcio Leonn, 2016)

Em busca de uma consciência original
DURMEVAL TRIGUEIRO MENDES
LEONN, LÚCIO. Augusto Rodrigues; Frederico Mendes/Recorte da foto: Crianças de mãos dadas cantam e dançam de roda - Texto: Durmeval Trigueiro Mendes. 1972. Periódico: Arte & Educação - Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 9, p.10, jan. 1972.  1 fot., p&b, reprodução/coloração minha.
A arte é a expressão mais forte de originalidade de cada cultura. Seu apoio e inspiração na arte, a técnica, que é a força dominante em nossa época, poderá apagar as diferenças culturais, promovendo um nivelamento que em vez de ajudar, pode prejudicá-la, sobrepondo aos valores específicos do homem os interesses da Máquina do Lucro, do Poder e da Dominação, lançando grupos, classes e nações, uns contra os outros. O segredo da Arte, como fonte de cultura, é que ela diversifica unindo; cada uma de suas manifestações corresponde a uma faceta do homem, e todas elas reunidas formam a imagem do homem todo. Daí porque as artes se chamam entre si, o porque cada cultura se interessa pelas outras culturas. Dai porque o mundo da Arte é o mundo da Simpatia humana no sentido mais forte da Fraternidade.
As muitas Escolinhas de Arte espalhadas pelo Brasil formam as muitas imagens do mesmo País, assim como outras escolas semelhantes, distribuídas pelo mundo, representando a imagem multiplicada do homem, em todas as partes da terra.
O corpo e a alma da cultura estão ligados, antes de mais nada, às sensibilidades mais primeiras, aquelas com que a criança recebe em seu pequeno universo as primeiras impressões e experiências. E são essas sensibilidades que dão, ao mesmo tempo, o impulso e o molde a todos as suas elaborações posteriores, inclusive no plano científico. A ciência é o reino da Objetividade. Mas o Objetivo é o menos objetivo do que parece. É a realidade, mas também o modo de olhar a realidade, que a gente aprende quando abre os olhos ao mundo e começa a exercer sobre ele a aventura de nossa criatividade. Felizes os que, nesse momento, podem objetivar as suas visões, através da arte. Dos que, nesse instante, estão munidos de lápis ou pincel para passear, livremente sobre o papel, as suas “divagações”. Nesse sentido a arte é o fazer que se confunde com o ser. O fazer da criança que desenha é o seu ser: Ele se faz fazendo. Dai a importância fundamental do fazer na educação mas o fazer que conta não é o mecânico, o repetitivo, o “ensinado” e, sim o fazer da arte, isto é: o fazer que é criação e, antes de tudo, criação do nosso próprio ser.
Daí, também, porque a arte nesse sentido não é o fazer à parte de todos os nossos fazeres, como alguma coisa de artificial, de reservado a iniciados e predestinados; mas é o fazer de todos os nossos fazeres, desde que obedeçam ao sopro livre da criação. O importante é recriar o objeto por uma consciência que se assume inteiramente, e se torna capaz de descobrir, dentro de si próprio, a visão inaugural de cada ser, de cada coisa, ou pessoa. Uma consciência que se liberta do nivelamento e da opacidade dos adultos. Trata-se de opor a criação à convenção, a liberdade que renova o mundo ao freio que lhe impõe antigas mordaças, o “eu profundo” ao “eu de superfície” de que falava Bergson. Só nessas condições o ser humano adquire a verdadeira inteligência, que é sempre criadora, e o caráter autêntico, que é sempre a coragem de assumir-se.
Por isso, a arte na educação não significa “educação artística” no sentido convencional, mas significa a educação em si mesma. Fazer-se fazendo. Se é verdade que com a experiência não há nenhuma educação ou aprendizagem, também é verdade que sem essa experiência radical não é possível a educação que prepara cada homem para introduzir na sociedade uma consciência original, fonte de fertilização e de mudança.

Fonte consultada:
AUGUSTO RODRIGUES (editor); DURMEVAL TRIGUEIRO MENDES: Em busca de uma consciência original – Jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 9, p.10, jan. 1972. Acervo pessoal (periódico) Lúcio José de Azevêdo Lucena – Lúcio Leonn.
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1. Durmeval Bartolomeu Trigueiro Mendes - filósofo e educador - nasceu no dia 9 de fevereiro de 1927, em Cuiabá, Mato Grosso. Faleceu no Rio de Janeiro, dia 9 de dezembro de 1987. Cursou Filosofia no Seminário Arquidiocesano de João Pessoa. Ainda, cursou Letras Clássicas na Universidade Católica de Pernambuco (1950). E, foi Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (1951). Ocupou na UFPB cargos, como: Professor Titular de Sociologia da Educação, na Faculdade de Filosofia da Paraíba, a partir de 1952. E, foi o Primeiro Reitor – (12/1955 a 12/1956). Em 1958, transfere-se para o Rio de Janeiro, atendendo a chamado de Anísio Teixeira (1900-1971), Diretor do INEP, para exercer o cargo de Supervisor da Campanha de Educação Complementar, do Ministério de Educação e Cultura (MEC), governo federal. 

2. ... O “eu profundo” ao “eu de superfície” de que falava Bergson...
Henri-Louis Bergson (1859-1941). É um dos precursores das ideias sobre o ser humano e da psicologia. O pensamento de Bergson se constrói sobre quatro bases fundamentais às noções, a saber: duração, memória, impulso (élan) vital e intuição. Brevemente, aqui; o “eu profundo” (subjetividade / “... liberdade que renova o mundo...”) tem o poder criador, quanto o “eu de superfície” (passividade / “... impõe antigas mordaças...”) se constrói a partir da educação e da vida social.  
3. Enfim, o que vale defenderpensamentos bergsonianos –, é ressaltar, que: “O importante é recriar o objeto por uma consciência que se assume inteiramente, e se torna capaz de descobrir, dentro de si próprio, a visão inaugural de cada ser, de cada coisa, ou pessoa. [...] Só nessas condições o ser humano adquire a verdadeira inteligência, que é sempre criadora, e o caráter autêntico, que é sempre a coragem de assumir-se”; “em busca de uma consciência original” – “fonte de fertilização e de mudança”; seguindo  os pensamentos de Durmeval Trigueiro Mendes, (1972 –, texto acima).

4. ... “educação artística” no sentido convencional ...
A partir da obrigatoriedade da Lei (LDB, anterior) nº 5.692/1971 coube à inclusão de “Educação Artística” nos currículos plenos dos estabelecimentos de lº e 2º graus - tal ensino era agregado à disciplina\professor(a) de Comunicação e Expressão. Pautava uma aprendizagem\ensino voltado a “Pedagogia de Espera”. Além de contar com defasagem de cursos de formação de professores (licenciaturas); não se percebia um Ensino de Arte autêntico e autônomo, junto aos educandos. Isto é, o seu poder criador interligando a transformação da realidade quanto à articulação de conhecimento ou valor cientifico. Ou quanto uma, mas desejável mudança educacional, a partir de experiência radical. No olhar de Durmeval Trigueiro Mendes, (1972): “É a realidade, mas também o modo de olhar a realidade, que a gente aprende quando abre os olhos ao mundo e começa a exercer sobre ele a aventura de nossa criatividade. [...] Nesse sentido a arte é o fazer que se confunde com o ser. O fazer da criança que desenha é o seu ser: Ele se faz fazendo. Dai a importância fundamental do fazer na educação mas o fazer que conta não é o mecânico, o repetitivo, o 'ensinado' e, sim o fazer da arte, isto é: o fazer que é criação e, antes de tudo, criação do nosso próprio ser”. (Destaco tal passagem – texto supracitado).

5. Ainda, sobre o texto em fundamentação, (“Em busca de uma consciência original”) ou, sob o efeito na legislação escolar brasileira (Lei 5.692/1971), pesquiso para destacar o seguinte dizer: “E quando DURMEVAL TRIGUEIRO fala ‘na educação que prepara cada homem para introduzir na sociedade uma consciência original, fonte de fertilização e de mudança’, temos que voltar o nosso pensamento à reforma do ensino dos 1ª e 2ª graus, promovida pelo Governo, desde agosto de 1971, onde, de certa maneira, se dá destaque especial às atividades criadoras. Devemos, sobre ela sua importância, tecer algumas considerações. [...]. Em síntese: a reforma somente se tornará efetiva pela reforma do próprio professor.
Simultaneamente com essa reforma, há que ser alterado, também, o conceito que se tem da escola. [...]. ”.(Segundo nos situa o depoimento de Augusto Rodrigues, em: O movimento das Escolinhas de Arte e suas perspectivas, jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 12, p.3, jul. 1972).

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6. No mais, sobre DURMEVAL TRIGUEIRO MENDES: IDÉIAS, PROPOSTAS E ATUAÇÃO - Fávero, Maria de Lourdes de Albuquerque.(2008) Disponível: http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/400/381


7. Sinalizo para pesquisa “BERGSON E O EU DIVIDIDO” (2014)- Disponível em http://www.dfmc.ufscar.br/uploads/publications/565c8caa1ac1c.pdf

Contextualização [Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn]


quinta-feira, 28 de julho de 2016

Memória – AUGUSTO RODRIGUES (editor): Ingrid Dormien (entrevista) – Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo, (1971)

Transcrição do Jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 3, p.12, mar. 1971, elaborada por Lúcio Leonn, 2016
LEONN, LÚCIO. Augusto Rodrigues; Valéria. (Recorte da fotografia: Desenho de Valéria, (6 anos) para texto): Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo). 1971. Periódico: Arte & Educação - Escolinha de Arte do Brasil. Ano I, n. 3, p.12, mar. 1971.  1 fot., p&b, reprodução/coloração minha. 

Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo
Ingrid  Dormien (Entrevista)
Ingrid Dormien é Professôra formada em teatro pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, mas agora sua maior preocupação é no sentido de inovar as “aulas de teatro” das escolas primárias: “o teatro das crianças, em oposição ao teatro para crianças, é a linha básica do nosso trabalho”.
– É o teatro realizado pelas próprias crianças em sala de aula, em escolas de educação pela Arte. A partir da improvisação ou jôgo dramático, a criança coloca toda a sua compreensão do mundo.
Em princípio segundo a Professôra, não se pode pretender que as crianças ajam como atôres – recebem um texto e iniciam um processo de anulação do gesto próprio para poderem assimilar a idéia do autor. Ela não pode cumprir uma “encomenda”, pois não tem o domínio da técnica de representação, e vai aprender mais na experiência livre de dramatização do que cumprindo aquilo que o adulto pretende que ela aprenda.
– O que eu procuro conseguir das crianças é uma forma livre de expressão, ou seja, a verdadeira vida. E o trabalho em grupo é importante porque ensina o aluno a perceber e ouvir a proposta do outro, respeitar o trabalho do colega e fazer valer o seu ponto de vista. Isso vai solidificar a segurança de cada um, construindo-se na criança, o adulto apto a se integrar e conviver com um grupo.
O papel do professor nessa orientação é sobretudo o de fazer com que a criança use todos os seus meios de expressão. Ele se limita a fornecer subsídios para o jôgo dramático, e sem critério de avaliação como na área dos conhecimentos: enquanto  o professor de matemática deve exigir uma resposta exata, certo/errado, o de teatro não deve interferir na lógica do aluno.
O poeta Javier Villafañe, famoso titeriteiro argentino, afirma que o teatro para crianças não deve ser pedagógico: “Se um personagem diz que dois mais dois são quatro, deve aparecer um outro para dizer que são cinco.”. Numa experiência brasileira, as crianças faziam uma peça em que a borboleta era professora de música e ensinava erradas as notas musicais. Alertada sobre o erro, a criança saiu-se com essa: “Bom, pode ser que o professor de música ensine de outro jeito. O que eu estou fazendo é teatro e Borboleta não é obrigada a ensinar música certo”.
Ingrid Dormien afirma ainda que o teatro–educação não deve ser uma técnica auxiliar de outras disciplinas.
– Teatro, como tudo que é arte, se constituiu num fim em si mesmo.  A auto-expressão não pode servir como veículo de aprendizagem preestabelecida – uma mistura dêsses dois campos leva à frustração em todos os sentidos, podendo ser extremamente perigosa para a formação do indivíduo.
E acrescenta: “O campo da arte na educação – em vez de uma técnica auxiliar – é a imaginação, como fator de desenvolvimento da inteligência. À medida em que o aluno transforma um pedaço de madeira sujo ou um velho saco de farinha, dando-lhe mil funções  imaginativas, êle esta desenvolvendo a sua  capacidade de encontrar soluções”.
Isto porque a criança pode criar uma situação absurda e inclusive ter razões  profundas  que justifiquem  a própria criança. O professor que compreende como o crítico que procura interpretar o absurdo numa peça de Ionesco.

[Faço questão de manter o vocabulário e a gramática característica da escrita original Jornal Arte&Educação––Escolinha de Arte do Brasil | ano de publicação: 1971],  Lúcio Leonn.

Fonte consultada:
AUGUSTO RODRIGUES (editor). Ingrid  Dormien (entrevista). Borboleta Não é Obrigada a Ensinar Música Certo – Jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 3, p.12, mar. 1971. Acervo pessoal (periódico) Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn.
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Reconhecemos a importância, sinalizar hoje: 
Imagem: reprodução\captação e adaptada por mim (jul.- 2016), a partir do vídeo Percurso da arte e educação: Ingrid Dormien Koudela (vol. 15- realização Ação Educativa\ produção Olhar Periférico, 2013)
1. INGRID DORMIEN KOUDELA (São Paulo/SP, 1948) é diretora, escritora e pesquisadora. FORMA-SE Bacharel em Teatro pela ECA/USP, em 1972, onde fez Mestrado e Doutorado. Livre Docente pela ECA/USP; orienta atualmente teses de Mestrado e Doutorado no Departamento de Artes Cênicas.

Com bolsas de estudo da Fapesp e CNPq, desenvolveu projetos artístico-educativos com profissionais de teatro; alunos de pós-graduação; professores do ensino fundamental e médio com crianças, jovens e leigos em teatro.

Durante 27 anos, como docente do Curso de Licenciatura em Educação Artística com Habilitação em Artes Cênicas, lecionou a Didática e Prática de Ensino em Artes Cênicas no Departamento de Teatro, introduzindo a disciplina Jogos Teatrais no currículo desse departamento e realizando um trabalho de construção científico e institucional pioneiro de Teatro.

Foi consultora do MEC na elaboração dos PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais na área de Teatro para o Ensino Fundamental e membro da CEEARTES - Comissão de Especialistas de Arte, órgão do MEC/SESU Secretaria de Ensino Superior, onde coordenou a elaboração do documento Diretrizes Nacionais para o Ensino do Teatro (1996-1997).

Tem vários livros publicados no Brasil e no exterior, sendo introdutora do método de Viola Spolin entre nós. É tradutora e estudiosa de Bertold Brecht, com ênfase no seu projeto com a Peça Didática.

Atualmente vem expandindo seu trabalho de ensino e pesquisa através de projetos ligados à Secretaria Municipal de Educação (SP) e da FEUSP Faculdade de Educação, dando continuidade à formação de professores de Arte, realizando consultoria e pesquisa na área de Teatro.

É coordenadora do Grupo de Trabalho em Pedagogia do Teatro e Teatro na Educação da ABRACE (Associação Brasileira de Artes Cênicas), através do qual vem promovendo o encontro e a troca de experiências de especialistas na área. (Vide mais, em: http://teatropedia.com/wiki/Ingrid_Dormien_Koudela);

MESTRADO em Curso de Pós-Graduação em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (1982) e doutorado em Curso de Pós-Graduação em Artes pela Universidade de São Paulo (1988). Professora Associada, aposentada, pela USP. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Teatro, atuando principalmente com os seguintes temas: pedagogia do teatro, metodologia de ensino/aprendizagem, artes cênicas, teatro e arte-educação. (Fragmento de texto informado pela autora: Lattes, 2016); 

NO ano de 2005, recebeu o 47º - Prêmio Jabuti, pela Câmera Brasileira do Livro; 

AINDA, Koudela foi aluna da Primeira turma do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 1968. E, depois, professora de Arte-Dramática, na mesma Instituição formadora;

IGUALMENTE, foi professora de arte-dramática (Educação Artística, enquadrando-se como profissional do magisterio, a partir da Lei (LDB anterior), - nº 5.692/71) em Escola Pública;
Imagem: reprodução\captação minha, via vídeo (jul.- 2016).
ESTUDOU com Fanny Abramovich (Escritora de literatura infantil e juvenil, pedagoga e atriz.), Joana Lopes\Unicamp,(precursora do teatro-educação: “Pega Teatro” (1982) \ “O Teatro Antropomágico”), Olga Reverbel - Atividades Globais de Expressão” do educando em jogos dramáticos e teatrais -(1917-2008) e Ilo Krugli (artista\fundador do Teatro Ventoforte). Parte transcrição minha (2016); extraída a partir do vídeo: Percurso da arte e educação: Ingrid Dormien Koudela (Vol. 15- Realização Ação Educativa\Uma produção Olhar Periférico, 2013).

2. O teatro–educação, em compreensão minha, (vídeo, 2016): “é denominado, Pedagogia do Teatro, que ainda, revolucionam os conceitos sobre o teatro tradicional (escola básica/espetáculos/espaços (cena/debates/abordagens)/pesquisas acadêmicas /etc.). A Pedagogia do Teatro é um termo abrangente – interface entre o teatro\educação (teatro aplicado\teatro-educação\teatro na escola\ensino de teatro...)”. Pois, permaneço com olhar meu ampliado e alterado sobre a Pedagogia do Teatro, a partir do vídeo apreciado: Percurso da arte e educação–Ingrid Dormien Koudela (Vol. 15- realização Ação Educativa\produção Olhar Periférico, 2013): divulgação, 2014.

3.  Assista o Vídeo (disponivel, abaixo) Percursos da Arte na Educação - Ingrid Dormien Koudela
Acesso jul. (2016).

4. Sobre a fundamentação\importãncia de o Texto mencionar:  Javier Villafañe.  
Ele foi poeta e titeriteiro – nasceu no dia 24 de junho de 1909, em Buenos Aires. E, faleceu em sua cidade natal, dia 01 de abril de 1996. 
5. Nota interessante, minha: 
Augusto Rodrigues considera Villafañe, Um daqueles artistas de grande influência às suas ideias precursoras, enquanto educador\artista. Ações em arte e educação de Javier Villafañe foram de suma importância,  às atividades desenvolvidas na Escolinha de Arte do Brasil (RJ), conjuntamente. Na companhia dele, antes, da fundação da Escolinha (1948); Augusto Rodrigues, também, realizou atividades de Teatro de Bonecos, em Recife. Lá, “Augusto ouviu uma diretora de escola perguntar a [Javier] Villafañe se o teatro que ele fazia era pedagógico. Villafañe respondeu que não. ‘Quando um personagem meu diz que dois e dois são quatro, eu ponho logo um outro para dizer que são cinco’.”. (Trecho dessa passagem homônima de texto supracitado, no livro Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: MEC/INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), 1980, p.17);

6. No mais, confirma-se, que: Javier Villafañe traz influência direta de seu teatro ao Brasil, por meio de “novas ideias sobre a comunicação entre o adulto e a criança”, (segundo afirma o depoimento de Augusto Rodrigues, em: O movimento das Escolinhas de Arte e suas perspectivas, jornal ARTE & EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte do Brasil, ano I, n. 12, p.3, jul. 1972.).

7. Vide o vídeo:
Poetas latinoamericanos: Javier Villafañe. Canción de los tres hermanos - Canal Encuentro. Disponível em:   
Acesso jul. (2016).

8. Blog dedicado a “Javier Villafañe  y su vida” Disponível em: http://javiervillafa.blogspot.com.br/
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9. ... interpretar o absurdo numa peça de Ionesco. Vejamos!  
Eugène Ionesco – foi dramaturgo e escritor romeno– nasceu em 26 de novembro de 1909 [ou, 1912]. E faleceu em Paris, no dia 28 de Março de 1994. Considerado como o pai do teatro do absurdo, (junto com o irlandês Samuel Beckett (1906-1989).).  “A Cantora Careca”; “A lição”; “As Cadeiras”, dentre outras peças; Ionesco procura contextualizar para potencializar o absurdo da condição e/ou condução da vida humana.

10. Por fim, (anterior, à data do texto  1972) logo pesquisei para informar aqui, que: “com a colaboração da EAB [Escolinha de Arte do Brasil-RJ] duas peças de Eugène Ionesco foram apresentadas: 'A Cantora Careca' (La Cantatrice Chauve) em 1957, com Luís de Lima e Glauce Rocha à frente do elenco, no Teatro de Bolso e, posteriormente, Teatro Mesbla. Em 1960, foi a vez de 'As Cadeiras' (Les Chaises) no Teatro de Copacabana, contando com a participação de Augusto Rodrigues no papel de orador, com elenco encabeçado por Lima e Camila Amado. Luís de Lima, diretor e ator de teatro foi professor de mimica da Escolinha e muito amigo de Augusto”. (Texto do livro 60 anos de Arte-Educação, através da Escolinha de Arte do Brasil. Org: Jader de Medeiros Britto. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008, p.214).

[Contextualização por [Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn]



terça-feira, 12 de julho de 2016

((Memória)) - Iréne Landau (1950): A Morte de Nijinsky, (Jornal O Grilo ––Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves_RJ)

“Eu estava acostumada a pensar em Nijinsky como se fora uma figura da eternidade, e uma figura de eternidade não pode morrer! Eu conheço várias meninas que choraram ao sabe-lo e sem nunca tê-lo visto e eu não estava longe. [...] Li muita coisa sobre Nijinsky mas quase tudo falava dele durante a sua loucura. Pois eu vou parar justamente neste ponto, porque afinal é como se ele tivesse morrido. [..] Nijinsky foi o melhor bailarino do mundo. Era como um pássaro, mais leve do que o próprio ‘espectro da rosa’. A sua mímica era fantástica e ele tinha um grande desprezo por tudo que era artifício” (Apud Iréne Landau (In: A Morte de Nijinsky, 1950): segundo Lúcio Leonn, 2016).

 
(Imagem para ilustração do texto de Iréne Landau -Vatslav Fomitch Nijinski, em “L’après midi d’un faune” / reprodução): Disponível em: http://artsalive.ca/en/dan/meet/bios/artistDetail.asp?artistID=52) 
A Morte de Nijinsky
por Iréne Landau

Transcrição elaborada a partir do Jornal O Grilo –– Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, por Lúcio Leonn (2016)

Numa segunda feira à noite quando eu estava na minha aula de ballet recebi a notícia:
“Nijinsky morreu”.
Não era possível! Nijinsky, o maior bailarino do mundo, não podia morrer! Não! Aquilo era mentira!
Eu estava acostumada a pensar em Nijinsky como se fora uma figura da eternidade, e uma figura de eternidade não pode morrer! Eu conheço várias meninas que choraram ao sabê-lo e sem nunca tê-lo visto e eu não estava longe.
O mais triste porém foi a vida dêle:
Quando o pequeno Vaslaw completou 10 anos sua mãe, antiga bailarina, colocou-o na grande escola de bailado do teatro Marynski.
Vaslaw era polonês.
 Ele era uma criança como as outras e muito levado. Tendo sido abandonada pelo marido, a mãe dele estava na miséria... 
Depois de cursar 7 anos no teatro Marynski. Ele entrou na companhia de Diaguilef  onde se tornou o primeiro bailarino e viajou muito.
Diaguilef  brigou com Nijinsky quando êste casou com Romola.
Sim! Diaguilef, o seu melhor amigo!
Depois veio a guerra que muito os afetou.
Eles tiveram uma filha Kyra que hoje é uma bailarina pouco famosa na América do Norte.
Com a guerra, o rompimento com Diaguilef e várias outras razões, Nijinsky perdeu a razão.
Li muita coisa sôbre Nijinsky mas quase tudo falava dêle durante a sua loucura. Pois eu vou parar justamente nêste ponto, porque afinal é como se êle tivesse morrido.
Nijinsky foi o melhor bailarino do mundo.
Era como um pássaro, mais leve do que o próprio “espectro da rosa”. A sua mímica era fantástica e êle tinha um grande desprêzo por tudo que era artifício. Até a sua mão guardava a pose natural, sem levantar ou abaixar um dedo. Tinha uma técnica que ninguém conseguiu igualar. Tinha pernas horríveis, o que não o impediu sua carreira.
Nijinsky também criou vários bailados, bailados êstes que revolucionaram o publico snob na apresentação de “L’après midi d’un faune”. Uns atiravam-lhes tomates e ovos podres e outros flores. Porque “L’après midi d’un faune” e “Jeux” eram de uma técnica completamente diferente. Os bailarinos não deveriam fazer caso das cinco posições e até foi dificílimo acostumá-los a dançarem sem aqueles padrões de movimentos.
Estabeleceu-se uma grande luta contra “L’après midi d’un faune”. Nijinsky tinha entre seus defensores Rodin e muitos outros artistas.
Enfim, triunfou.
Toda a vida de Nijinsky foi um triunfo. As pessoas que o viam batiam-se para arrancar-lhe um pedaço de roupa.
Pena eu não ter nascido há alguns anos atrás para ter visto com meus próprios olhos a dança de Nijinsky.
(Apud Iréne Landau)

[Faço questão de manter o vocabulário e a gramática característica da escrita original jornal O Grilo––Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves| Década de publicação: 1950] Lúcio Leonn.

Fonte consultada:
RODRIGUES, AUGUSTO. Iréne Landau: A Morte de Nijinsky – Jornal O Grilo, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, Ano I, n.3, p.2, abr.-mai. 1950. Acervo pessoal (periódico) Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn.

Notas de contextualização (à parte) minhas:
1.     Nijinski nasceu em Kiev, no dia 12 de Março de 1890;

2.  O Teatro Mariinski foi inaugurado em 1860 - está localizado na cidade russa de São Petersburgo;

3.  Sergei Diaghilev (nasceu em 1872 e faleceu em 1929): foi agente e diretor artístico, idealizador dos Ballets Russes (1909-1929) - Uma companhia de grandes bailarinos famosos;

4.  Nijinski e Diaghilev nutriram ambos, igualmente, os comportamentos de seu tempo: vidas entrelaçadas entre a Arte (dança), o amor e os tormentos a dois;

5.  Pois, Nijinski se apaixonou pela também bailarina da mesma companhia, Romola de Pulszkie quando se casaram em Buenos Aires, durante a turnê (ano de 1913). E, Sergei Diaghilev o despediu da companhia. Atos de ciúmes, entre um e outro. Embora, Nijinski retorna à companhia por Diaghilev, depois;

6. “O Espectro da Rosa” (Balé de um Ato - E o personagem do balé homônimo), interpretado por Nijinski no Teatro de Montecarlo (França), onde fez dupla com Tamara Karsavina, no papel da jovem moça, (ano de 1911); 

7.     Pelo contexto refere-se à [Primeira] Guerra Mundial (1914-1918);

8.  “L’Après Midi d’un Faune”, (À Tarde de um Fauno-1912) e “Jeux” (jogos – em ano seguinte,1913) foram coreografadas\dançadas por Nijinsky – Vindo a revolucionar à dança moderna como também, o apreciar de uma pernóstica plateia àquela época, acerca da Dança Clássica;

9.  Iréne Landau, também foi aluna de Augusto Rodrigues, época da Primeira Turma da Escolinha de Arte do Brasil- (EAB).   Leia abaixo, seu depoimento;   

10.  Iréne Landau diz: “ ‘Tive a infância mais feliz que uma criança poderia ter e sempre que penso nela é a Escolinha que me aparece... No meu tempo todos tomávamos conta da Escolinha, tínhamos a impressão de que ela só existia porque cuidávamos dela e que os professores só estavam ali porque, afinal de contas, tinha que ter gente para ajudar a gente, para dizer que isso ou aquilo era formidável ou muito bom e também porque eles gostavam da gente. Ainda me lembro muito bem como tinha medo que a Escolinha fechasse por falta de dinheiro’. (Carta a Augusto de uma aluna — Irene Landau — da primeira turma da Escolinha, com data de 20 de agosto de 1961)”. Trecho do livro Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: MEC/INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).  In As crianças falam, (1980, p.47);

11. O Texto acima, transcrito do Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves e publicado por Iréne Landau ––faz referência ao ano em que morre (em Londres, no dia 08 de abril de 1950): Vatslav Fomitch Nijinski - “Nosso maior bailarino do mundo”;

12. Já Diaghilev e o seu balé russo –– ponto de igualdade de composição de cenário (arte figurativa); justapõem-se aos movimentos acústicos e coreográficos da época.

13. Sobre o Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves; pesquisei: “O primeiro jornal da Escolinha (ainda chamada Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves), intitulado ‘O Grilo’, não traz data, mas circulou com as normas diretoras definidas pelos alunos em conjunto com o professor Augusto Rodrigues, destacando-se: ‘o jornal é dirigido por uma comissão de cinco membros. Só podiam ser votadas para a comissão, crianças com mais de dez anos’. Sendo de espírito livre, os artigos deveriam ser corrigidos o menos possível. Pedia-se sempre ao redator de um artigo que o revisasse ele próprio. O número um do jornal, mimeografado e colorido a lápis, exemplar por exemplar, foi lançado sem data e ano, mais provavelmente em janeiro de 1950”. (Texto do livro 60 anos de Arte-Educação, através da Escolinha de Arte do Brasil. Org: Jader de Medeiros Britto. In: Capítulo ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL: CRONOLOGIA DOS 60 ANOS – 1949. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008, p. 19);


14.  Ainda, o supracitado livro, nos indica mais uma vez, sobre Jornal O Grilo: “Em março, foi publicado o número dois do jornal ‘O Grilo’, e o número três circulou em maio, encerrando a breve e significativa história do jornalzinho. Os dois últimos números foram impressos, [...]”, (Idem. In: Capítulo ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL: CRONOLOGIA DOS 60 ANOS – 1950. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008 p.22);


15.  No período do jornal O Grilo, a Escolinha, ainda, estava instalada numa pequena sala de passagem (corredor) para a Biblioteca Castro Alves (sua primeira sede), prédio do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (Ipase), centro do Rio de Janeiro;

16.  Foi a partir de setembro do ano de 1970 somente, é publicada a primeira edição (o número zero) do jornal oficial “Arte & Educação”. Partindo da ideia primordial da professora Zoé Chagas Freitas, a cargo seu também, coube à editoração geral do jornal e, edição-executiva teve à frente Jader de Medeiros Britto. Contando, ainda com apoio inicial da educadora, Iara Rodrigues e do cartunista Ziraldo, idealizador do logotipo do jornal. Além de artigos de Anísio Teixeira. Lúcia Valentim, Nise da Silveira, Augusto Rodrigues, Ilo Krugli, Maria Helena Novaes, demais colaboradores; o jornal “Arte & Educação” era formatado e impresso na gráfica do jornal o Dia;

17.  As cinco posições básicas dos pés no balé; além de coordenar os movimentos de braços; o equilíbrio (o eixo gravitacional); seguiam o padrão; a codificação - a técnica criada pelo coreógrafo francês, bailarino e mestre de dança, Charles-Louis-Pierre de Beauchamps, (que nasceu em Versalhes, 30 de outubro de 1631 e faleceu em Paris, fevereiro de 1705) –“Porque “L’après midi d’un faune” e “Jeux” eram de uma técnica completamente diferente [...]. Foi dificílimo acostumá-los a dançarem sem [esses] padrões de movimentos.”[...]. (Iréne Landau, segundo Leonn, 2016). Grifos meus

18.  René-François-Auguste Rodin. Importante artista e escultor francês, influenciado pela corrente do impressionismo e simbolismo (Nasceu em Paris, em 12 de novembro de 1840 e morreu em Meudon, no dia 17 de novembro de 1917). Rodin teve como assistente de atelier, a também escultora Camille Claudel (1864-1943), com quem viveu um tórrido romance.

19.Sobre Diaghilev Ballets Russes. Vide: http://www.russianballethistory.com/ballethistories.htm

20. Destaco especialmente (às crianças), na época, aos escritos no Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves: Iréne Landau e Newton Augusto Goldman.  Igualmente,  "Na reunião em que se consideram fundada a Biblioteca [de Arte, (1950)] fez-se a eleição por voto secreto para os cargos de bibliotecários. Foram eleitos Iréne Landau e Newton Augusto Goldman" (In: Biblioteca de Arte – Jornal O Grilo, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, ano I, n.3, p.5, abr./mai. 1950, (segundo AUGUSTO RODRIGUES (1950): segundo LUCENA, 2016.).

21. (Vídeo) Les Ballets Russes de Nijinsky


Notas de contextualização (à parte) por [Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn].