domingo, 1 de abril de 2012

O I Simpósio Cearense de Artes Cênicas(1989) / Projeto Teatro em Obras: Theatro José de Alencar-TJA

“Fazer uma boa sociedade e depois, talvez façamos um bom teatro”, 
Jean Vilar (1912-1971).
Por Lúcio José de Azevêdo Lucena                                                                             Texto ano de 2002
Foto 01 (acervo pessoal da pesquisa de Lúcio Leonn) - O diretor Aderbal Freire Filho (à direita) ensaia os atores do espetáculo de reabertura do José de Alencar-Foto Divulgação/Jornal Diário do Nordeste, 17 de janeiro de 1991; Elenco (à esquerda, indicação minha): Suzy Élida, Dodô Mourão, Otávio Pires Neto, Carri Costa, Marcus Maciel, Silvana Salles e Ana Mangueth.

"Tudo era rigorosamente acertado com a direção de Aderbal Freire-Filho, nos trabalhos de mesa, como também, durante os ensaios e levantamentos de cenas" (Lúcio Leonn. Depoimento pessoal: mémórias de ator, 2002).

A Secretaria de Cultura, Turismo e Desporto do Ceará, encaminhou uma correspondência-convite para todos os artistas e demais interessados, em participar do “I Simpósio Cearense de Artes Cênicas”(1989). Logo, na gestão da secretária de cultura Violeta Arraes, o TJA encontrava-se fechado para reforma e ampliação de anexos. E um plano de ação estava sendo pensado, fazer jus a um programa inaugural de funcionamento do Theatro. Porém, das atividades realizadas (palestras) no referido seminário, percebemos que foi somente para atender ou preparar as expectativas de uma festa de reinauguração, ou seja, agregar artistas, discutir e planejar um suntuoso espetáculo que em breve seria realizado na cidade.

O Simpósio realizou-se no auditório do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno entre os dias 27 e 28 de dezembro de 1989, em dois tempos integrados, das l7 às 19h e de l9h 30min às 22h. As inscrições foram realizadas no Curso de Artes-Dramáticas da UFC-C.A.D, e na própria Secretaria de Cultura do Estado-Secult, começando com 08 (oito) dias de antecedência.

A maioria dos artistas envolvidos procedência do Curso de Arte-Dramática da UFC, e principalmente da “Oficina Théâtre du Soleil”, realizada em l988¹.

Contudo, somente 13 (treze) entre os atores e atrizes que participaram da também chamada oficina dos franceses (o número entra aqui como uma coincidência) e não aqueles (13), selecionados para repasse de técnicas na oficina realizada em Crato-Ce. Somente alguns deles continuaram com atividades cênicas no espetáculo do palco principal, ou seja, no Projeto Teatro em Obras: Theatro José de Alencar.

Além da promoção da Secult, contava o projeto com incentivo da extinta Fundacen-Fundação Nacional de Artes Cênicas, seguido de apoio da Federação Estadual de Teatro Amador/Festa, dos Grupos Permanentes de Dança, como também do próprio C.A.D.

Dos debatedores neste seminário foram indicados, Amir Haddad e Aderbal Freire-Filho, ambos diretores de teatro. O último, por sinal, ex-aluno da 1ª turma de concluintes do CAD, hoje um diretor brasileiro de renome.

Portanto, havia coordenadores também no trabalho reinaugural. Tanto que fora apresentado no Auditório o tal projeto, isto é, conjuntamente com os atores convidados, foi discutida e analisada a proposta, digo o objetivo principal. Ele se transformou na festa em prol do Theatro José de Alencar, do seu povo, da cidade e para com os seus artistas.

No entanto, conforme proposta estampada no folder do programa estava escrito assim:

“Quando da reforma do Theatro José de Alencar, teatro que guarda nossa história e nossos sonhos, aproveitamos o momento para refletir sobre a nossa produção artística. O I Simpósio Cearense de Artes Cênicas surge da necessidade de discutir o Projeto Teatro em Obras, que objetiva reunir artistas locais para compor um plano de reciclagem do movimento teatral cearense, ao mesmo tempo propiciar o intercâmbio de informações, na área de Artes Cênicas, com outras regiões do Brasil”(o grifo é meu. Documento pessoal).

Todos aqueles considerados artistas locais ou não passariam por reciclagem(como escrito no Folder). Pergunto: Esta reciclagem seria antes dos preparativos para a festa de reinauguração do Theatro José de Alencar? Aconteceu durante o processo de montagem do espetáculo reinaugural ou, posterior a tudo? Indago tanto para o espetáculo realizado nas ruas do centro da cidade como na Praça José de Alencar dirigido por Amir Haddad, e para encenação de Aderbal Freire-Filho no palco principal. Não se teve tempo para tal "capacitação". O tempo de montagem do espetáculo inaugural não permitia tal sistematização. Portanto, contava-se com o "fazer-fazer" junto às cenas. Já os atores mais experientes, estes sim, conseguiram perceber tal metodologia de trabalho. Como apontarei logo abaixo, quando me refiro ao trabalho realizado no galpão da RFFSA.

Então, contando com 02 (dois) dias em horários e datas acima, nós atores e atrizes tivemos como tema no simpósio os seguintes aspectos em debates:

“A capacitação do Artista e sua Função Social”
“As Artes Cênicas no Mundo Contemporâneo”
“O Significado Social do Espetáculo”
“A Conjuntura Política do Momento Brasileiro”.
Imagem documento original, 1989\ Acervo pessoal, Lúcio Leonn. 
Entretanto, no final do ano seguinte (1990), adentramos em atividades teatrais. Tal imersão no jogo teatral acontecera no galpão da RFFSA. Não aqueles hoje na Praia de Iracema, situados entornos do Centro Cultural Dragão do Mar, mas aquele próximo à Praça da Estação, na Rua 24 de Maio, S/N, no Centro da Cidade.
Sonho aquele da secretária de cultura Violeta Arraes em querer transformar os galpões antigos em espaços culturais/interativos em nome da cultura e de seus artistas locais, mas Violeta fez o que pôde.
Portanto, projetando o futuro nos arredores do Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar e seus anexos bem à la Française. Sem querer ser mais uma vez, pejorativo. Embora, existam muitos galpões desativados que poderiam funcionar caso houvesse apoio. Como foi o caso do Teatro Radical mantido pelo teatrólogo, ator, diretor e professor Ricardo Guilherme e Associação de Radicais Livres naquelas mediações, pois já não se freqüenta mais. Temos o Teatro da Praia e o Espaço Cultural “Calango do Açude”, de Carri Costa; além do Teatro da Boca Rica, da Cia. Boca Rica de Teatro. Mas, só quero aqui sinalizá-los.
No entanto, no “Dragão”, ainda não se tem espaço para seus atores ensaiar, ou até mesmo espaço de pesquisa para linguagem cênica. Além do custo da pauta de apresentação ser uma das mais caras da cidade em nível nacional-espaço este que se dizia ser democrático e solidário com a cultura e artista local, bem pouco antes de sua criação e oficialização em 1999.
Pôde-se comprovar quando cursava o Curso Colégio de Direção Teatral como aluno-intérprete no Instituto Dragão do Mar, pois era só o que se ouvia falar. A 1ª Turma praticamente inaugurou o Teatro Dragão do Mar com temporadas das peças: “Dragões no Horizonte I e II” (1998), em seguida mais seis meses de casa lotada, com a peça “Os Iks” (1999), de Peter Brook, sob direção de Celso Nunes.

Retomando ao ano de 1989... Lá no galpão (praticamente extinto nas atividades culturais da cidade), vindo a funcionar em 2002, como uma parte da exposição: “I Bienal Ceará América- de Arte Contemporânea”, o grupo de atores do mencionado Projeto, estudava e planejava a literatura cearense. Contava-se com 38 atores. Textos de Juvenal Galeno, Thomás Pompeu, Rodolfo Teófilo, Antônio Sales, Moreira Campos e outros.

Tais textos literários passaram à ação dramática, através de uma “découpage textual”. Isto mesmo, por parte dos atores, buscava-se a narrativa do teatro épico: a terceira pessoa, as rubricas de ações, etc; Outrora, preservava-se a interpretação na primeira pessoa, onde consistia viver o personagem na sua situação dramática, quando não, falava-se dele (personagem) expressando um certo distanciamento brechtiano, referindo-se ao uso do pronome ele.
Tudo era rigorosamente acertado com a direção de Aderbal Freire-Filho, nos trabalhos de mesa, como também, durante os ensaios e levantamentos de cenas.

Essas análises, estudos experenciados em dias e horas, conforme disposições do elenco resultaram no espetáculo noturno reinaugural intitulado: “Narração da Viagem Pela Província do Ceará”, ou “Observações de costumes, de usos, e até de palavras especialíssimas e de significação da população do Ceará”- tendo estréia em 26 de janeiro de l991, ocupando todo o palco principal do Theatro José de Alencar (ver Anexo 2- Elenco do espetáculo de reinauguração do Theatro José de Alencar/TJA: palco principal (1991), (p. 90)².
Com a reinauguração do T.J.A, a Casa proporcionou, posteriormente, uma abertura em séries de oficinas e cursos para aqueles que não podiam contar na época em atender às próprias exigências do C.A.D, (diploma do ensino médio, exame de seleção, etc), ou em outros cursos de instituições particulares.
Imagem documento original, 1989\ Acervo pessoal, Lúcio Leonn.

Contudo, é através de inúmeros projetos governamentais a partir de 1989 que se fizeram necessárias tal análise investigativa no campo teatral, no que diz respeito à aprendizagem e ao ensino não somente no sentido qualitativo, mas também no sentido de se ter um certificado válido. Foram criados, no início desse século, no campo das Artes Cênicas do ator de Fortaleza, projetos teatrais com raras exceções, sem grande importância quanto à legitimação. Como tantas outras tentativas na criação de uma escola por meio de projetos (Oficina Théâtre du Soleil, Projeto ECCOA, Projeto Encenação, Curso Colégio de Direção, etc), pois muda-se de governo, mobiliza-se gestão! É ai, onde pode morar a problematização. Quem “chega” deve olhar para o passado e perceber quem são os grupos que produzem teatro, estes originados de projetos anteriores? Qual tipo de assistência governamental, seus atores estão necessitando no mercado de trabalho? Que identidade tem o teatro cearense ao longo de tantos anos? Como tem sido a formação de seus atores, diretores?
Em minha opinião, tais gestores deveriam procurar atender e compreender o que é básico, de mais urgente na arte teatral cearense. Pensar assim diz respeito à legitimação, e “asseguramento” para atores, agentes de teatro nos cursos de capacitação, ou formação profissional. Isto é, sem deixá-los inseguros, por meio do mercado de trabalho formal. Ora pode habilitá-los, atribuindo-lhes a função de professores de Arte ou Arte-educadores conforme a nova legislação? (Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional- LDB nº 9.394\96) É o que podemos ver adiante nesta pesquisa. Logo tal artista de teatro, deve e pode também exercer sua profissão dignamente e com respeito, como outras profissões estabilizadas no mercado.
Portanto, chamo atenção para aquilo que não está funcionando corretamente. E traçar caminhos. Além de contribuir para possíveis resoluções. Acho que pode ser viável.
Continuando... Após a reforma do TJA, passamos a ensaiar nesse novo palco, enquanto que os espetáculos de Rua de Amir Haddad tornaram-se mais atuante.

Podemos constatar isto em entrevista concedida ao Jornal Diário do Nordeste, no dia 04.01.91, quando Haddad dizia: “... juntar ao ar livre, o que a tradição oral imprimiu na cultura - de Maracatu a Reisado”. Portanto, seu local de trabalho e pesquisa estava sendo a “rua”, (isto é, por meio do chamado: “Treinamento de atores participantes das festividades de Reinauguração do Theatro José de Alencar”, orientado também pelo “Grupo Tá na Rua/RJ”, realizado no período de 18 a 26 de janeiro, com carga horária total de 36h/aula).

Finalmente, pode-se dizer que todos os atores e demais profissionais engajados no Projeto Teatro em Obras receberam “cachê simbólico” pelos serviços prestados.

A década de 1990 foi o cerne e principal objeto de estudo dessa pesquisa. Dado o destaque para o ator em seu processo de formação teatral, utilizando cursos, projetos, palestras e oficinas pós-reinaugural no TJA (1991), que algumas vezes o autor deixou por aqui, entremear pelo discurso (IN Capítulo 2 - O teatro aprendiz no final da década de 1980, (pp. 41-44).).

Fonte: Fragmento da pesquisa: pós-graduação intitulada: Os Processos de Formação Teatral em Fortaleza na  Década de 1990 – Memórias de um Ator, (2002).
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¹Da seleção dos candidatos para Oficina Théâtre du Soleil no Brasil (CE), 1988 Da inclusão de candidatos na “oficina théâtre du soleil > Disponivel em: http://notasdator.blogspot.com.br/2008/09/oficina-thtre-du-soleil-no-brasilce.html

¹Memória do “Théâtre du Soleil”, oficina ministrada em Fortaleza/Ce-1988 > Disponível em: http://notasdator.blogspot.com.br/2008/11/memria-do-thtre-du-soleil-oficina.html

²Anexo 2- Elenco do espetáculo de reinauguração do Theatro José de Alencar/TJA: palco principal (1991). Disponível em: http://notasdator.blogspot.com.br/2012/04/o-i-simposio-cearense-de-artes.html

Elenco do espetáculo de reinauguração do Theatro José de Alencar/TJA:palco principal (1991)

Por Lúcio José de Azevêdo Lucena (Lúcio Leonn)

Foto 02 - Cena “Os Camelos” -Parte do espetáculo Reinaugural Palco Principal/TJA: “Narração da Viagem Pela Província do Ceará”, direção Aderbal Freire Filho; Registro (foto Ana Aragão) em 27 de janeiro de 1991.[Acervo pessoal do ator Lúcio Leonn] Figurinos Lino Villaventura, com: Ângela Escudeiro, Lúcio Leonn, Carri Costa,Domingos Alcantara, Marta Aurélia e Silvia Moura, outros.

Com o figurino do estilista Lino Vilaventura, iluminação de Jorginho de Carvalho, assistentes de direção, Betânia Montenegro e produção, João Andrade Joca, o espetáculo foi apresentado por Paulo Abel do Nascimento (atuaçâo em canto, como Antônio Conselheiro), Grupo Syntagma, pelo cantor e compositor Nonato Luís, “Cabecinha e Família” (grupo de música popular, composto por membros familiares), professor e maestro Orlando Leite, sob direção musical de Liduino Pitombeira.
nota: “O soprano Paulo Abel canta vestido de Antonio Conselheiro” - Foto (Ana Aragão, identificação minha) jornal O Povo- Caderno B- 28.01.1991_Reprodução minha, acervo pessoal
O Cearense Paulo Abel(nasceu em 1957- faleceu em Paris) 1992 [In memoriam]

Também, apresentado pelas atrizes e atores:
Aída Marsipe, Ana Mangueth, Ângela Escudeiro, Antônio Rodrigues, Arnaldo Matos, Ary Sherlock, Carri Costa, César Maier, Daniela Dumaresq, Dodô Mourão, Domingos Alcantara, Ercíla Menezes, Erwin Shroüder, Francisco Marques, Pedro Gonçalves, Graça Freitas, Jamila Coelho, João Falcão, Jório Nerthal, Lúcio Leonn, Marcos Amaral, Marcos Maciel, Marcus Miranda, Marta Aurélia, Neuza Gonçalves, Nonato Freire, Olga Paiva, Otávio Pires Neto, Rejane Reinaldo, Ricardo Guilherme, Robério Fefre, Rodger Rogério, Rogério Medeiros, Ronaldo Souza, Silvia Moura, Selma Santiago, Silvana Salles e Suzy Élida.

In Anexo 2. Elenco do espetáculo de reinauguração do Theatro José de Alencar/TJA: palco principal (1991), p.90. Fragmento da pesquisa de pós-graduação intitulada,"Os Processos de Formação Teatral em Fortaleza na década de 1990 – Memórias de um Ator" (2002).

(Fonte:  Folder de apresentação do espetáculo: "Narração da Viagem pela Província do do Ceará" ou “Observações de costumes, de usos, e até de palavras especialíssimas e de significação da população do Ceará”-, coletânea de textos da literatura cearense, sob direção de Aderbal Freire Filho. Arquivo pessoal. Fortaleza-Ce, 26 de janeiro de 1991.)
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Imagem - acervo pessoal Lúcio Leonn
Imagem - acervo pessoal 



















Vide: O I Simpósio Cearense de Artes Cênicas (1989) / Projeto Teatro em Obras: Theatro José de Alencar-TJA, em: http://notasdator.blogspot.com.br/2012/04/o-i-simposio-cearense-de-artes_01.html

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Mais sobre Paulo Abel em: http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Paulo+Abel&ltr=p&id_perso=1034