segunda-feira, 5 de julho de 2010

Abdias do Nascimento em texto: o Teatro Experimental do Negro: trajetórias e reflexões

Por Lúcio José de Azevêdo Lucena (Lúcio Leonn)
(Resenha)

Imagem, (de José Medeiros): Abdias Nascimento numa cena de Otelo, de Shakespeare, Festival do 2º Aniversário do TEN. Rio de Janeiro, Teatro Regina, 1946.

O Texto em análise foi elaborado com a colaboração de Elisa Larkin Nascimento, a partir de outros ensaios do autor. Publicado originalmente na Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 25, 1997, (pp. 71-81).

De ante mão, aponta-nos e revela: exemplos de inquietações e indagações importantes na busca de resoluções ao Teatro do Negro Brasileiro; outrora, eloquentes reflexões focadas nas experiências pessoais, profissionais de Abdias do Nascimento, tendo dado o início, a partir da encenação da obra teatral de Eugene O’Neill (O Imperador Jones), apreciada em aversão, esteticamente, no Teatro Municipal de Lima, capital do Peru (1941); bem como discorre para sinalizar, o percurso trilhado; a busca de resoluções, a criação de um grupo sobre o olhar artístico, dramatúrgico e de intérpretes afro-brasileiros em cena, que resultou, primordialmente, na fundação (1944), no Rio de Janeiro (Brasil), o Teatro Experimental do Negro, ou TEN.
Segundo o texto em estudo, diz o seguinte:
O TEN se propunha a resgatar, no Brasil, os valores da pessoa humana e da cultura negro-africana, degradados e negados por uma sociedade dominante que, desde os tempos da colônia, portava a bagagem mental de sua formação metropolitana européia, imbuída de conceitos pseudo-científicos sobre a inferioridade da raça negra. Propunha-se o TEN a trabalhar pela valorização social do negro no Brasil, através da educação, da cultura e da arte. (...) numa sociedade que há séculos tentava esconder o sol da verdadeira prática do racismo e da discriminação racial com a peneira furada do mito da “democracia racial”, (p.210). Grifos nossos
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Imagem, (de José Medeiros): Aguinaldo Camargo, José Maria Monteiro e (a grande atriz) Ruth de Souza em O filho pródigo, de Lúcio Cardoso. Rio de Janeiro, Teatro Ginástico, 1947.
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Por outro lado, sem muita opção dramatúrgica em legado étnico\racial dos negros (em que o protagonismo era seus intérpretes afro-brasileiros em cena), o TEN seguiu seu caminho... Mobilizou a alfabetização do elenco negro, buscou palestras, aulas e exercícios; por outro, recebeu críticas cons(des)trutivas em estréia (1945) com, O Imperador Jones - a mesma peça impactante, de O’Neill, em que se impôs na fundação do grupo, como opção de encenação,naturalmente.
Entretanto, encenações de outras peças de O’Neill seguiram à frente. E, finalmente, só em ano seguinte de 1947 fez-se emergir a Literatura dramática negro-brasileira. Em contrapartida não se pode negligenciar entre nós, O teatro negro como agente de ação social no Brasil e no Exterior, promovido por ações históricas e de trajetória política via comissão, convenção, congresso e a inegável contribuição cultural, de luta e da promoção da coletividade afro-brasileiro por meio de seu principal mestre, Adias do Nascimento.

Encaminho agora, os seguintes Trechos em importância de breve Leitura e sua análise, abaixo:
Teríamos que agir urgentemente em duas frentes: promover, de um lado, a denúncia dos equívocos e da alienação dos chamados estudos afro-brasileiros, e fazer com que o próprio negro tomasse consciência da situação objetiva em que se achava inserido. Tarefa difícil, quase sobre-humana, se não esquecermos a escravidão espiritual, cultural, socioeconômica e política em que foi mantido antes e depois de 1888, quando teoricamente se libertara da servidão”, (p.211).

Conquistara o TEN sua primeira vitória. Encerrada estava a fase do negro sinônimo de palhaçada na cena brasileira. Um ator fabuloso como Grande Otelo poderia de agora em diante continuar extravasando sua comicidade,” (214).

(...) o encontro com o primeiro texto brasileiro escrito especialmente para o TEN: — O filho pródigo, um drama poético de Lúcio Cardoso, inspirado na parábola bíblica. Com cenário de Santa Rosa, o artista que renovou a arte cenográfica do teatro brasileiro, e interpretação principal de Aguinaldo Camargo, Ruth de Souza, José Maria Monteiro, Abdias do Nascimento, Haroldo Costa e Roney da Silva, O filho pródigo foi considerado por alguns críticos como a maior peça do ano teatral, (215).

(...) o TEN montou Aruanda, outro texto especialmente criado para ele, escrito por Joaquim Ribeiro. Trabalhando elementos folclóricos da Bahia, o autor expõe de forma tosca a ambivalência psicológica de uma mestiça e a convivência dos deuses afrobrasileiros com os mortais, (idem).

Há um autor que divide o Teatro Brasileiro em duas fases: a antiga e a moderna. É Nelson Rodrigues. Dele é Anjo negro, peça que focaliza sua trama no enlace matrimonial de um preto com uma branca. (...) Infelizmente, a encenação de Anjo negro (1946) não correspondeu à autenticidade criadora de Nelson Rodrigues. O diretor Ziembinski adotou o critério de supervalorizar esteticamente o espetáculo, em prejuízo do conteúdo racial. Foi usada a condenável solução de brochar um branco de preto para viver no palco o Ismael. Tal fato estava intimamente ligado a outro: Anjo negro teve muita complicação com a censura, (pp.216-217).

No Brasil, enfrentando o tabu da “democracia racial”, o Teatro Experimental do Negro era a única voz a encampar consistentemente a linguagem e a postura política da négritude, no sentido de priorizar a valorização da personalidade e cultura específicas ao negro como caminho de combate ao racismo, (p.218).

O TEN propunha-se a combater o racismo, que em nenhum outro aspecto da vida brasileira revela tão ostensivamente sua impostura como no teatro, na televisão e no sistema educativo, verdadeiros bastiões da discriminação racial à moda brasileira, (p. 221).
Para conclusão,

(...) o TEN se desdobrava em várias frentes: tanto denunciava as formas de racismo sutis e ostensivas, como resistia à opressão cultural da brancura; procurou instalar mecanismos de apoio psicológico para que o negro pudesse dar um salto qualitativo para além do complexo de inferioridade a que o submetia o complexo de superioridade da sociedade que o condicionava, (p.223).
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Imagem, (de German Lorca):(A grande Atriz) Léa Garcia como a velha em O Imperador Jones, de Eugene O'Neill, Teatro São Paulo, São Paulo, 1953.

PALAVRAS-CHAVE:

Movimento artístico social Teatro do Negro Brasileiro Fundação histórica do Teatro Experimental do Negro (TEN) Cultura afro-brasileira Política do movimento negro no Brasil Abdias do Nascimento ETC.

O autor: Abdias do Nascimento foi um dos fundadores da Frente Negra Brasileira (importante movimento iniciado em São Paulo) em 1931, criou o Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944, foi secretário de Defesa da Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Rio de Janeiro, deputado federal pelo mesmo Estado em 1983 e senador da República em 1997. É autor de vários livros: Sortilégio, Dramas para negros e prólogo para brancos, O negro revoltado, entre outros. Também é Professor Benemérito da Universidade do Estado de Nova York e doutor Honoris Causa pelo Estado do Rio de Janeiro.

Mais informação íntegra - Texto de Abdias do Nascimento - recebido e aceito para publicação em 5 de dezembro de 2003. - Teatro Experimental do Negro: trajetória e reflexões. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n50/a19v1850.pdf Acesso: junho de 2010.

E mais, sobre: O Teatro Experimental do Negro (Abdias do Nascimento). Visite: http://www.abdias.com.br/teatro_experimental/teatro_experimental.htm


Exposições Abdias do Nascimento-90 anos (biografia, na arte e cultura etc). Acesse: http://www.abdias.com.br/

O TEXTO (PEÇA): O Imperador Jones, de Eugene O’Neill. Disponível em: http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://www.eoneill.com/texts/jones/contents.htm Acesso: junho de 2010

Ativista do movimento negro, Abdias Nascimento morre no Rio aos 97 anos

Ele estava internado no Hospital dos Servidores com problemas cardíacos

iG Rio de Janeiro|24/05/2011 16:42- Atualizada às 19:01

Foto: Alaor Filho/Agência Estado

O ativista durante uma entrevista no Rio de Janeiro em 2004

Ativista histórico na luta contra o racismo, Abdias Nascimento, de 97 anos, morreu na noite da última segunda-feira (23), no Rio de Janeiro.

Jornalista, ex-deputado federal e ex-senador, Abdias estava internado no Hospital dos Servidores, no centro, vítima de problemas cardíacos.


http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/ativista+do+movimento+negro+abdias+nascimento+morre+no+rio+aos+97+anos/n1596975782474.html


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Licenciatura em Teatro do Programa Pró-licenciatura. UnB/UNIR/MEC
Módulo Historia do Teatro no Brasil
Tutorias Sanântana Vicencio \ Maria Cristina
Aluno Lúcio José de Azevêdo Lucena
Atividade 5 resenha do texto de Abdias do Nascimento, “Teatro Experimental do Negro: trajetórias e reflexões”
Professora: Rosemeire Gonçalves
05/07/10- Pólo Ceilândia-DF (19h25min