terça-feira, 9 de junho de 2009

“Ah!”, é um espetáculo interjetivo da Companhia, que pelo nome, leva o Barulho.

[PONTO DE VISTA, POR *LÚCIO LEONN]

O mais recente espetáculo apresentado no projeto Quinta com Dança, em cartaz no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, durante o mês de junho, traz a marca maior da amizade e de concepção entre os participantes da Cia. do Barulho.


Ah!”, é um espetáculo interjetivo da Companhia, que pelo nome, leva o Barulho. “A” de Aspásia e “H” de Heber. Vocaliza-se, em: “AH!” O primeiro: Estares, um solo de Heber Stalin e o segundo: Amphi (entorno de.), duo com Aspásia Mariana e Roberta Bernardo.

“Estares” (imagens, abaixo), se revela uma potência, que produz um efeito em silêncio e tempo de sutileza poética. E, o que poderíamos denotar logo como prólogo de cena? É um corpo em querer ficar “parado” mas ao mesmo tempo, perpassar entre nossos olhos de ouvintes, percursos internalizados por rapidez, nervuras e músculos. Há no centro do trabalho, espaços em ocupação e exploração de sentidos. Exploração de entradas e saídas de cenas ou, da própria vida/arte enquanto retermos ar nos pulmões. De ações de movimentos do intérprete/personagem em diálogo cênico com o expectador, pode suscitar em nós um tempo breve do querer Ser e do estar Sendo. Espaço atemporal de movimentos, templo da vida, do pulsar da arte.

O solo prossegue em diferentes situações: no plano e níveis da “restrição” de movimentos pelo intérprete, de não “poder sapatear” de verdade. Do espaço cênico/iluminação em foco e de cena aberta, a partir da procura do intérprete em fisicalizar um corpo que ocupa espaço sob à luz do refletor; do humor e imagem cinematográfica de Chaplin, conduzida em projeção. (Momentos eternizados em nós pela iconografia em obra apreciada). Ou, de movimentos incessantes realizados por Stalin, em busca de pertencer o mundo habitável e inabitável de diferentes lugares, dentro, ou fora.
"O solo prossegue em diferentes situações: no plano e níveis da “restrição” de movimentos pelo intérprete, de não “poder sapatear” de verdade".


Por outro lado, o figurino do intérprete, poderia ser mais bem pensado e executado no que diz respeito, sair do modelo padrão de vestimento masculino de certos espetáculos de dança, apresentados na cidade. Fica a cargo da pesquisa do coreógrafo, do intérprete ou do encenador teatral a concepção estética do figurino? Logo, de uns tempos para cá, sem aqui querer ser moralista, caracterizou-se entre os jovens intérpretes, bailarinos iniciantes: o culto ao ego, em querer mostrar o corpo em cena, e não o figurino reconhecido como parte atuante, de ideologia, na obra artística. Mas sim, esbanjando sensualidade pessoal e de insinuações de gênero sexual. Não é o caso de, Stalin. Falo, brevemente, de postura política e não, do corpo em cena. É um outro devir a favor do pensamento da formação profissional e da proposta cênica encaminhada ou, mesmo de poder estar em dança, pelo ofício e alma de artista. O querer ser e estar sendo com atitudes e com respeito, caminham juntos. E, o corpo, a dança e ser ético na vida e na arte, também.


Continuando, em “Amphi”, duo com Aspásia Mariana (acima) e Roberta Bernardo (imagem final), o espaço de moderação da dança segue a princípio, com indução na platéia (imagem, abaixo), a facilitar e interagir com um jogo dramático e a fé cênica a ser guiada; ação realizada por palavras de ordens projetadas na tela. Nos causa uma vibração e estranhamento ao mesmo tempo. É preciso se relacionar com as pessoas não somente ao seu lado. É, se dispor. Entra em cena um corpo sociável e de correlação, com: a cidade, as coisas, o dia/noite, os sons, as pessoas, em torno de si mesmo e do todo.

Por fim, exibido dois instantes de dança em único espetáculo, ambos sob direção de Aspásia Mariana; de antemão, permanece para o público, características distintas de interpretação e a perceber quando os corpos, tais ideias de movimentos e de cenas, ainda em espaços e de presenças dos intérpretes, configuram dois dançares. No primeiro, não se sapateia, mas prolifera-se atmosfera. Uma “Ode ao Sapateado”, assim, poderíamos descrever - (singularidade principal hoje, dos intérpretes da Cia. do Barulho, principalmente, apresentado e evidenciado no momento solo de, Heber Stalin). O segundo instante, se conota um frisson urbano de um corpo empírico e cicatrizado por suas raízes de pertencimento, ou sempre um corpo a procura de habitar, entorno de, espaços, tempos, palavras e verbos – às vezes, perigos em cidades grandes, que nos faz reagirmos e coagirmos com o corpo e o outro, ao léu.


Serviço: Quinta com Dança, em cartaz no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura durante o mês de junho: “Ah!”, espetáculo da Companhia do Barulho. Com dois momentos. O primeiro: Estares, um solo de Heber Stalin e o segundo: Amphi, com Aspásia Mariana e Roberta Bernardo. Quintas. Dias 4,18 e 25 de junho. (Excepcionalmente, será apresentado, Sexta-feira, dia 25 de junho). Sempre às 20 horas.
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*Lúcio José de Azevêdo Lucena-Lúcio Leonn, é artista-educador com especialização em Arte e Educação. Artista premiado nas principais capitais brasileiras. Formado em Arte Dramática pela Universidade Federal do Ceará/UFC(1991-1994), Cursou Colégio de Direção Teatral(1ª turma), pelo Instituto Dragão do Mar(1996-1999). Teatro com Aderbal Freire-Filho, Paulo Autran, Ewerton de Castro, outros. Além de, Georges Bigot e Maurice Durozier do Théâtre du Soleil e, Ballet Clássico Acadêmico-Escola de Ballet Clássico Hugo Bianchi (1989-1999). Estudou Dança, com o coreógrafo Zednek Hampl, Gilano Andrade, Olga de Graaf, Linhares JR e Eugene Barnaart, Augusto Pereira da Rocha, Deborah Colker etc. Estuda atualmente, nível Licenciatura Teatro, na Universidade Nacional de Brasília-UnB/Instituto de Arte-IdA, desde 2008.1
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Atividade da primeira turma do Curso de Extensão “Dança e Pensamento”- Módulo Critica em Dança, ministrado por Rosa Primo- Secultfor/Vila das Artes- parceria com a Universidade Federal do Ceará-UFC.