domingo, 22 de novembro de 2009

Performance : O quê move o corpo (?). 1, 2, 3...

parte 1: Barbear_dor
parte 2: Trans_maker
parte 3: Privado_a.

(Imagem acima, Lúcio Leonn - antes de gravação parte 1)
Trata-se de performance em série de três, com o intérprete-criador Lúcio Leonn. [série gravada em take 1 - sequência 1 (in); locação (noite): Kasa-Sede e gravação da parte 2: Trans_maker em Vila das Artes-Escola de Dança.]-

Nelas, não procuro indagar respostas. Configuro reflexo de ações com\sem uso de espelho (acentuado em parte 1 e toda obra) pela era de exibição em viver um reality show. Viso também, em outras partes (principalmente, em série 2 e 3) demonstrar possibilidades de sentidos corporais, de estranhamentos, de unir jogos de cenas pela arte de atuação_dança(-teatro)_vídeo_performance, ou de encontros fugazes, - cotidianos - captados da vida, pela Arte - em que se movem corpos de personagens livres, autômatos ou, privados de sentidos.

A música como sempre, se repete durante toda a obra, propositadamente... (Autoria de Divanir (
http://www.myspace.com/divaunicamp) - música dança contemporânea da série: paisagens rítmicas, de nº 2, intitulada “Arida”; acervo pessoal do intérprete.)


Parte 1: “Barbear_dor”, http://www.youtube.com/watch?v=y8bp4ghAqM0

E, as partes, Têm acordo firmado de contar somente com Um ajuste de ângulo de câmera fotográfica\digital (antes e,), em 3 dias de gravações interrompidas pelo fluxo de outros afazes do executante; embora em vídeo, durante a captação de imagens em demanda de movimentos do ator, devo atribuir elementos de surpresas; de improvisação; de corpos (em tempo\acaso) e de articulação da ideia esboçada em mente(espaço de criação e de conhecimento mobilizado); outrora, da continuidade lógica (ação de linha de movimentos em concepção narrativa de movimentos coerentes e estéticos), bem como, por objetos, figurinos, cenas pensadas e narradas.
Parte 2: "Trans_maker", http://www.youtube.com/watch?v=92ittxVsPYc


De também, causar estranhamento ao apreciador, por uso de assessórios (prótese, peruca, saco plástico etc.); asseguro como intérprete-criador, em querer marcar as cenas por um aspecto visual de humor e\ou de dramaticidade presente - em corpos firmados num tempo sutil, de minha biografia artística de intérprete profissional em interface de percursos entre a Dança e o Teatro ao longo (mais de 22 anos de carreira); de execução da ação esboçada em mente\corpo que, ao cessar a gravação e do corte de imagem, tudo se esvai.

Da parte 3, “Privado_a”, busco finalizar para reinserir em pensamento de imagens, as performances anteriores (1º dia: barbear_dor e 2º dia: trans_maker) que durante o 3º dia de gravação em espaço\tempo interrupto e de descontinuidade de sequências gravadas e contados por momentos alternados de tempo\espaço de movimentos e de dias, se fez presente em figurino manipulado e do uso de máscara, em espaço closet.


Em todas as séries, Não há prévios ensaios,  testes, de marcações de movimentos do corpo, via coreografias levantadas, de manipulação de cenários, de objetos etc... Outra, o resultado da obra, enquanto trabalho de apreciação e feitura entre o performer (fazedor) e do telespectador – voyeur, ao mesmo tempo\espaço se dar, pós-processo, em recursos de produção\captação; ou de recepção- ajustes de imagens no computador para locação (ora de edição, se caso, preciso fosse) junto à gravação final, em configuração para exposição, em tela espaço público virtual.

Por fim, espero demonstrar por ser o executante desta série, também sensações minhas; memórias,  ser e sentir-se movido pela ação do corpo (ação essa exibida e acentuada por minhas ideias em parte 2- quando abro os bastidores (revelo ações efêmeras) do mundo real\ de intérprete\ momentos antes, da gravação\do corpo movente - para o campo do virtual (vídeo) - contínuo\momento que, posterior, se revelará já gravado e consubstanciado em uníssono corpo da parte 2 em série.), ou de querer cumprir a tarefa em dias de acordo com (meu) prazo estabelecido e de etapa final. Ao mesmo instante sinalizo uma ação dentro da outra. Um cíclico de movimento e, do acaso.

E, segue, assim, como movem os corpos de certos transeuntes, dos tel_espectadores, de almas dóceis, gentis ou não, ou sujeitos viventes; todavia, que acionarem seus corpos, não somente à tela do computador, mas de sentirem impulsos, de expurgação de excrementos, de retenção de líquidos,  obrigação de se fazerem presentes (visual) ou, (virtualmente em comunidades navegáveis) para o outro e para si mesmo; até de se tornar "ridículo" diante da vida, sem saber; mas sendo;  acionar reais desejos de viver (só)cial-(corpo)-mente. De demandas que indagam o CORPO, o porquê disso, ou não, daquilo.


Finalmente, há sempre no ar (corpos) de eternos movimentos pulsantes; de re_fluxo contínuo em ambiência de territorialidade. E, para onde move o corpo? Trata-se de outra questão em ordem de série eloquente.


Ficha Técnica Concepção­­_atuação_ produção_figurino_ maquilagem_condução de cenas em edição de imagens por lúcio leonn. Gravado em câmera digital Kodac - dias 19, 20 e 21 de novembro de 2009 Som direto música autoria de Divanir – música dança contemporânea: paisagens rítmicas, nº 2, intitulada, “Arida”. Compact Disc Digital Audio. Acervo pessoal do intérprete.Informações

divanir@iar.unicamp.br
"O ritmo pode instigar e articular o fluxo dos movimentos"(Nietzche). Escrito em capa de seu CD. Locação (In)-(Noites) Kasa-sede e Escola de DançaVila das Artes Operador de edição em imagens computacional (parte 1 e 2): Benjamim. Locação em Youtube: Godyan Wesley de Azevêdo Lucena Produção Kasa-Sede de Teatro & Performances Artísticas Realização Cia. Mono-teatral Agradecimentos\apoio espaço físico (parte 2): Vila das Artes \Escola de Dança
Links (you tube) acesso
Performance: O quê move o corpo (?). 1, 2, 3...
Parte 1: Barbear_dor ; parte 2: Trans_maker; parte 3: Privado_a.
­_O quê move o corpo(?). 1, 2, 3...

*O quê move o corpo(?).

Parte 1: “Barbear_dor”, http://www.youtube.com/watch?v=y8bp4ghAqM0

*O quê move o corpo(?).

Parte 2: "Trans_maker", http://www.youtube.com/watch?v=92ittxVsPYc

*O quê move o corpo(?).

Parte 3: "Privado_a", http://www.youtube.com/watch?v=FwEYdNL0pgY


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Extras:
1.Lúcio Leonn Canta, ' O Corcunda de Notre Dame ' http://www.youtube.com/watch?v=JPpUaxzoCmo

2.Vide de também: Performance - A pergunta nos foi lançada: o que pode nos mover e mover a performance? Atividade minha de Conclusão-Módulo: Performance, ministrado pela atriz e professora Eleonora Fabião, de 06 a 11 de julho. Curso de Extensão Dança e Pensamento. Universidade Federal do Ceará(UFC) e Vila das Artes. Aluno Lúcio José de Azevêdo Lucena-Lúcio Leonn.
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Artigo
Imagem e signo
O artista contemporâneo mineiro Marco Paulo Rolla reflete sobre os conceitos e signos por trás da performance enquanto manifestação cultural e artística
Marco Paulo Rolla
especial para O POVO
02 Jan 2010 - 13h56min
Vamos começar a pensar a performance por vias de um desvio de entrada. A pergunta pela qual nos guiaremos será: que imagem constrói uma performance?

Ao invés de perguntar-se pelo significar, em primeiro plano, tentaremos perceber a imagem formada e daí os signos de uma constelação cognitiva. E estas cognições veem recheadas de sentidos, tanto no sentido do sensível quanto no sentido direcional de apontamento. Uma cognição mista entre a razão e a emoção.

O signo proclama o enigma como sua fonte vital, na arte é do enigma que se extraem as perguntas, o desejo de se relacionar com o objeto. O enigma doa à estética formal sua energia expandida. Sem este dado o objeto artístico se tornaria opaco, impermeável, sem a menor possibilidade de reflexão no outro, perdendo assim o sentido do humano.

Construir a imagem é uma estratégia artística para trazer, à partir dos limites do corpo e da mente, uma superfície que eleva este corpo presente à dimensões imateriais da inteligência.

Signo: Qualquer objeto ou acontecimento, usado como menção de outro objeto ou acontecimento. Esta definição, geralmente empregada ou pressuposta na tradição filosófica antiga e recente, é generalíssima e permite compreender na noção de signo qualquer possibilidade de referência: por exemplo, do efeito à causa ou vice-versa; da condição ao condicionado ou vice-versa; do estímulo de uma lembrança à própria lembrança; da palavra a seu significado; do gesto indicado (por exemplo, um braço estendido) à coisa indicada; do indício ou do sintoma de uma situação à própria situação, etc.

Todas estas relações podem ser compreendidas pela noção de signo. No entanto, em sentido próprio e restrito, essa noção deve ser entendida como a possibilidade de referência de um objeto ou acontecimento presente a um objeto ou acontecimento não-presente, ou cuja presença ou não-presença é indiferença. Nesse sentido mais restrito, a possibilidade de uso dos signos ou semiose é a característica fundamental do comportamento humano, porque permite a utilização do passado (o que ``não está mais presente``) para a previsão e o planejamento do futuro (o que ``ainda não está mais presente``). Nesse sentido, pode-se dizer que o homem é, por excelência, um animal simbólico, e que nesse seu caráter se radica a possibilidade de descoberta e de uso das técnicas em que consiste propriamente sua razão.

A ideia de signo vem de encontro às características primordiais da performance, como a expansão de sentidos através do enigma ou a capacidade de absorver qualquer meio expressivo humano como parte de seu repertório, se mantendo sempre experimental e readaptável às realidades múltiplas do mundo.

O signo é uma linguagem da imagem construída através dos tempos, até mesmo antes da ideia de uma história da arte. É ele quem dá força simbólica e cognitiva à presença do corpo. É através dele que se produz as múltiplas reflexões, de cada testemunha da ação, reformuladas no cardápio cultural introjetado em cada indivíduo ali presente. O ato da performance, assim como o objeto de arte, só se torna efetivo na multiplicidade da presença humana, e sobre a superfície de um espaço específico.

Os estóicos formularam uma doutrina, hoje ainda válida, onde pregam que o signo é ``aquilo que parece revelar alguma coisa`` e que os movimentos do corpo são o signo da alma. Assim pode-se dizer que a partir deste conhecimento ou sensibilidade a performance constrói, através da presença do corpo, um elo entre as pessoas que presenciam o ato. Um elo cognitivo, pois é o corpo carnal que conduz o elo sensorial, da referência do corpo do outro em seu próprio corpo.

É como se o signo e o corpo funcionassem como fluidos que produzem a eletricidade para a ligação entre pensar e mover. O corpo tem as dimensões do pensar e do mover como a única possibilidade de realização, ou compreensão, de nossa realidade. Sendo assim desenvolve sua presença motora como ponte para sua presença metafísica e espiritual.

Não é de hoje que a filosofia reconhece e pratica o movimento como força de estímulo da inteligência humana. Nas doutrinas desenvolvidas por Aristóteles, a Peripatética consiste em ensinar filosofia ao caminhar. Praticando assim sua doutrina do movimento, como passagem da potência ao ato. Desta forma atribue ao corpo motor o poder de relação com uma energia imaterial.

O corpo presente em uma performance trabalha a contradição dos conceitos e éticas sociais com as possibilidades de sua transcendência existencial. Um corpo que ao mesmo tempo é presença crua e imagem onírica, realidade e símbolo.

Despojado e muitas vezes se afastando da noção do real, o corpo performático presencia a realidade sobre uma superfície própria, referencial. Assim cria um espelhamento em quem presencia o momento vivido no tempo performático. Espectador e performer compartilham a dúvida e a certeza do presente.

Cabe ao signo, através da visão, codificar a imagem e ativar no cérebro as dimensões culturais e psíquicas na compreensão da performance. Assim torna-se fundamental reconhecer sua presença potencializando contextos e diálogos, na arte, para refletir o cotidiano.

A permissividade constituída pelo enigma do signo vai nos trazer um campo extenso de viabilidade entre o sentir e o entender. Para que o sentir, tão proclamado como o principal sentido da arte na vida, esteja desde já entendido como uma forma de compreensão.

>> MARCO PAULO ROLLA é artista plástico, performer e coordenador do Ceia & Centro de Experimentação e Informação de Arte, Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi residente na Rijksakademie Van Beeldende Kunsten de Amsterdam em 1998-99. Vive e trabalha em Belo Horizonte, Brasil.