quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Performance - A pergunta nos foi lançada: o que pode nos mover e mover a performance?

Living is a form not being sure, not knowing what is next or how. The moment you know how, you begin to die a little. The artist never entirely knows, we guess. We may be wrong, but we take leap after leap in the dark¹.” – Agnes de Mille.
[Fotos / Copyright by Lúcio Leonn®] - proibida reprodução. Imagens captadas sem flash-fotocelular mega pixels: f=45mm1:2.6].2007.
Só podemos esquecer o tempo fazendo uso dele.” (Karsten Harries)

Tal pergunta inicial nos coloca a par de entender e indagar, também, na integra, o que seria movimento e performance? Por outro lado, definir “performance” torna-se indizível.
A meu entender, o que nos move e pode mover a performance, corresponde ao campo da experiência pessoal, profissional e organizacional do corpo de artista, em Vida e na Arte. É algo que toca na alma profunda do intérprete performático. Figuras, como: Marina Abramovic: (http://www.youtube.com/watch?v=vDg_KWJh1g8), Sam Hsieh: (http://www.youtube.com/watch?v=1hcqweHEWec), para citar alguns, vão além do limite vital (e, conscientes de seus atos, afetos e valores) para adentrar na arte ou, sair-se dela, com objetivo claro e marca maior de\em suas performances.
Cada ato desses artistas supracitados, busca “definir”, por meio de ações artísticas, a fruição do próprio corpo, como objeto de execução-elemento de reflexão e de mobilização da performance para um pensamento de construção estética, de inovação.
Reflito que, o movimento performático é de estado de alteridade e de corpo alterado de sentidos (dimensão estética). Há eloquência experimentais de tempo e sucessão de ideias em espaço de ação física e cognitiva. Por fim, retomo à questão: pode-se definir performance?
Além do movimento dos corpos no espaço, há o movimento do espaço nos corpos.” Já dizia, Rudolf von Laban.
É muito mais que isso! Viver as circunstâncias dadas pelo meio social, onde resulta encontrar suas intercessões de sujeito proativo, via objeto artístico. Assim, o público reconhece nas performances – identidade artística de tal intérprete. E, não, meramente, algo de contemplação ou dentro de uma zona inativa.


Bem, a fim de, no final do Módulo-Curso Dança e Pensamento, de compor impressões minhas a cerca do fenômeno “performance”; transcrevo abaixo, a partir também, da escuta, adaptações e compreensão teórica e de escrita, depoimentos (citação oral) dos alunos cursistas, quando estimulados pela professora e atriz Eleonora Fabião, responderam o que poderia ser performance (uma definição).
Veja.

“Performance” é...


O espaço infinito é dotado de qualidade infinita.” (Giordano Bruno)

... um estalo.
“... uma verdade.”
“... uma inter(ação) -movimento.”

“... um cotidiano de vida.”
“... estar parado.”
“... hic et nunc (aqui agora)-questiona.”

“... organização.”
“... estética fora do palco.”
“... interação espacial e temporal.”
“Performance” é...
“... ato (ação).”
“... ato total- aqui e agora.”
“... um acontecimento- evento.”
“... um ator em desenvolvimento,(devir).”
“... um acontecimento que impressiona pelos órgãos da visão, (atrai o olhar).”
“... viva e dialógica.”


A performance is a flow, which has a rising and a falling curve.” (Peter Brook)
“... como contar/desvelar uma (es)história. (Minha presença.”
“... diálogo cênico. Algo latente. O quê pode se diferente, (pelo olhar do público e visão do artista.).”
“... um pensamento/sentimento/ corpo.”
“... um fenômeno biológico: nascer-viver-morrer.”

“... um momento inusitado!”
“Performance” é...“... uma ação; ser presente.”
“... ambiência de um ser íntegro e de presença constante.”
“... uma canção da presença – habitar – compartilhar e (con)viver juntos (estar presente).”
“... manifestação inesperada num contexto de linguagem quando tem corpo e o não-significar.”
“...interferência, mesmo que (i)móvel e /ou silenciosa.”
“... estado de espírito – Relação corporal
de outrora, espaço espiritual.”

“Performance” é...“... representação.”
“... uma palavra do fazer – performar.”
“... algo inaugural(out/in – fora do cotidiano.).”
“... o corpo como discurso – corpo vídeo e orgânico;(ser/biológico”

Conclusão do texto escrito acima, todas as citações vão ao encontro do pensamento confluente da Professora e atriz Eleonora Fabião, (mencionados, durante a 1 aula, em 06/07.):
A (in)definição da Performance é (in)dizível.”
No entanto, a performance procura estabelecer, como ressaltou, Fabião, um Programa com diálogos pertinentes e ideológicos; prazo de ação a longo e de curta duração(tempo). Também, percebo as experiencias múltiplas e de interfaces artísticas. Ela vai além da (in)finitude de corpos e da arte-vida, ou o contrário. Conoto uma ação em espaço transitório e de ideia de pertencimento ético.
Sigo agora, para uma breve discussão a cerca do Texto, de Regina Melim.
O Encontro com o Texto de Regina Melim: “Trajetória” - “No Brasil” - “Espaços de Performações.” (In: Performance nas artes visuais, (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.).
Gostaria de ressaltar, em seu texto, diz respeito somente a trajetória da performance em subtópico, intitulado, "No Brasil.

[Fotos / Copyright by Lúcio Leonn®] - proibida reprodução. Imagens captadas sem flash-fotocelular mega pixels: f=45mm1:2.6].2007.

É como o próprio texto nos informa que, o experimento performático deu-se no eixo artístico das artes plásticas (cultura visual). Vejamos:
No Brasil, traçar uma trajetória da performance nas artes visuais passa muitas vezes por delimitá-la no interior desse campo de resistência e sobrevivência, sobretudo nos anos 1960 e 1970.” (pp.21-22).
Então, avalio que, a performance nesse percurso agregava também, os elementos constitutivos da linguagem artística indicada, como: linha, forma e cor.
Tal pensamento meu, converge pelo fato do modelo padrão e vigente do que seria (o conceito de) Arte, na época. Ou melhor, hoje é falar de resquícios artísticos, do período greco-romano.
Posso contextualizar a Arte, de mobilização de ideias, artistas e grupos organizados em espaços – cada vez mais, emancipatórios.

Da arte, de artista, saiu da moldura paisagem (bidimensionalidade) para encontrar um outro sentido de fazer arte e do conhecer outra forma de objeto de arte em interferência com o Meio. E, como exemplo, um encontro talvez, da própria arte e de ser-artista junto ao seu público, em espaços alternativos e menos repressores (exposição / museus / quadros etc.), è a busca de liberdade estética. Logo, a Performance apresenta-se, livre de: captação e recep ção, feituras de tradição artísticas.

E, para finalizar essa atividade, a arte da performance encontra-se nas inquietações e gestos inusitados do artista. De sua visão de performar, além da linha do horizonte e do abismo social. Sua arte revela uma transgressão. Uma estética que sempre nos pergunta em respostas de nossa própria subjetividade; mas, o que é Performance, em ação?
Vide video também e leia outro texto sobre:


Performance: O quê move o corpo (?). 1, 2, 3... Série... (Síntese)


Performance : O quê move o corpo (?). 1, 2, 3...
Parte 1: Barbear_dor
Parte 2: Trans_maker

Parte 3: Privado_a.
***

Notas de Tradução livre,(Lúcio Leonn):


BROOK, Peter. “O espetáculo é um fluxo que tem uma curva ascendente e descendente.”

MILLE, Agnes de. "Viver é uma forma de não estar seguro, de não saber o que está próximo ou como. O momento que você sabe como, você começa a morrer um pouco. O artista nunca sabe perfeitamente, nós supomos. Podemos estar errados, mas nós ganhamos um salto após outro no escuro".

Fontes Consultadas
(citações corpo do Texto):
¹BOGART, Anne and Tina Landau. The Viewpoints Book: A Pratical Guide do Viewpoints and Composition. Theatre Communications Group. New York, NY.- 1st edition (November, 2005), 4th printing, November, 2007.

LIGNELLI, César. PACHECO, Sulian Vieira. Módulo 07: Laboratório de Teatro 1. Brasília: Athalaia-Gráfica e Editora. Universidade de Brasília (UnB). Curso de Licenciatura em Teatro. Instituto de Arte (IdA): 2009
Atividade de Conclusão-Módulo: Performance, ministrado pela atriz e professora Eleonora Fabião, de 06 a 11 de julho. Curso de Extensão Dança e Pensamento. Aluno Lúcio José de Azevêdo Lucena-Lúcio Leonn. Escola de Dança da Vila das Artes/Secultfor, parceria Universidade Federal do Ceará (UFC).
***
Figuras, como: Marina Abramovic: (http://www.youtube.com/watch?v=vDg_KWJh1g8), Sam Hsieh: (http://www.youtube.com/watch?v=1hcqweHEWec),


Sam Hsieh


Leia , também:

-Ensaio


Operador de radicalização
Experiência artística de grande vínculo com as estratégias de vida, a performance desafia conceitos enquanto se reinventa
Christine Greiner e Pablo Assumpção
especial para O POVO
02 Janeiro de 2010 - 13h56min
Em um sentido amplo, o que se chama de performance não é um fenômeno novo. A ação corporal é possivelmente uma das formas mais antigas de expressão humana. Mas quando ela surge como gênero artístico autônomo, principalmente no contexto das artes visuais no século XX, passa a introduzir algumas possibilidades de modelos formais e conceituais relativamente novos no que diz respeito à ontologia clássica da obra de arte. A ruptura mais radical dessa nova arte seria a ideia de ``ação`` como obra-em-si, ou seja, a efemeridade como um aspecto formal da obra de arte. Em decorrência dessa mudança, há transformações importantes relativas à noção de treinamento e aos procedimentos de criação. Treinar para uma performance é treinar para a vida; criar uma performance é criar uma estratégia de vida.

Mas quando a performance propõe que a materialização da obra se dá no desaparecimento da mesma, a sua importância se desdobra, uma vez que instaura questionamentos não apenas em relação à ontologia da arte, mas à ontologia em si & aquele braço da filosofia que se ocupa em definir ``o ser das coisas``. Ao evidenciar a temporalidade-desaparecimento da obra de arte, a performance opera uma espécie de cesura, ou choque, na própria subjetividade. Ao imitar a própria vida, em seu surgimento e desaparição, a performance organiza uma espécie de ensaio para a morte & das coisas, do espectador e dela mesma. O teatro e a dança moderna tentaram remediar este choque, respectivamente com a prática da repetição e com a referência ao texto inaugural & a peça ou coreografia escrita, fixada no papel. Já a arte de performance sempre rejeitou qualquer noção relacionada a um suposto texto inaugural ou ensaio de vocabulários de movimento, jogando-se no abismo do improviso e sem oferecer nada em troca, salvo uma experiência fugaz. Neste sentido, a performance sempre esteve conectada às discussões da chamada ``produção imaterial``, instaurando paradigmas de imunização contra ``resultados finais`` e ``produtos``.

Tradicionalmente acostumado a uma obra de arte mais ou menos perene, uma vez que ainda apresentava algum tipo de produto artístico a ser consumido, o espectador também foi mudado de lugar e obrigado a vislumbrar a sua própria efemeridade. Percebendo-se sem um ``objeto`` palpável capaz de reassegurar sua fantasia do ``ser`` como algo que ``é``, o sujeito realiza algo próximo à noção filosófica de ``vazio`` proposta por Heidegger: o ``ser`` não como algo que ``é``, mas como algo que se ``move`` o tempo todo. Tal é a potência de perplexidade da arte de performance. A teórica Peggy Phelan sugere que da ansiedade psíquica gerada nesse choque talvez tenha emergido grande parte do conservadorismo da crítica e da resistência à performance como linguagem artística legítima. Curiosamente, no Brasil, muitas vezes a performance foi descartada como ``vazia``.

Principalmente desde os anos 1950, portanto, a performance tem operado uma radicalização na arte e na vida. Propomos pensar a performance hoje como um operador de radicalização de modo a mudar o foco das discussões tradicionais: da preocupação em defini-la para a preocupação em mapear seus impactos e mediações. A velha questão ``o que é performance`` dá lugar à outra: ``o que pode a performance``? Tal deslocamento reflete uma postura crítica análoga à proposição de Jesus Martin-Barbero de que teorizar comunicação é teorizar mediações, e não mídias. Pensar ``mediação`` é sempre pensar o ``ser`` da comunicação como movimento.

Isso porque, tão logo a performance explodiu no campo das artes plásticas, ela passou a ativar mediações que extrapolaram o próprio campo das artes visuais. A ruptura engendrada pela noção de ``processo`` em detrimento de ``produto``; o jogo dramatúrgico perigoso que a performance propôs ao acolher o acaso como elemento formal da obra; a reconfiguração da noção de autoria, agora necessariamente incluindo o espectador e muitas vezes o próprio espaço onde a ação se dá; o borramento total entre arte e vida na prática de alguns artistas, que por sua vez propõe um borramento total entre subjetividade e objetividade, sujeito e objeto na obra de arte & assim como todas as operações formais e conceituais, intimamente ligadas à emergência da performance como gênero artístico, passaram a organizar outras formas de expressão artística, no campo do cinema, da dança, da literatura.

Como um operador de radicalização, a performance deixa de estar restrita às artes visuais e invade a vida e a sensibilidade da arte contemporânea em geral. Hoje, mais de 50 anos depois dos primeiros happenings de Allan Kaprow, a performance precisa ser adequadamente assegurada como um dispositivo crítico de leitura: da arte, da cultura, do poder, da política e da história.

Assim como todos os fenômenos que duram no tempo, a performance também entrou definitivamente para o vocabulário da cultura contemporânea e passou a sofrer de todas as patologias que envolvem este transporte do underground para a rede midiática. Performance virou moda e chavão. ``Todo mundo`` fala de performance ou faz performance. Tal ubiquidade traz consigo o esgarçamento da potência de radicalização que & possivelmente desde os ditirambos dionisíacos & anima o evento singular da performance em sua capacidade de choque celebratório.

Uma das estratégias de resistência a este esgarçamento é exatamente compreender a arte de performance como experiência historicamente significativa, em seu contexto específico, e daí mapear sua trajetória e migração para outros contextos (culturais, geográficos, políticos, artísticos) como dispositivo de leitura capaz de ativar mediações e sensibilidades. No caso de uma discussão mais aprofundada sobre performance no Ceará, isto significa um movimento em vórtex: desenvolver uma visão verdadeiramente crítica dos procedimentos de criação performativa que desde ``as antigas`` organiza as práticas culturais daqui; e ao mesmo tempo uma visão não-xenofóbica do modo como a arte contemporânea local se apropria dos procedimentos artísticos euro-americanos, canibalizando-os de modo a gerar maior autonomia local. O Ceará é um território privilegiado para o estudo da performance como operador de radicalização & seja na arte popular e no design vernalucar do sertanejo, no messianismo profetizado pela poesia oral e ordens religiosas não-oficiais, e também nas experiências urbanas de ruptura estética com esta mesma tradição popular que lê e representa o mundo a partir da ancestralidade.

>> CHRISTINE GREINER é teórica da dança e da cultura, curadora e professora dos departamentos de Comunicação e Semiótica e Comunicação e Artes do Corpo da PUC-SP.

>> PABLO ASSUMPÇÃO é artista de performance e pesquisador, doutorando em Estudos da Performance pela Universidade de Nova York (NYU).

Fonte: http://opovo.uol.com.br/opovo/vidaearte/941581.html

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Entrevista

Conceito e limite

Performance é um conceito difícil de definir. A professora e pesquisadora Ivani Santana, no entanto, aponta caminhos para se chegar a uma resposta. Ou várias
02 Janeiro de 2010 - 13h56min
A experiência através do corpo. Não seriam assim todas as experiências? A performance, um dos conceitos mais elásticos da arte contemporânea, chega a confundir o expectador por ser, justamente, uma forma ampla do fazer artístico e poético. O que seria performance? Para Wellington Jr, artista e professor do curso de Comunicação Social da UFC, a pergunta está deslocada: ``O problema não é mais conceituar a performance, mas conceituar corpo. O que é corpo?``. Para outros pesquisadores, como Pablo Assumpção e Christine Greiner, a questão seria: ``O que pode a performance?``.

Para Ivani Santana, professora da Universidade Federal da Bahia, coordenadora do grupo de pesquisa poética tecnológica na dança (www.poeticatecnologica.ufba.br), e do M.A.P.A. D2 (www.mapad2.ufba.br), essa pergunta é ainda importante. O que é performance? E a pergunta pode ter muitas respostas. Na entrevista a seguir, ela aponta caminhos. ``A performance, por princípio, é algo que trata do entorno do artista, das questões que o afetam (lembrando mais uma vez do manifesto e do ato artístico)``. (Júlia Lopes)

O POVO - Atualmente, se entende que a principal questão para a performance não é a sua conceituação, mas a formulação de outras perguntas & sobre e/ou a partir dela. Para você, qual poderia ser a pergunta inicial para quem quer se debruçar sobre a performance? Por quê?
Ivani Santana - Não concordo que a questão do conceito não seja mais a questão principal na concepção de uma performance. Bem como acredito que a questão do conceito é praticamente a base da arte contemporânea. A performance nasceu do manifesto, do ato, da ação artística, e hoje, na contemporaneidade, o conceito como estratégia para provocação, reflexão, questionamento, é, para mim, o ponto principal de estruturação de uma configuração artística.

OP - Como pesquisadora, muita produção deve chegar a você, ou você a ela. O que se pode dizer de um panorama nacional sobre a produção na área? O que tem mobilizado o brasileiro a fazer performance?
Ivani - Acredito que sejam vários os fatores. Entretanto, não vejo uma produção efetiva em todas as regiões do País. Carecemos, no Brasil, de festivais, pesquisa, bibliografia, produções e estudos específicos sobre esse campo.

OP - O que se pode dizer do nordestino? Há uma proximidade de proposições e perguntas?
Ivani - A performance, por princípio, é algo que trata do entorno do artista, das questões que o afetam (lembrando mais uma vez do manifesto e do ato artístico). Na verdade, qualquer arte acredito que seja assim, mas, no caso da performance a relação é mais acentuada, está em sua base.

OP - Continuando sobre as questões fundamentais sobre a performance, fica a dúvida de como situar a prática ao lado de conceitos como happening e intervenção. Quais são as fronteiras? Ou ainda: qual o peso dessas fronteiras?
Ivani - Não há essa separação entre conceito e prática, pois justamente a performance é esse conceito colocado na prática, por assim dizer. Happening é uma configuração artística datada. A intervenção não necessariamente é uma performance, mas carrega um aspecto performativo.

OP - Em suas pesquisas, tecnologia e dança são conceitos chaves. Como você entende o entrecruzamento entre os dois? Já li que você entende os dois como um terceiro elemento. Como é isso?
Ivani - A dança ganha novas (ou outras) possibilidades de configurações quando mediada pelas novas tecnologias. Na minha pesquisa, o que considero importante é compreender a tecnologia não apenas como o uso de dispositivos e artefatos tecnológicos, mas como uma outra forma de pensamento e organização. Sendo assim, é possível encontrar, por exemplo, um espetáculo de dança que não se utiliza de nenhum artefato tecnológico, mas que carrega os conceitos e fundamentação da Cultura Digital de forma mais efetiva do que uma obra que apresente a tecnologia apenas como uma ferramenta para produção de efeitos ou ilustrações.

OP - Como a tecnologia pode nos aproximar do corpo, ou auxiliar numa investigação sobre o corpo?
Ivani - Hoje, todo o conhecimento, cada vez mais amplo e abrangente sobre o corpo, é fornecido pelas novas possibilidades tecnológicas. A área médica é um exemplo fascinante: podemos conhecer partes do corpo graças aos inventos da Cultura Digital. Agora podemos explorar o corpo, realizar intrusões com o corpo vivo aproximando-nos cada vez mais de como existimos e do que somos. São essas informações, pesquisas, estudos que proporcionam o que hoje podemos compreender como corpo. Da engenharia genética às explorações imagéticas artísticas, passamos a compreender, refletir, questionar uma nova ideia de corpo, de indivíduo, de mundo e, ainda, a implicação entre esses.

OP - Vídeo, fotografia, projeções, tecnologia, enfim... A performance se liga a todos esses meios e não se prende a nenhum deles. Mas é possível performance sem corpo?
Ivani - Depende do que você compreende como corpo hoje! O corpo sintético, produzido (por simulação ou digitalização) também significa uma possibilidade de corpo contemporâneo. Na Cultura Digital não apenas a performance ganha novos entendimentos e configurações, o corpo também, assim como qualquer coisa do nosso mundo que pertence ao processo continuo da evolução, que não significa progresso, mas transformação.

OP - E sem expectador?
Ivani - Idem. Temos que repensar sobre esses conceitos ligados a uma sociedade do espetáculo não mais condizente com o mundo da cultura digital. Para fazermos nossas inferências sobre a atualidade devemos utilizar conceitos do mundo que vivemos. É preciso compreender nossa cultura atual e, então, rever quais as perguntas são pertinentes ao que vivemos hoje.

OP - Nas leituras que fiz, me pareceu que a performance também caminha na contramão da linearidade, da narrativa. Ela trabalha na direção dos múltiplos significados, no sentido hipertextual. Como a performance trabalha com isso?
Ivani - Na sua própria forma de concepção e estrutura. A performance já surgiu em um mundo que começava a compreender tempo e espaço de uma outra forma. Alcançamos hoje mudanças radicais em que presença e ausência, próximo e distante, local e global, interior e exterior, apenas para citar alguns binômios, são colocados em cheque com a existência da Internet. Linearidade já não é a única forma de compreender e tratar do mundo que vivemos. Como afirmado antes, a arte trata do mundo que a cerca.

E-Mais
É a partir da segunda metade do século passado que a performance começa a se desenvolver como gênero – muito embora alguns pesquisadores prefiram remeter as origens da performance nos movimentos de vanguarda (dadaísmo, surrealismo). Outros acreditam que ela é tão antiga quanto os rituais.